11 de novembro de 2019

Temporada interessante de uma Bahrain-Merida a olhar para o pós-Nibali

(Fotografia: © Bettiniphoto/Bahrain-Merida)
A Bahrain-Merida está numa fase de mudança. Vai deixar de ser a equipa que Vincenzo Nibali tanta influência teve em escolher os ciclistas quando o projecto arrancou em 2017, para tentar dar um passo de qualidade, tornando-se mais forte e menos dependente do italiano. O primeiro passo até era suposto ter sido dado já em 2019, ainda com Nibali na equipa - está de saída para a Trek-Segafredo -, mas acabou com o misterioso abandono de Rohan Dennis na Volta a França, na véspera do contra-relógio que se esperava poder vencer. O australiano viu o seu contrato ser terminado após o incidente e a Bahrain-Merida em vez de esperar para ver se este ciclista se tornaria de facto num voltista (que está a demorar aparecer), vai preferir esperar para ver o melhor de Mikel Landa. Se algo positivo ficou deste ano é que Dylan Teuns foi uma excelente contratação, que Iván García Cortina está a evoluir cada vez melhor, principalmente nas clássicas e Sonny Colbrelli precisa de mais companhia no sprint.

Começando por Teuns, este belga foi uma das figuras da Vuelta, andando um dia de vermelho, isto depois de ter inscrito o seu nome numa das subidas que vai ganhando cada vez mais nome no Tour: venceu a etapa na La Planche de Belles Filles. Tal como Dennis veio da BMC, mas Teuns está de facto a comprovar o potencial para as provas de três semanas e também de uma semana. Quanto a Cortina, 2019 foi o ano em que mostrou que pode ser a aposta principal para as clássicas da Primavera e vai ser um dos ciclistas a acompanhar de perto na próxima temporada. E dêem-lhe liberdade em certas etapas nas grandes voltas e o resultado poderá ser muito animador.

Já Colbrelli apareceu muito na luta nos sprints. Qualidade não lhe falta, mas falta não se ficar pelo "quase que ganha" nas principais corridas, ainda que tenha somado três vitórias: etapa na Volta a Omã, outra na Volta à Alemanha e o Grande Prémio Bruno Beghelli. É preciso mais ajuda, ainda que o italiano vá ter é mais concorrência. Mark Cavendish está a caminho e não será nenhum lançador. Também chegará Marco Haller da Katusha-Alpecin, que irá direitinho para o comboio do britânico. Vida mais difícil para Colbrelli, mas que até o poderá ajudar a ultrapassar o tal "quase". Boas vitórias, irão dar-lhe novamente o estatuto de principal sprinter, se Cavendish não recuperar a sua melhor versão.
Ranking: 13º (7200,72 pontos) 
Vitórias: 16 (incluindo duas etapas na Volta a França) 
Ciclista com mais triunfos: Sonny Colbrelli (3)
Hermann Pernsteiner tornou-se na maior curiosidade. Este austríaco foi a surpresa na Volta a Espanha. Fez top 15 e as suas exibições foram muito interessantes, mas com a chegada de Mikel Landa (Movistar), não será de surpreender que seja uma escolha (e boa) para ajudar o espanhol, que terá ainda Wout Poels (Ineos) a seu lado. Pello Bilbao (Astana) e Eros Capecchi (Deceuninck-QuickStep) são outros reforços muito interessantes para este bloco para as provas por etapas.

A Bahrain-Merida teve uma temporada consistente - mesmo com o desentendimento de Rohan Dennis, que não estaria satisfeito com a bicicleta de contra-relógio - sem que fosse segredo que durante muitos meses os responsáveis já estavam a preparar o 2020 pós-Nibali, com uma das principais contratações a ser o director de performance da Ineos, Rod Ellingworth. Matej Mohoric, Mark Padun e Luka Pibernik, por exemplo, mostraram esta temporada que podem ter lugar numa estrutura que quer crescer mais rapidamente e que quer tornar-se numa forte candidata principalmente nas grandes voltas, ainda que Nibali nesse aspecto já tenha dado pódios e vitórias de etapas, despedindo-se com uma na Volta a França, naquele estilo que tanto caracteriza este ciclista. Um ataque no momento certo e ninguém o apanha. Nibali podia estar de saída da equipa, mas foi profissional até ao fim.

2019 não foi o mais feliz dos anos do italiano na equipa do Médio Oriente, mas nos anos anteriores ainda deu dois monumentos, pelo que o legado que deixa é de respeito. Porém, a equipa segue agora o rumo que coloca Landa no caminho de ganhar o que mais se quer: uma grande volta. A Bahrain-Merida não tem um plantel como a Ineos ou a Jumbo-Visma, mas entre os ciclistas que já foram dando bons resultados desde 2017 e os nomes fortes que vão chegar, será uma formação com outros argumentos e cuja expectativa sobe de nível.


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