18 de maio de 2018

Zoncolan: "É como uma execução lenta", diz quem lá venceu duas vezes

(Fotografia: Giro d'Italia)
Tão rapidamente se fala que o Giro estava praticamente sem dias aborrecidos, como temos um daqueles mais tradicionais. Fuga, perseguição, preparação de sprint e vitória de um dos homens rápidos. A etapa desta sexta-feira valeu pela parte final, que poderá ser utilizada para ensinar a muitos como uma equipa deve actuar para colocar o seu sprinter. A Quick-Step Floors mostrou porque é das melhores - senão mesmo a melhor - neste trabalho e Elia Viviani corrigiu a falha de ontem, somando a terceira vitória no Giro, a primeira em território italiano, já que as outras duas foram ainda em Israel. Na classificação dos pontos, Viviani deixou Sam Bennett (Bora-Hansgrohe e segundo no dia) a 40 pontos. Mas o que esteve mesmo no pensamento de todos durante a etapa? O Zoncolan.

É disso que mais se tem falado desde que arrancou a segunda semana do Giro. O Monte Zoncolan, um "monstro" de subida que tanto assusta o mais talentoso dos trepadores. A boa forma não é garantia de sucesso naquela que é vista por muitos como a mais brutal das subidas nas grandes voltas, batendo mesmo o mítico Angliru, em Espanha. Porque é visto assim? Desmontando o Zoncolan...

A subida tem 10 quilómetros, começando em Ovaro. A pendente média é de 11,5%, mas isso é porque os primeiros quilómetros chegam a ter pendentes relativamente baixas, comparando com o que espera aos ciclistas nos oito quilómetros finais até ao alto. Só esses têm uma pendente média de 15%, há uma curta zona de "descanso", de 5,2%, já não muito longe da meta, mas pouco alívio trará tendo em conta o que se subiu até ali e o que ainda falta. Há rampas que atingem os 20 e os 22%! No topo, os ciclistas estarão a 1700 metros de altitude.

O Zoncolan tem o potencial para arruinar por completo uma corrida a alguém. Um ataque mal calculado, uma alimentação mal feita, ou simplesmente um dia menos bom que pode acontecer a todos e o Zoncolan é garantia de se somar muito tempo perdido. Apesar de ser um local muito apreciado pelos fãs de ciclismo, a dureza do Zoncolan faz com que não seja das subidas mais vistas no Giro. Tem todas as características para entrar na lista de subidas míticas, mas foram só cinco as vezes que o pelotão por lá passou na grande volta italiana. A primeira apenas em 2003.

Gilberto Simoni foi quem conquistou o Zoncolan nesse ano, com a ascensão a começar em Sutrio. Acabaria por vencer também o Giro. A subida foi incluída no percurso pela segunda vez em 2007, já com o início em Ovaro, e Simoni repetiu o triunfo (Danilo di Luca ganhou esse Giro). A descrição do italiano do Zoncolan, citado pelo Velonews, é bastante elucidativa: "É como uma execução lenta. A parte mais fácil do Zoncolan é mais dura do que as mais difíceis no Tour."

Em 2010 venceu Ivan Basso, que também ganhou o Giro. A última vez que o pelotão por ali passou, em 2014, foi Michael Rogers quem ganhou. Para o fim deixou-se aquele que é o único vencedor ainda em actividade: Igor Antón. O espanhol conquistou o Zoncolan em 2011, então vestindo o equipamento laranja da Euskaltel-Euskadi. Aos 35 anos representa a Dimension Data e não se importa nada de recordar aquele 21 de Maio. "Fiquei emocionado por conquistar um dos topos míticos do ciclismo. Também gosto que as pessoas e os meios de comunicação social venham ter comigo para falar e recordar aquele sucesso. Será a terceira vez que o vou subir e tenho sempre um gosto especial", admitiu, Antón, citado pelo As. Apesar da missão de ajudar uma das surpresas da competição, o jovem australiano Ben O'Connor - 13º a 3:25 do camisola rosa Simon Yates (Mitchelton-Scott) -, Antón não descarta tentar novamente conquistar o Zoncolan.

Há que ter em conta que os ciclistas não vão chegar nada fresquinhos a um dos que se espera ser dos principais momentos do Giro. Além das 13 etapas já realizadas e a maioria sempre com bastante acção por parte dos homens da geral, este sábado haverá antes do Zoncolan duas terceiras categorias, uma segunda e mais uma terceira, seguida de uma descida até que chegarão a Ovaro. Serão 186 quilómetros, que começam em San Vito al Tagliamento, que poderão ser muito importantes. E há mais um pormenor, é que no domingo a etapa voltará a ser de muita montanha, pelo que não basta ter de enfrentar o "monstro" do Zoncolan, como no dia seguinte há que estar novamente apto a lutar pelos objectivos, naquele que é o fim-de-semana que dá o mote para as decisões finais do Giro. Segunda-feira é dia de descanso, mas na terça-feira há o contra-relógio de 34,2 quilómetros que está no pensamento de todos, quase tanto como o Zoncolan.



Um último pormenor. Esta subida tem aparecido normalmente nesta fase da Volta a Itália. A colocação mais tardia foi em 2014, na 20ª etapa. Nairo Quintana foi para a tirada com 3:07 minutos de vantagem sobre Rigoberto Uran. Nada que o Zoncolan não pudesse colocar em causa, mesmo sendo um Quintana que já então se percebia que era um talentoso ciclista. Cortou a meta 4:45 minutos depois de Michael Rogers, mas os seus mais directos adversários não conseguiram batê-lo e o colombiano venceu a sua primeira grande volta.

Simon Yates parte para a 14ª etapa com 47 segundos de vantagem sobre Tom Dumoulin (Sunweb). Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) está a 1:04 minutos, Domenico Pozzovivo (Bahrain-Merida) a 1:18, Richard Carapaz (Movistar) a 1:56, George Bennett (Lotto-Jumbo) a 2:06, Rohan Dennis (BMC) a 2:36, Pello Bilbao (Astana) a 2:54, Patrick Konrad (Bora-Hansgrohe) a 2:55, Fabio Aru (UAE Team Emirates) a 3:10, Miguel Ángel López (Astana) a 3:17, Christopher Froome (Sky) a 3:20 e depois de Ben O'Connor (a 3:25) vem Carlos Betancur (Movistar) a 3:29 (pode ver aqui as classificações).

As diferenças entre alguns dos ciclistas não são grandes, pelo que além da luta pela maglia rosa, a presença no top dez também estará em jogo. De referir que José Gonçalves é 20º a 5:21 minutos de Yates. O português da Katusha-Alpecin tem estado em grande nível nesta Volta a Itália, mostrando um lado menos visto na sua carreira na alta montanha. O Zoncolan será um teste muito complicado para Gonçalves e para todo o pelotão. Dos líderes aos que apenas querem chegar ao fim. Na parte de trás, haverá aquela missão que não se vê nas transmissões televisivas: terminar dentro do tempo limite.




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