22 de agosto de 2016

Circuito da Malveira: as histórias de outros tempos e a necessidade de se adaptar para criar novas

75ª Circuito da Malveira. Décadas de histórias que tantas pessoas têm para contar. Antigos ciclistas ou o público, todos se lembram de quando as ruas se enchiam para ver passar o pelotão, primeiro na estrada, depois na pista. Hoje, já se sabe, tudo é diferente, seja em que competição seja. O Circuito da Malveira pode não ter o impacto de outrora, mas este domingo ali estavam todas as principais equipas nacionais e até uma espanhola. O campeão da Volta a Portugal, Rui Vinhas surgiu com um sorriso que provavelmente não larga desde dia 7 de Agosto, Gustavo Veloso com a sua vontade de vencer, Joni Brandão e Daniel Mestre, as figuras da Efapel, Hugo Sabido e David Livramento do Sporting-Tavira, Amaro Antunes da LA Alumínios-Antarte... Já deu para percebeu, estavam lá quase todas as grande figuras do pelotão nacional. Ali, bem perto de quem os quiser conhecer, tirar fotografias, conversar.

Mas lá está, os tempos são outros. Ouvem-se histórias das enchentes, das aventuras de então. No domingo muitos ainda vieram à rua ver os ciclistas passar. Os mais jovens atrás dos bidões, os restantes para apoiar um ou outros atleta. Até se estranha ver o pelotão passar ali tão perto do público, volta atrás de volta, atrás de volta. Mas o circuito não é o momento da festa de ciclismo de outros tempos. Mas será que é impossível recuperar um pouco dessa vivência?

A modalidade vive uma fase distinta, é certo, mas fica a sensação que até se perdeu a
vontade de tentar promover estas competições. Hoje em dia, com a internet há formas de o fazer gratuitamente ou a baixo custo. São muitos os fãs de ciclismo, são cada vez mais aqueles que também se vão rendendo à paixão de pedalar. Há que explorar isso e talvez assim, este tipo de circuitos voltem a trazer a população à rua.

Não temos de esperar apenas pela Volta a Portugal, Volta ao Algarve ou Troféu Joaquim Agostinho. Também nestas competições de menor dimensão mediática é possível fazer a festa do ciclismo. Não é preciso haver uma transmissão televisiva ou uma cobertura dos media sempre ao alto nível. Os fãs ou só aqueles que acabam por sair de casa para ver os ciclistas passar, fazem as festa, falam nos nomes dos patrocinadores e isso também é importante.

No domingo o convívio do ciclismo fez-me lembrar porque se gosta tanto desta modalidade. De repente percebemos que estamos a conversar com Manuel Claudino, o pai de um mecânico da Tinkoff, ou então com Hilário Isidoro, mecânico que passou pelo Sporting, selecção nacional ou Sicasal... Até se aproveita para resolver um problema com uma roda que anda há duas semanas a dar problemas! Mas rapidamente se volta às conversas do ciclismo, às histórias. São tantas e que assim vão, nestas conversas, mantendo as memórias vivas. Um dia diferente e que tem tudo para ser bem divertido quando se é fã desta fantástica.

O Circuito da Malveira tem uma fase de estrada - que Gustavo Veloso (W52-FC Porto) ganhou - e depois uma de pista (na elite, Rafael Silva, da Efapel, ganhou uma prova e Samuel Caldeira, W52-FC Porto, outra). O dia começou com uma corrida dos mais novos. 

Na pista pede-se ainda mais festa. Não somos um povo com cultura de pista, mas lá está, ali muitos ganharam e perderam corridas noutros tempos do ciclismo. No domingo foram longas esperas para que começasse uma corrida, do lado da bancada até houve quem lutasse contra o sono, do lado onde estão as equipas e convidados, o bar lá ia vendendo umas cervejas. Os ciclistas aproveitavam para comer uma bifanas, convivem mais um pouco. Ali não há equipas, há momentos para descontrair e passar o tempo.

De salientar, para quem não conhece, que entre as provas de elite, também os mais novos têm a sua oportunidade, prolongando o dia e dando azo às discussões entre pais que faz lembrar os tempos em que cobria os jogos de futebol dos juvenis e juniores. Afinal "o meu filho é melhor que o teu" é algo que parece comum nas modalidades. Compreensível. Se nem sempre é feita com a melhor linguagem, não deixa de ser o orgulho de pai e/ou mãe a vir ao de cima. Faz parte!

Estes circuitos têm tudo para ser um grande dia de ciclismo. Falta, se calhar, adaptarem-se
aos tempos, para que daqui a 20 ou 30 anos se possa continuar a contar histórias. Não é possível ficar tanto tempo à espera para ver uma corrida, não é possível em cima do acontecimento mudar a corrida por se perceber que não se podia ter um pelotão tão grande em pista (razões de segurança, claro). Falou Rui Sousa, da Rádio Popular-Boavista e tudo se resolveu.

Vamos esperar que também estes circuitos sigam o caminho que o ciclismo está a ter. Uma evolução, ou melhor uma adaptação, uma nova vida para que a modalidade em Portugal não seja apenas marcada por três provas. Prolonguem a festa do ciclismo com estes dias, por favor!

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