25 de agosto de 2016

"Não é um Mundial muito bom para nós"

Nelson Oliveira é, provavelmente, o único com lugar garantido no Qatar
(Fotografia: Facebook do ciclista)
Terminado os Jogos Olímpicos, José Poeira já prepara os Mundiais do Qatar, que este ano realizam-se um pouco mais tarde, de 9 a 16 de Outubro. E as dores de cabeça são muitas. Os percursos, tanto para a prova em linha como para o contra-relógio, não são os mais indicados para os que neste momento são os ciclistas portugueses que mais se destacam. Até Rui Costa poderá ficar de fora.

As dúvidas são muitas para o seleccionador nacional que tem muito a ponderar para escolher os três ciclistas que levará a Doha para a prova em linha. Começa por um percurso plano, ou seja, este ano é para sprinters e, por isso, os grandes nomes como Kittel, Cavendish, Greipel, Viviani, entre outros, têm como um dos objectivos da época os Mundiais. Depois José Poeira tem de pensar nas condições que esperam os ciclistas, principalmente as altas temperaturas que acompanharão os 257,5 quilómetros.

Corrida tem 257,5 quilómetros, 150 pelo deserto do Qatar
"Não é um Mundial muito bom para nós", desabafou José Poeira ao Volta ao Ciclismo. Desde que Rui Costa conquistou o título em 2013 que Portugal vai sempre sonhando com nova vitória. Porém, o Qatar é para os homens rápidos e o seleccionador disse que "temos alguns sprinters", mas colocou o problema da falta de competição. "Agora temos os circuitos e depois até Outubro não temos corridas. Os outros países vão ter as clássicas do Canadá, em Itália, corridas de 200 quilómetros com todos aqueles que são do World Tour. Nós não temos nada disso", explicou.

Questionado se Portugal poderia apostar numa fuga para tentar surpreender, José Poeira considera que nos Mundiais as fugas serão para esquecer: "Não vão ter sucesso. As equipas com sprinters vão fazer tudo para anulá-las."

Perante o percurso, José Poeira mantém-se em silêncio quanto a possíveis convocados e nem o campeão do mundo de 2013 está garantido. "O Rui Costa não tem um calendário muito fácil. Ele quer fazer o Europeu após as clássicas do Canadá. O Mundial é um pouco fora de época e é um percurso onde ele não vai fazer diferença nenhuma", referiu.

No contra-relógio "pela lógica o Nelson Oliveira estará lá". O ciclista vai estar na prova por equipas com a Movistar, mas apesar do sétimo lugar nos Jogos Olímpicos, José Poeira alerta que no Qatar será diferente. "O percurso é mais plano. O Nelson vai dar o seu melhor e fazer tudo para ter um bom registo, mas o percurso não ajuda. Quem gosta de mais plano vai ter vantagem", referiu.

Deixou em aberto a possibilidade de levar um segundo contra-relogista, como Rafael Reis, por exemplo. "Ele tem feito os mundiais, foi a Richmond, ganhou muitos contra-relógios ou ficou nos primeiros lugares... A época foi boa e enquanto júnior o Rafael até mostrou mais do que o Nelson", disse.

"Os Jogos Olímpicos não nos correram mal"

Rui Costa foi colocado como um dos candidatos a uma medalha nos Jogos Olímpicos e o ciclista português assumiu esse favoritismo. "Era o objectivo dele e ele preparou-se para discutir a corrida", salientou José Poeira. Porém, perante as circunstâncias da corrida, principalmente uma queda que partiu o grupo no qual estava o português e a própria queda de Nelson Oliveira, que assim não pôde ajudar na perseguição, o seleccionador considera que o décimo lugar "foi muito bom".


"Falava-se das subidas como as grandes dificuldades, mas ninguém falava das descidas e foram as descidas que decidiram os pódios"

"Os Jogos Olímpicos não nos correram mal, mas queremos sempre mais e o mais é chegar ao pódio, mas isso também não é assim tão fácil. No entanto, dentro de uma lógica conseguimos atingir os nossos objectivos, daquilo que nós pensávamos ser possível, que era ficar nos dez primeiros", salientou.

José Poeira recordou uma corrida muito complicada, que criou problemas a muitos países: "Falava-se das subidas como as grandes dificuldades, mas ninguém falava das descidas e foram as descidas que decidiram os pódios."

Quanto ao sétimo lugar de Nelson Oliveira no contra-relógio - que lhe valeu um diploma olímpico -, o seleccionador lembra como há quatro anos o português foi a Londres2012 não tanto pelo resultado (18º), "mas para preparar estes, preparar o ciclo olímpico". O objectivo era o atleta "perceber como estava no momento e onde poderia chegar" e também para a equipa técnica perceber como estava Nelson Oliveira e preparar a sua evolução para o Rio2016.


"Sempre achei que quando tivesse 27 anos que ele [Nelson Oliveira] entraria nas grandes discussões do contra-relógio."

Recordando o trabalho que tem sido feito com Nelson Oliveira, José Poeira referiu que era importante ir encurtando distâncias, primeiro para os dez primeiros e agora que essa fase "foi ultrapassada", pensa-se em resultados entre os melhores. "Está cada vez mais próximo. Nos próximos quatro mundiais, nos próximos Jogos Olímpicos, ele vai melhorar alguma situação e ficar mais próximo do pódio", disse.

Estar na Movistar, equipa que trabalha muito o contra-relógio, "é sempre positivo, mas também vem dele", considera José Poeira. "Sempre achei que quando tivesse 27 anos que ele entraria nas grandes discussões do contra-relógio."

O futuro do ciclismo português

Portugal vai cada vez mais tendo ciclistas a nível de World Tour e José Poeira considera que "o futuro do ciclismo está de boa saúde". "Temos nos sub-23 e nos juniores bons ciclistas e nos cadetes estamos num bom caminho", realçou. Acrescentou que em 2015, alguns dos que integraram a selecção de juniores estiveram "a bom nível lá fora". "Este ano temos dois que se destacam e temos alguns de primeiro ano que dão sinais de serem bons."

José Poeira fala nas limitações que o facto de Portugal ser o país periférico traz para a evolução em competição dos jovens ciclistas, ao contrário de países como "França, Alemanha, Holanda ou Itália, que estão mais no centro da Europa e têm a oportunidade para fazer corridas boas e também correm mais vezes." "Nós temos de deslocar tudo daqui e fica muito mais caro, mas temos feito", frisou.


"Vamos encontrando talentos que sabemos que são corredores de bom nível e que, mais cedo ou mais tarde, vão estar entre os melhores do mundo"

Apesar das dificuldades, o seleccionador afirmou que sempre vão encontrado ciclistas e que "têm aparecido corredores que se destacam". "Se calhar eles [outros países] têm 30 para escolher seis e nós temos seis e a ver se nenhum se aleija! Mas vamos encontrando talentos que sabemos que são corredores de bom nível e que, mais cedo ou mais tarde, vão estar entre os melhores do mundo. Não temos muitos, mas aproveitamos bem o que temos."

Infelizmente não será possível aproveitar Ruben Guerreiro nos Mundiais, em sub-23. Aos 22 anos, o jovem português prepara-se para integrar a Trek-Segafredo em 2017 e estrear-se no World Tour. Porém, neste momento um ligeiro problema físico faz com que José Poeira prefira poupá-lo e garantir que ele possa entrar bem na nova equipa.

»»O que se pode concluir da participação dos nossos ciclistas nos Jogos Olímpicos««

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