13 de novembro de 2019

Poulidor, o eterno campeão dos franceses que nunca vestiu a camisola amarela

(Fotografia: © GaHetNa - Nationaal Archief NL/Wikimedia Commons)
"Era mais do que o eterno segundo. Era um grande homem, um grande campeão, muito querido pelos francesas. A sua simplicidade, a amabilidade com que contactava com o público não eram qualidades fabricadas, simplesmente era Raymond" As palavras são de Eddy Merckx, um dos responsáveis para que Raymond Poulidor seja conhecido como o "eterno segundo". O ciclismo perdeu esta quarta-feira uma das suas grandes figuras, um corredor que pode ter ficado conhecido por ter ficado tantas vezes tão perto de ganhar Tour, sem o conseguir fazer, mas que a maioria dos que com ele competiram não hesitam em chamá-lo de campeão.

Poulidor marcou as décadas de 60 e 70, que tiveram Jacques Anquetil e Eddy Merckx como os principais nomes a vencer a Volta a França, enquanto Poulidor era presença assídua no pódio, sem conseguir chegar àquele lugar mais alto. No entanto, Poulidor alcançou o seu espaço na história, sem esquecer a rivalidade gaulesa que teve com Anquetil. Foi três vezes segundo e cinco terceiro, além de ter ganho sete etapas, incluindo no mítico Mont Ventoux. A sua forma de ser, de se relacionar com o público tornou-no num vencedor aos olhos dos franceses. Era adorado pelos adeptos e carinhosamente tratado por Poupou. A expressão do presidente de França Emmanuel Macron é perfeita: "[Será] para sempre o camisola amarela nos corações dos franceses."

Na grande corrida do ciclismo, Poulidor nunca vestiu essa camisola amarela. Até parece inacreditável! Em 1968 estava bem encaminhado, conseguindo escapar à concorrência numa etapa em que estava a ganhar uma boa vantagem. Um incidente com uma moto resultou no seu abandono, devido a ferimentos na cabeça.

Poucos são os ciclistas que não venceram o Tour que, no entanto, marcaram tão profundamente uma era da corrida e do ciclismo. Foram 14 participações em 18 anos de carreira. Faltou-lhe aquela vitória, mas este "eterno segundo" tem um currículo que reflecte a sua qualidade como ciclista. Venceu duas vezes o Critérium du Dauphiné (1966 e 1969) e outras tantas o Paris-Nice (1972 e 1973). Também tem o seu monumento: a Milano-Sanremo, em 1961. Nas principais clássicas venceu ainda a Flèche Wallonne (1963).

Outra camisola que não conseguiu vestir com a do arco-íris. Em 1974, em Montréal (Canadá), Eddy Merckx tirou novamente a Poulidor a possibilidade de uma grande vitória. Foi ainda terceiro nos Mundiais em 1961, 1964 e 1965. O que conseguiu alcançar foi a conquista de uma grande volta. Teve de ir até à Vuelta para subir ao primeiro lugar do pódio em 1964, deixando atrás de si a armada espanhola.

Os anos passaram, a carreira de ciclista ficou para trás, mas Poupou continuou a ser uma figura incontornável da Volta a França, marcando presença nos bastidores. Era o embaixador do Crédit Lyonnais, patrocinador da camisola amarela que nunca vestiu.





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Este ano, muito se voltou a falar de Poulidor, mas porque o seu neto se tornou na mais recente estrela do ciclismo mundial. Era um avô orgulhoso tanto de Mathieu como de David van der Poel. A sua filha mais nova casou com o ciclista holandês Adri van der Poel e 2019 foi o ano da "explosão" de Mathieu na estrada, depois de ser um dominador no ciclocrosse. Poulidor acompanhou de perto as grandes exibições do seu neto, um ciclista muito diferente do que era o francês e que mostra mais tendência para ser muitas vezes primeiro. No Instagram (em cima) Van der Poel partilhou uma fotografia com o avô e escreveu: "Sempre tão orgulhoso."

Poulidor estava internado desde Outubro e as notícias do seu estado de saúde nunca foram animadoras. Poupou morreu aos 83 anos.

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