20 de maio de 2018

O efeito Zoncolan a que Yates esteve imune

(Fotografia: Giro d'Italia)
Simon Yates tinha avisado que a etapa deste domingo tinha tudo para ser importante. Talvez mais do que a do Zoncolan. Pode não ter andado num reconhecimento minucioso como outros adversários, mas o britânico e a Mitchelton-Scott têm este Giro muito bem estudado. No dia em que quase todos pagaram, uns mais que outros, o esforço do Zoncolan, Yates apareceu ainda mais forte. Atacou a 18 quilómetros do fim e ninguém conseguiu reagir. Yates foi enorme! Recebeu o prémio que mais queria, mais do que a vitória da etapa (e já são três!): os segundos ambicionados para se distanciar Tom Dumoulin. O camisola rosa queria partir para o contra-relógio com dois minutos. Leva mais 11 segundos como bónus.

Depois de uma etapa em que a subida não permitia grandes ataques, mas ainda assim Yates ganhou tempo, recuperar do Zoncolan era tão importante como sobreviver à sua ascensão. O ciclista que tem tudo analisado ao mais ínfimo pormenor, viu as suas contas saírem completamente trocadas: Froome afinal não está tão vivo como pareceu no sábado. Perdeu 1:32 e está agora 4:52 minutos da liderança. Se o ciclista da Sky tinha planeado usar o contra-relógio para reentrar na luta pela camisola rosa, agora quanto muito poderá aspirar ao pódio. Porém, será difícil afastar o sentimento de desilusão. A festa de Froome quando ganhou no Zoncolan foi de alguém que recuperava uma confiança que estava a ficar abalada depois de duas semanas difíceis. Sol de pouca dura para o britânico.

E o que dizer de Fabio Aru... O lutador que não desiste nem por nada, que tem aquele estilo de abanar tanto a bicicleta quando está em dificuldade, mas recusa ceder, esse ciclista conheceu este domingo o seu limite. Não pôs o pé no chão, ainda que por momentos quase pareceu que o ia fazer, mas afundou-se na classificação, perdendo 19:31 minutos. Parecia parado na estrada. Alguns dos seus companheiros ainda o rodearam. O apoio que faltou quando Aru mais precisou na frente da corrida, chegou num momento em que se sentiu derrotado e ficou para trás. Mais vale tarde do que nunca, mas esta UAE Team Emirates não convence e depois de uma fase de clássicas em que Daniel Martin desiludiu, a aposta no Giro saiu gorada. As grandes contratações da equipa de Rui Costa não estão a render nem de perto, nem de longe o esperado. Há um ano o português fez três segundos lugares e Jan Polanc venceu no Etna, ficando ainda à porta do top dez. Aru junta-se a Johan Esteban Chaves na lista de desilusões desta corrida.

Regressando a Yates e àqueles que continuam a ser os adversários do britânico. Thibaut Pinot (Groupama-FDJ), Domenico Pozzovivo (Bahrain-Merida), Tom Dumoulin (Sunweb), Miguel Ángel López (Astana) e Richard Carapaz (Movistar) ficaram na perseguição ao maglia rosa. Porém, nunca houve entendimento. Marcaram-se, atacaram-se e Yates aproveitou, chegando a ter um minuto de vantagem. Dumoulin ainda assustou ao descolar, mas o desentendimento acabou por o ajudar a pelo menos recolar e ser terceiro, ficando com as últimas bonificações bonificações. 

O holandês está a fazer um Giro de autêntica sobrevivência. Não sendo um trepador exímio, faltando-lhe a mudança de ritmo que ciclistas como Yates, Pozzovivo e Pinot, por exemplo, têm, Dumoulin faz-se valer das armas que dispõe. A capacidade de não entrar em pânico e manter uma frieza quando tudo ameaça desmoronar-se, mantém o vencedor de 2017 na luta. No entanto, 2:11 poderá ser muito tempo até para tentar recuperar a camisola rosa que vestiu na primeira etapa, precisamente após o contra-relógio. Mesmo que o venha a fazer, em situação normal Yates não deverá perder muito mais tempo. A manter a forma, na montanha tem tudo regressar ao primeiro lugar.

O Giro não está ganho. Seria uma arrogância pensar isso. Está bem encaminhado para Simon Yates, de longe o homem mais forte da corrida até ao momento. Não só não teve dias maus, como só tem tido dias bons. Já ninguém se lembra que Johan Esteban Chaves ficou de fora da luta no início desta segunda semana (parece que foi há tanto tempo!) e que estragou os planos da Mitchelton-Scott de jogar com os dois ciclistas. A pedalar assim, claramente basta ter Yates!

Se o britânico confirmar uma vitória que está a ser muito bem trabalhada por toda a equipa, a etapa deste domingo será aquela que poderá ser recordada como o dia em que Yates fez o ataque que ajudou a definir a Volta a Itália. Sappada foi o local da terceira vitória do ciclista neste Giro - há 31 anos que nenhuma etapa lá terminava -, sempre com a camisola rosa vestida. É preciso recuar a 2003 para ver um corredor com o mesmo feito. O italiano Gilberto Simoni também venceu três etapas com a maglia rosa, tendo conquistado o seu segundo Giro. Ainda faltam três tiradas de montanha, pelo que não é de excluir que Yates ainda junte mais alguma.

Pormenores estatísticos. Mas são outros que Yates vai estar concentrado na terça-feira, pois amanhã é dia de descanso. São os segundos que vão estar no pensamento do britânico. São então 2:11 para Dumoulin. Serão 34,2 quilómetros no contra-relógio. No que abriu o Giro, Yates perdeu 20 segundos em 9,7, demonstrando que fez muito trabalho de casa para melhorar nesta especialidade. Também Domenico Pozzovivo esteve bem nesse dia, perdendo então 27 segundos. O italiano está ao nível de Yates, pelo que a sua preocupação estará mais em defender um lugar no pódio, do que tentar o impossível e tirar os 2:28 que o separam de Yates. Thibaut Pinot está a 2:37. A partir do quinto lugar, todos têm mais de quatro minutos para recuperar.



José Gonçalves que tão bem esteve naquele primeiro dia - foi quarto, a 12 segundos de Dumoulin - continua a realizar um excelente Giro. Está novamente na 20ª posição, beneficiando das quebras de Aru e Max Schachmann (Quick-Step Floors), a 15:20 de Yates.

O contra-relógio entre Trento e Rovereto irá abrir uma última semana que contará com seis subidas de primeira categoria, três no sábado. A Cima Coppi, no Colle delle Finestre (2170 metros), será na sexta-feira. Simon Yates e a Mitchelton-Scott têm controlado esta Volta a Itália de forma exímia e algo inesperada. Porém, basta perguntar a Steven Kruijswijk como tudo se perde num instante. Em 2016, o holandês da Lotto-Jumbo entrou na 19ª etapa com três minutos de vantagem sobre Chaves, 3:23 sobre Alejandro Valverde e 4:43 sobre Vincenzo Nibali. Uma queda numa descida, um mortal para a neve e foi o adeus à vitória e no dia seguinte perderia também o pódio. Tudo pode mudar num dia, mas a seis etapas do fim, não restam dúvidas quem até agora mais merece estar de rosa.

Veja aqui os resultados da 15ª etapa e as classificações. Yates lidera na geral e na montanha, Miguel Ángel López na juventude, Elia Viviani (Quick-Step Floors) nos pontos e a Sky colectivamente.




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