24 de maio de 2018

Calma, isto ainda não acabou!

(Fotografia: Giro d'Italia)
Se há algo de bom na época de clássicas é que a cada corrida temos um vencedor, uma história, uma intensidade diferente já que em causa está sempre a vitória final. É certo que algumas servem de preparação para outras, mas há sempre quem as queira vencer. As grandes voltas oferecem outro tipo de emoção. Requer mais paciência, pois afinal é preciso esperar três semanas para conhecer o vencedor. Temos as vitórias de etapas, mas que no fundo nos levam apenas um dia mais próximo para saber quem de facto será mais lembrado, aquele que leva a camisola amarela, rosa ou vermelha no fim. Por isso mesmo, não há nada pior do que se ter um vencedor anunciado, como tem acontecido no Tour. São dias como os de hoje que fazem valer a pena passar 21 dias em frente à televisão, a tentar perceber quem irá inscrever o seu nome numa lista que pode ser longa dada a extensa história das grandes voltas, mas não deixa de estar apenas ao alcance dos grandes ciclistas, com uma ou outra excepção...

Simon Yates não era um vencedor anunciado. Muito pelo contrário. Porém, as suas convincentes exibições durante duas semanas colocaram-no no patamar daqueles que se pode dizer que tem o Giro na mão. O problema é que falta a terceira semana e colocar a outra mão no troféu e assim garanti-lo é uma missão bem complicada. O britânico ainda não tinha tido um dia mau. Surgiu esta quinta-feira. De repente, uma diferença de 56 segundos para Tom Dumoulin, que parecia ser mais do que suficiente para controlar as três etapas de montanha que faltavam, foi reduzida para metade. Pior é mostrar debilidade numa fase em que já ninguém tem muito a perder se quiser ainda tentar atacar a liderança. Nos próximos dois dias a motivação dos adversários, com destaque, além de Dumoulin, para Domenico Pozzovivo (terceiro a 2:43 minutos), mas principalmente para Chris Froome (quarto a 3:22), estará em alta.

Em poucos quilómetros a Volta a Itália foi relançada e se ainda não estava fechada, ficou agora completamente aberta. Se já havia a intenção de explorar uma eventual fraqueza do camisola rosa, agora que a mostrou logo no primeiro dos três dias decisivos, não haverá descanso nem para Yates, nem para a sua equipa, Mitchelton-Scott. O próprio admitiu que não teve "boas pernas", mas é também nestes momentos que se vê quem tem calibre de campeão. Yates recusa entrar em pânico.

Dumoulin tem sido o exemplo de como é importante saber manter a calma nos momentos em que parece que tudo se pode perder. Já sofreu ataques que o poderiam ter deixado fora da luta, mas resistiu e aí está ele com apenas 28 segundos a separá-lo do primeiro lugar, no qual terminou em 2017. Agora é a vez de Yates de demonstrar frieza. Não será fácil, mas se o britânico admitiu que não iria andar tanto ao ataque, o que seria algo mau para os fãs, pois essa postura significa menos espectáculo, agora teremos outros a dá-lo. Assim sim, vale a pena ver tantos dias de corrida para conhecer o grande vencedor. Se não é possível ter dias memoráveis de ciclismo em todas as etapas, pelo menos que haja emoção até final.

"Calma" é uma palavra-chave nesta altura. Yates tem de a manter e Dumoulin já disse que é melhor não a deixar ser apanhada por excesso de confiança. Se nesta quinta-feira tudo lhe correu de feição, o holandês avisa que as duas etapas mais difíceis serão as de sexta e sábado. Para um ciclista que prefere fazer as subidas num ritmo certo, quando ataca tem de o fazer valer. A sua movimentação não deixou Yates para trás, mas foi o primeiro "safanão" à resistência do camisola rosa. Quando Froome fez a sua jogada, Dumoulin conseguiu aguentar, Yates não. O problema para o líder da Sunweb é terá de o fazer num terreno que não lhe sendo desfavorável (a maioria das subidas são complicadas, mas com uma pendente constante), é mais favorável ao seu adversário directo.

Foi apenas uma subida, já na parte final da longa etapa de 196 quilómetros entre Abbiategrasso e Prato Nevoso. Amanhã serão 184 que incluem uma segunda categoria, a Cima Coppi (ponto mais alto, que será a 2178 metros no Colle delle Finestre), uma terceira e para acabar mais uma primeira. Yates só poderá desejar que tenha tido um mau dia e nada mais. Os adversários pedirão para não terem eles mais nenhum dia menos bom e que consigam "abanar" um líder que, nas palavras de Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) aquando do contra-relógio, estava "imbatível". Tudo muda num instante...



De referir que Miguel Ángel López (Astana) deixou bons sinais que está bem para ainda se mostrar nesta terceira semana. Consolidou a classificação da juventude, deixando Richard Carapaz (Movistar) a 1:05 minutos, ultrapassou Rohan Dennis (BMC) na geral e tem o quinto posto de Pinot a 30 segundos. Falta a vitória de etapa que a Astana continua a procurar. Dois ciclistas no top dez - Pello Bilbao é oitavo - e a camisola branca é bom. Uma etapa será muito melhor e mais próximo da senda ganhadora que a equipa estava a viver quando arrancou o Giro.

O português José Gonçalves teve mais um bom dia. Até se mostrou na subida final, mas com a etapa já resolvida para os homens da fuga, o ciclista da Katusha-Alpecin concentrou-se em tentar melhorar a sua classificação na geral. Subiu dois lugares e é 18º, a 16:30 de Yates. Melhorar mais será muito difícil. David Formolo é quem está à sua frente, mas tem mais de seis minutos de vantagem.

(Fotografia: Giro d'Italia)
Num dia em que a fuga triunfou, a Quick-Step Floors continua imparável. Desta feita foi o alemão Max Schachmann a triunfar e com as vitórias de Elia Viviani, já são cinco para a equipa belga no Giro, o mesmo número alcançado em 2017, mas com diferentes protagonistas (há um ano foram Fernando Gaviria e Bob Jungels). Schachmann tem 24 anos, um grande potencial e na sua primeira grande volta da carreira soma logo um triunfo numa etapa, além de ter vestido a camisola branca da juventude no início deste Giro.

Pode ver aqui as classificações após 18 etapas da 101ª edição da Volta a Itália.



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