30 de agosto de 2016

A surpresa de Rui Costa numa escolha de risco

Katusha, Astana, Bahrain-Merida, o nome de Rui Costa foi sendo associado a algumas equipas poderosas. No caso da Bahrain seria juntar-se a um novo projecto que está a construir um grupo muito respeitável de ciclistas. E equipas novas claramente não assustam o ciclista português que escolheu... a recente anunciada primeira formação chinesa no World Tour. Há que admitir que esta escolha surpreendeu. Rui Costa só tem elogios para a TJ Sport - não seria de esperar outra coisa -, no entanto, é impossível não pensar que a opção é arriscada, tendo em conta que pouco ou nada se sabe sobre este projecto. E o pouco que se sabe, pelo menos um pormenor, não é de todo agradável: Mauro Gianetti vai ser um dos coordenadores da equipa... um nome com um historial de ligação ao doping tanto como ciclista como director desportivo.

Era há muito óbvio que Rui Costa tinha de mudar de equipa. Em três anos, a Lampre-Merida não cumpriu com o pressuposto de construir uma formação em redor do português, que chegou ao conjunto italiano como campeão do mundo. Em final de contrato, questionava-se o futuro de Rui Costa, num ano em que não apostou na geral do Tour, mas sim na conquista de etapas (e muito lutou por elas), esteve no pódio da Liège-Bastogne-Liège e somou vários top dez, inclusivamente nos Jogos Olímpicos.

Aos 29 anos e apesar da experiência na Lampre não ter sido tão profícua como o esperado, o ciclista continua a ser dos mais respeitados do pelotão internacional e certamente encontraria lugar numa grande equipa, ainda que pudesse ter de ceder o estatuto de líder incontestado. Mas seria isso assim tão grave? Principalmente se tivesse possibilidade de apostar nas provas de um dia que gosta e ter alguma liberdade nas grandes voltas?

Nos últimos dias, o nome da Katsuha surgiu com frequência. Parecia quase perfeito ter Rui Costa a trabalhar com José Azevedo e ainda ter como companheiros Tiago Machado (que vai renovar) e José Gonçalves, que será uma das caras novas em 2017 da equipa russa. Rui Costa acabou por surpreender ao anunciar nas redes sociais que tinha escolhido a TJ Sport, a equipa chinesa que comprou a licença World Tour da Lampre, depois de semanas de indecisão da equipa italiana, que ao perder a Merida - que vai fornecer as bicicletas ao conjunto do Bahrain - e a saída de um dos directores, Brent Copeland (para a Bahrain), chegou mesmo a falar-se da descida de escalão.

(Fotografia: TJ Sport)
A TJ Sport - empresa de consultadoria chinesa, presidida por Li Zhiqiang - salvou assim a Lampre, pois a julgar pela camisola apresentada, o nome da empresa metalúrgica continua a aparecer. A apresentação não revelou muito. Patrocinadores, marca de bicicletas, ciclistas, nada foi avançado. Rui Costa é o primeiro nome e o português confirmou ainda Diego Ulissi, que passa também da Lampre para a nova equipa.

Com o mercado a ser intensamente atacado pela Bahrain-Merida e pela Bora-Hansgrohe (formação que vai subir de escalão e que já contratou Peter Sagan e Rafal Majka, entre outros), será curioso tentar perceber como vai a TJ Sport mexer-se nas contratações. Que tipo de ciclistas irá escolher, que objectivos terá... Questão: vai esta equipa ser melhor do que a Lampre, uma das equipas mais fracas do World Tour?

Um risco enorme para Rui Costa. Só se poderá esperar que não pagará um preço demasiado alto por querer continuar a ser um líder indiscutível.

Gianetti na apresentação da equipa (Fotografia: TJ Sport)
Mas voltando ao tal nome Mauro Gianetti. É um daqueles que faz tremer o ciclismo, ao nível de Bjarne Riis... Como ciclista tem historial de doping (terá inclusivamente ido parar ao hospital devido a uma transfusão que correu mal, mas nunca admitiu), como director desportivo continuou a prática por onde passou. O suíço era visto como alguém muito criativo em encontrar formas de dopagem. Estamos a falar de um ciclista que venceu a Liège-Bastogne-Liège e a Amstel Gold Race em 1995, mas que ficou na história da modalidade por todas as más razões.

Um membro da equipa da Saunier Duval - equipa que Gianetti dirigiu entre 2004 e 2011 - chegou a dizer ao jornal L'Equipe: "O doping está estão entranhado em alguns directores desportivos, como Gianetti, que eles não conseguem conceber o ciclismo de outra forma."

Desde então que o suíço tem andado afastado, mas agora encontrou lugar como coordenador do projecto chinês. E isso são más notícias para o ciclismo numa altura que continua a tentar recuperar credibilidade depois do caso Armstrong, o mais recente de muitos escândalos de doping.

A Rui Costa resta desejar boa sorte nesta nova fase da carreira, pois não deixará de ser algo único iniciar um novo projecto. Um futuro incerto, que certamente terá sido ponderado pelo ciclista português. Há que esperar por mais pormenores sobre a equipa e talvez entender melhor esta escolha.

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