4 de novembro de 2019

Uma época em que tudo falhou

(Fotografia: Facebook Team Dimension Data for Qhubeka)
A temporada da Dimension Data é medida por todos os objectivos que não foram alcançados. E tirando a vitória no Critérium du Dauphiné, nenhum foi concretizado. Poucas vitórias (sete) e apenas uma no World Tour. Falhou em todas as frentes: clássicas, sprints, gerais. Não conseguiu recuperar ciclistas como Louis Meintjes e Ben O'Connor, já para não falar de Mark Cavendish. Os ciclistas mais experientes não foram desta feita garantia de algum sucesso e os mais novos não conseguiram singrar. A única ideia que fica de 2019 é que é urgente reformular uma equipa que até está habituada a terminar mal colocada no ranking, mas ainda assim costuma ter alguma história positiva para contar. Este ano apenas ficou confirmado a necessidade de reformulação, que já em 2018 tinha ficado claro ser urgente arrancar.

Também não ajudou que reforços como Michael Valgren ou Giacomo Nizzolo não tenham rendido o esperado. O italiano ainda deu três vitórias à equipa (uma etapa na Eslovénia, Burgos e outra em Omã), mas é um sprinter que há algum tempo demonstra não ter capacidade para disputar triunfos com os principais nomes da especialidade. Ainda assim surgiu na luta em certas corridas e o mesmo não se pode dizer de Valgren. O dinamarquês eclipsou-se nesta mudança para a Dimension Data, depois de uma temporada fenomenal na Astana. Em 2018 conquistou a Omloop Het Nieuwsblad e Amstel Gold Race. Em 2019, quase deu para esquecer que estava a competir.

Há um ano, Ben King salvou um pouco a honra da equipa sul-africana ao conquistar duas etapas na Vuelta, mas nem o americano, nem Steve Cummings, muito menos Mark Cavendish conseguiram uma grande vitória, ainda que Edvald Boasson Hagen tenha o mérito de ter ganho no Critérium du Dauphiné, a única conquista World Tour de 2019 para a Dimension Data. E ainda andou um dia de camisola amarela.
Ranking: 22º (4357,35 pontos)
Vitórias: 7 (incluindo uma etapa no Critérium du Dauphiné - houve ainda mais duas conquistas de Ryan Gibbons no contra-relógio dos Jogos Africanos e de Stefan de Bod no contra-relógio dos Campeonatos Continentais Africanos, ao serviço da selecção sul-africana)
Ciclistas com mais triunfos: Edvald Boasson Hagen e Giacomo Nizzolo (3)
Depois houve Louis Meintjes. Ou melhor, não houve. Nesta sua segunda temporada após o regresso "a casa", depois de ter representado a Lampre-Merida/UAE Team Emirates, o sul-africano foi novamente uma sombra do senhor regularidade de outras temporadas, em que terminar no top dez em grandes voltas ou noutras corridas importantes era algo normal. Para quem quer ganhar a Volta a França, Meintjes tem um longo caminho a percorrer, começando por recuperar a forma de outros anos. Porém, as fracas prestações, tendo em conta a aposta feita no ciclista, pesam muito numa equipa que tanto precisa deste corredor. Tem apenas 27 anos, pelo que ainda vai muito a tempo de mostrar o seu melhor. E a Dimension Data bem precisa.

Quanto a Mark Cavendish, os problemas de saúde marcaram novamente a temporada do britânico que, ainda assim, ambicionou estar no Tour, preparou-se para tal, mas ficou de fora das opções por decisão de um dos directores. Não terá sido consensual, contudo, desde logo ficou a impressão que a relação que começou tão bem entre Cavendish e Dimension Data em 2016, estava a chegar ao fim. Há um ano, o sprinter viu o seu contrato ser renovado, muito devido precisamente ao respeito e agradecimento por Cavendish ser o autor de alguns dos maiores sucessos desta equipa, desde que chegou ao World Tour. Agora é altura de seguirem caminhos diferentes. Cavendish vai para a Bahrain-Merida. A Dimension Data ainda está à procura de um rumo que a leve a melhores dias.

Para 2019 houve uma mudança na aposta de ciclistas, diminuindo a presença de sul-africanos para dar mais espaço a corredores com outra experiência e que pudessem dar resultados mais no imediato à equipa. As contratações não resultaram. Para 2020, a equipa mudará de nome para NTT e a saída de Cavendish acaba por libertar mais orçamento, dado o elevado salário do ciclista (que ainda assim terá sido reduzido para 2019). Contratou um sprinter que esta temporada mostrou mais o seu potencial: o alemão Max Walscheid (Sunweb). O maior investimento foi em Victor Campenaerts. Chegou a ser dado quase como certo na Ineos, mas o belga deixou a Lotto Soudal para ter um papel de maior destaque na NTT, que ganha um dos especialistas no contra-relógio e o recordista da hora.

Carlos Barbero (Movistar) e Michael Gogl (Trek-Segafredo) vão trazer experiência, para contrastar com as chegadas dos jovens Samuele Battistella (Dimension Data for Qhubeka), Samuele Battistella (Riwal Readynez), Matteo Sobrero (Dimension Data for Qhubeka) e Dylan Sunderland (Team BridgeLane).

Apesar do sonho de levar um sul-africano ao pódio da Volta a França, ou de outra grande volta, a Dimension Data/NTT não tem planos como outras equipas de se transformar numa potência do ciclismo. Quer manter alguma ligação às origens, ainda que perceba que para triunfar no World Tour tem de ir mais além nos ciclistas que escolhe. Falta acertar nas contratações. Desportivamente, 2020 será um ano importante. Mais e melhores resultados são necessários.

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