28 de agosto de 2016

Uma Etixx-QuickStep antagónica... ou talvez apenas em mudança

A emoção de David de la Cruz ao vestir a camisola vermelha (Fotografia: Team Sky)
Esta temporada está a sair toda ao contrário do que seria normal para a Etixx-QuickStep. A equipa belga tem por hábito apostar forte na época das clássicas e depois nas grandes voltas tentar algumas vitórias em etapas, principalmente ao sprint. Ora, as clássicas correram fracamente mal, nomeadamente os monumentos: não ganhou nenhum. Por outro lado, Marcel Kittel ia conquistando vitórias, justificando a contratação que levou à saída Mark Cavendish. E seria o alemão a iniciar uma nova vida da equipa, mas nas grandes voltas: começou no Giro, passou pelo Tour e a Vuelta está a ser quase tão brilhante como em Itália.

Muito se falou de Tom Boonen e do belga lutar pela Volta a Flandres e o Paris-Roubaix, numa fase já final da sua carreira (termina em 2017). Esteve perto de conquistar a sua quinta vitória no inferno do norte, mas Mathew Hayman tirou-lhe o triunfo. A frustração crescia em Patrick Lefevere. A equipa andava lá perto, mas não ganhava. Porém, o director desportivo acabaria por demonstrar o trabalho que tem sido feito nos últimos anos: a Etixx-QuickStep já não é uma equipa apenas de clássicas. O aparecimento de Bob Jungels, Gianluca Brambilla na Volta a Itália, a confirmação de Julian Alaphilippe ao conquistar a Volta à Califórnia e ao exibir-se a bom nível no Tour, a contratação acertada de Daniel Martin (nono no Tour) e agora não só Brambilla volta a aparecer na Vuelta, como David de la Cruz finalmente confirma credenciais e logo em grande estilo.

No Giro, Marcel Kittel venceu três etapas e vestiu a camisola rosa, Brambilla conquistou uma e também liderou. Bob Jungels andou de rosa e terminou no sexto lugar. Matteo Trentin juntou mais uma etapa. A Etixx-QuickStep foi a equipa sensação em Itália, com resultados muito além do esperado.

No Tour já se sabe: domina a Sky. O objectivo da Etixx-QuickStep era mesmo lutar com Marcel Kittel, mas o alemão apenas ganhou uma etapa, vendo o rival Mark Cavendish (Dimension Data) reaparecer ao seu melhor. Porém, Julian Alaphilippe ainda vestiu durante umas etapas a camisola de melhor jovem e Daniel Martin foi top dez. Nada mau, ainda que Lefevere esperaria mais de Kittel.

Chegamos então à Vuelta. Em nove etapas já lá vão três vitórias, duas com Gianni Meersman, que aproveitou a oportunidade de não ter de ajudar Kittel para conquistar ele os seus primeiros triunfos numa grande volta. O mesmo para David de la Cruz, mas com outro signficado. Há três anos na equipa faltavam resultados ao espanhol de 27 anos. Nada que melindrasse a confiança da Etixx, pois até renovou por mais um ano. No entanto, o ciclista sabia que tinha de começar a mostrar algo e dificilmente podia escolher uma melhor maneira.

De la Cruz não só conquistou a sua primeira vitória como profissional - Dries Devenyns (IAM) não deverá estar a acreditar no azar que teve pela corrente não ter encaixado logo, no momento em que ia arrancar atrás do espanhol -, como fê-lo numa grande volta e na "sua". E para tornar tudo perfeito, vestiu a camisola vermelha. Sim, a Etixx-QuickStep volta a ver-se na posição de líder numa grande volta. E tem também a camisola dos pontos com Meersman e Brambilla no top dez (nono a 2:07 do colega). Já agora, foi a primeira vitória espanhola na Vuelta.

Ninguém espera que De la Cruz mantenha a camisola vermelha, tal como não se esperava que Nairo Quintana a perdesse. O colombiano que tanto a queria, perdeu-a no dia seguinte, apesar do controlo da Movistar, que, no entanto, não se incomodou demasiado em encurtar distância para De la Cruz. A diferença do colombiano é apenas de 22 segundos, mas volta-se a colocar a questão: terá a Movistar capacidade para controlar uma corrida durante duas semanas, se Quintana voltar este segunda-feira à liderança?

Pode-se dizer que foi táctica. Afinal este domingo era preciso poupar forças para a subida a Lagos de Covadonga na 10ª etapa. Assim, não só a Movistar poupou, supostamente, algumas forças, como terá a Etixx-QuickStep como aliada numa das etapas mais esperadas desta Vuelta. Mas terá mesmo? A equipa belga não está minimamente preocupada com David de la Cruz e procura, isso sim, que Brambilla possa não só vencer uma etapa, mas garantir um top dez. Uma etapa a não perder...

Etapa 10: Lugones-Lagos de Covadonga (188,7 quilómetros)
Poderá ser uma das etapas mais importantes para ajudar definir a classificação geral e é certamente uma das mais esperadas. O Alto del Mirador del Fito são 6,2 quilómetros a 7,8% de média, mas é o regresso de uma das montanhas míticas da Vuelta, dois anos depois, que marca o dia. Lagos de Covadonga (imagem em baixo) tem 12,2 quilómetros de extensão a 7,2% de pendente média, com máximas a ultrapassar os 10%. Se este domingo os candidatos realmente se pouparam, então vão dar tudo na etapa que antecede o dia de descanso.




Resumen - Etapa 9 (Cistierna / Oviedo... por la_vuelta

Veja a o resultado da etapa entre Cistierna- Oviedo / Alto del Naranco (164,5 quilómetros) e as classificações da Volta a Espanha.

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