10 de novembro de 2019

AG2R a precisar de alagar horizontes além do Tour

(Fotografia: Facebook AG2R La Mondiale)
Quando tanto se aposta na época na exibição de um ciclista na Volta a França, há sempre um enorme risco de terminar a temporada com uma desilusão. Assim foi para a AG2R, que está a ver Romain Bardet a fraquejar mais a cada ano que passa, em vez de se afirmar de vez como candidato à vitória no Tour, depois de já ter feito pódio. É esse o objectivo - colocar um francês como vencedor do Tour - em que esta equipa está focada, com tudo o resto a ser visto um pouco como secundário, excepção feita para as provas francesas, que vai disputando e até ganhando, mas são corridas de categorias inferiores. São triunfos que agradam ao patrocinador, mas não compensam o falhanço total de Romain Bardet, cuja conquista da camisola da montanha pouco atenuou não ter lutado pela amarela.

Não foi o único ciclista da AG2R a ficar aquém em 2019, mas sendo ele a figura principal e que em torno se planeia a época, Bardet acaba por ficar muito exposto às críticas e o francês começa a sentir cada vez mais essa pressão da desilusão. Terá inclusivamente pensado em colocar um ponto final na carreira ainda antes dos 30 anos. Bardet vai continuar, mas poderá mudar o planeamento da temporada. Em 2019 chegou a falar da possibilidade de ir ao Giro, mas rapidamente a AG2R anunciou que seria o Tour a corrida que iria concentrar-se, como sempre. O problema deste ciclista tem sido muito o contra-relógio, mas pelo segundo ano consecutivo também claudicou na montanha.

Valeu a atitude de não abandonar e umas prestações mais interessantes na recta final do Tour, garantiram a Bardet a camisola da montanha. Por norma é uma conquista muito importante, mas no caso deste francês e da AG2R, soube a pouco e nem foi vista como uma boa compensação para o Tour falhado de Bardet. É um ciclista a precisar de recuperar mentalmente e de novos objectivos, além do Tour. É por isso que desta feita se fale mais seriamente em ir ao Giro em 2020. Fez bem ao compatriota Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) quando não apostou tudo na Volta a França, talvez faça igualmente bem a Romain Bardet.
Ranking: 14º (6718,4 pontos) 
Vitórias: 14 (incluindo uma etapa na Volta a Itália) 
Ciclista com mais triunfos: Benoit Cosnefroy (5)
Mas a AG2R não ficou apenas desiludida com Bardet. Pierre Latour não continuou a afirmação de 2018, quando venceu a classificação da juventude no Tour. Este ano chegou mesmo a ser excluído da equipa perto do início da Volta a França. Latour "acordou" e começou a melhorar resultados. Até teve liberdade para a Vuelta. Faltou consistência nas exibições na grande volta, mas as boas prestações nas clássicas italianas de final de temporada - foi nono na Lombardia, por exemplo - deixaram indicações que talvez o ciclista esteja a preparar-se para estar muito melhor em 2020. E a AG2R bem agradece, para assim poder ter mais uma arma além de Bardet.

Oliver Naesen, esse sim, recuperou o nível de 2017 nas clássicas, mas faltou a vitória nas corridas de um dia. Foi segundo na Milano-Sanremo e terceiro na Gent-Wevelgem e houve mais top dez. Já a transformação de Tony Gallopin num voltista talvez não seja o melhor dos planos. O francês tinha deixado indicações interessantes há um ano, mas não confirmou essa evolução.

E depois houve Geoffrey Bouchard. Se no Tour a camisola da montanha soube a pouco, na Vuelta soube a muito. Este é um ciclista que até meio de 2018 competia como amador. Estagiou na AG2R e um ano depois foi à Vuelta surpreender todos. Aos 27 anos mostrou ser uma aposta tardia, mas que ainda poderá render bons resultados à equipa, ou tornar-se num gregário importante para Bardet e/ou Latour.

Nans Peters (25) continua a sua afirmação e nada melhor do que ganhar uma etapa no Giro, uma das duas conquistas World Tour da AG2R, com Naesen a vencer uma tirada na Binck Bank Tour. Alexis Vuillermoz, Benoit Cosnefroy, Alexis Gougeard, Alexandre Geniez, Dorian Godon todos contribuíram com vitórias para as 14 de 2019, mas foram muito de "consumo interno" nesse aspecto. São ciclistas de qualidade, fiáveis, ganham e ajudam a ganhar, mas a esta AG2R falta ter um líder que cumpra com as elevadas expectativas.

Na formação francesa a continuidade é importante, pelo que é uma equipa que nunca mexe muita na sua espinha dorsal. Para 2020 vai reforçar o bloco de clássicas com dois ciclistas. Chegará o irmão de Oliver Naesen, Lawrence, da Lotto Soudal, e Andrea Vendrame, da Androni Giocattoli-Sidermec. A equipa dá assim sinais que talvez seja altura de explorar mais a capacidade e qualidade de Naesen, dando-lhe mais apoio e assim conquistar ter mais possibilidade para alcançar mais vitórias importantes, não olhando apenas para Bardet e para o Tour. Oliver Naesen merece essa confiança.

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