29 de agosto de 2016

Espectáculo de etapa! E agora? O que se pode esperar desta Volta a Espanha?

Nairo Quintana fez uma grande exibição (Fotografia: Team Sky)
A Volta a Itália ofereceu muito espectáculo, é certo. Porém, por mais que se admire os que os ciclistas fizeram no Giro, a verdade é que se deseja sempre que esse espectáculo inclua os grandes nomes da modalidade, algo que não tem acontecido na competição italiana, que normalmente só tem um ou dois dos principais ciclistas. No Tour estão lá todos, mas também está uma Sky a "secar" a concorrência de Chris Froome. Felizmente sobra-nos uma Vuelta, que este ano atraiu os três principais ciclistas da actualidade, numa luta directa (ou seja, sem a influência da Sky) e espectacular, como aconteceu em Lagos de Covadonga.

Que emoção que é ver Nairo Quintana atacar, Alberto Contador contra-atacar... ver Chris Froome ficar para trás e, de repente, fazer uma recuperação das mais espectaculares que já se viu. Tudo isto numa das montanhas mais mítica e difícil do ciclismo, com vários pontos dos 12 quilómetros a ultrapassar os 10% de pendente. Foi um daqueles dias que se há-de falar durante muito tempo.

Quintana teve mais uma demonstração de força que lhe valeu a recuperação da camisola vermelha, perdida no dia anterior para David de la Cruz (Etixx-QuickStep). E desta vez a Movistar terá mesmo de assumir que é para manter, porque o próprio colombiano avisou que não a quer perder.

Por momentos parecia que estávamos a ver o bom velho Alberto Contador (Tinkoff). Ali, ao lado de Quintana, até contra-atacou, talvez entusiasmado por saber que Froome estava a ficar para trás praticamente logo no início da fase mais difícil da subida.

Froome passou um mau bocado, mas recuperou em grande estilo
(Fotografia: Team Sky)
Infelizmente Contador quebrou. As debilidades físicas resultantes da queda na sétima etapa vieram ao de cima. Como o próprio diz, não é impossível, mas ganhar a Vuelta pela quarta vez está muito difícil: já são 2:54 minutos para recuperar. Por outro lado, felizmente Froome fez uma exibição que não é inédita, mas desta vez parecia que o britânico estava mesmo a ceder. David Lopez e Peter Kennaugh fizerem um trabalho extraordinário para ajudar o seu líder, enquanto a Sky deixava na frente Leopold König, como um plano B.

O que se assistiu foi mais um grande momento de ciclismo proporcionado por Chris Froome. Completamente diferente dos que ofereceu no Tour, o britânico impôs o seu ritmo e foi apanhando ciclista atrás de ciclista. Quando ficou sozinho já estava naquele pedalar tão familiar. Contador provavelmente nem queria acreditar quando viu Froome passar. Valverde aproveitou a boleia e Froome só não apanhou Nairo Quintana porque o colombiano é claramente o mais forte nesta fase da Vuelta e aqueles arranques tão típicos e tão difíceis de acompanhar podem muito bem valer uma vitória na competição.

Uma luta Quintana vs Froome?

Apesar de ser uma Volta a Espanha muito montanhosa, acabou por ser a etapa oito e dez a definir os candidatos. Até então, muitos aspiravam a uma vitória e com créditos para apresentar. No entanto, Nairo Quintana está num nível claramente acima, enquanto Froome não está tão bem, mas sobreviveu e a diferença é de 58 segundos (Robert Gesink tirou-lhe o segundo lugar da etapa e a devida bonificação). Pelo meio está Alejandro Valverde (57 segundos), mas não só subsiste a dúvida se o espanhol vai aguentar a este nível quando está a fazer a terceira grande volta do ano, como seria estranho vê-lo atacar o colega de equipa.

Este é o Nairo Quintana que se conhece e que simplesmente não apareceu no Tour. O colombiano é exímio em gerir as suas forças de forma a estar bem na terceira semana. Porém, o colombiano da Movistar não pode apenas gerir a vantagem. Quintana tem de aumentar um pouco mais a vantagem para Froome se quiser ter hipótese de manter a liderança no contra-relógio da antepenúltima etapa. Essa é, no fundo, a grande missão de Quintana: escolher as etapas certas para tentar ganhar mais uns segundos. Pouco mais de um minuto, poderá ser suficiente para sobreviver ao contra-relógio, especialidade que o colombiano já demonstrou ter melhorado.

Já Froome é o oposto. Costuma entrar forte e sofrer um pouco na última semana. Neste Tour foi diferente, precisamente pelo susto de 2015, provocado por Quintana. Mas nesta Vuelta temos de esquecer tudo o que sabemos sobre a preparação do britânico. Foram meses a pensar na Volta a França, foram meras semanas a recuperar para a Vuelta. Froome está em modo de sobrevivência. Admite não estar no seu melhor, sabe que Quintana está num nível superior, sabe que não tem uma equipa para ajudar como no Tour. Porém, Froome não entra em pânico.

No entanto, já nesta segunda semana se poderá perceber se o britânico terá ou não capacidade para pelo menos não deixar afastar em demasia o colombiano, já que após o descanso de terça-feira, haverá muita montanha até à nova pausa. Se conseguir, Froome poderá tentar não perder mais tempo e apostar tudo no contra-relógio, ainda que a penúltima etapa traga mais um final em alto. Mas claro, é Froome, não é de afastar um momento vroome vroome! E tem ainda uma arma chamada Leopold König, o tal plano B que está no sexto lugar e poderá contribuir para destabilizar a Movistar.

Quanto aos restantes ciclistas...o melhor é Johan Esteban Chaves (Orica-BikeExchange) a 2:09 minutos. Nada é impossível, mas a luta que se esperava no Tour, tem todas as condições para acontecer em Espanha... se Froome não vacilar. Mas atenção, o facto de muito boa gente estar já com mais de dois minutos de desvantagem poderá levar também a ataques, vários ataques que Quintana e a sua Movistar terão de ter muita atenção.

Etapa 11: Colunga/Museo Jurásico - Peña Cabarga (168,6 quilómetros)
Depois do dia de descanso serão vários os quilómetros que deverão ser relativamente calmos, mas depois serão 5,8 quilómetros , com 9,8% de pendente média e que de máxima chega aos 18%. É mais uma daquelas estranhas etapas - como a oitava - mas que tem mais um factor a ter em conta: nem todos se dão bem com dias de descanso. Outros sim, e Froome, por exemplo, praticamente ganhou o Tour de 2015 depois da pausa na prova.


Resumen - Etapa 10 (Lugones / Lagos de... por la_vuelta

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