4 de maio de 2018

José Gonçalves de camisola rosa? Porque não?

(Fotografia: Twitter Katusha-Alpecin)
Tom Dumoulin começou a Volta a Itália de forma irresistível. Começou como acabou a de 2017: a dar tudo por tudo no contra-relógio para vestir a camisola rosa e desta feita para juntar a vitória de etapa. Quando uma corrida arranca com o contra-relógio, são muitos os que se vêem obrigados a, desde cedo, fazerem contas. A Katusha-Alpecin não é excepção, mas estas são contas boas de se fazer. Se desta feita não tem um líder para a geral, com o excelente resultado de José Gonçalves e com Alex Dowsett a recordar a todos que continua a ser um dos melhores contra-relogistas, na equipa suíça já se pensa em tentar nas próximas etapas conseguir colocar um dos seus ciclistas com a maglia rosa.

Apesar de Dumoulin ter ganho, de Froome ter sofrido uma queda ainda antes do contra-relógio, de haver algumas surpresas entre os que foram mais rápidos, não se consegue deixar de destacar José Gonçalves. Durante alguns minutos o ciclista português permitiu pensar que poderia ficar como líder, ainda que faltassem alguns dos maiores especialistas. No ponto intermédio, Gonçalves foi mais rápido - por menos de um segundo - que Rohan Dennis. E o australiano da BMC é um desses maiores especialistas no contra-relógio.

Não se pode dizer que seja uma surpresa total. No início da sua carreira, José Gonçalves foi campeão nacional tanto em sub-23, como em elites. Nos últimos anos destacou-se mais como ciclista de ataque e era precisamente esta sua faceta que se estava à espera que pudesse surgir durante o Giro. Com este resultado - ficou a 12 segundos de Dumoulin - Gonçalves acabou de entrar no plano do seu director para tentar vestir a camisola rosa nos próximos dias.

"Porque não pensar nas oportunidades que poderão surgir? Vamos lutar pela camisola rosa na próxima etapa", garantiu José Azevedo. O responsável pela Katusha-Alpecin salientou que é necessário proteger Gonçalves e Dowsett (quarto, a 16 segundos). "Isto colocou-nos numa boa posição para os próximos dias", disse o director. Esta situação compensa um pouco a desilusão de Martin (tetracampeão do mundo), que apesar de ter sido nono - o que ajudou a Katusha-Alpecin a assumir a liderança na classificação por equipas - os 27 segundos deixaram-no longe da discussão da desejada vitória de etapa. Contudo, eis um corredor que tem um gosto especial em fazer ataques de longe e que causam muitos problemas. Mais uma hipótese para a Katusha-Alpecin.

Portugal pode ter apenas um representante no Giro, mas José Gonçalves dificilmente poderia ter pedido um começo melhor. Durante algum tempo o ciclista de Barcelos foi vendo os corredores passarem e a não tocarem no seu então segundo posto, atrás de Dennis. Só o campeão europeu, Victor Campenaerts (Lotto Fix ALL) - terceiro, a dois segundos - e o campeão do mundo, Tom Dumoulin, fizeram Gonçalves cair para o quarto posto.


A alegria de Tom Dumoulin após a vitória na primeira etapa da Volta a Itália
(Fotografia: Giro d'Italia)
Mas falemos então da figura do dia. O holandês entrou com tudo na defesa da maglia rosa que ganhou há um ano. Quando falou aos jornalistas, abriu a camisola de líder, mostrando a de arco-íris que tinha por baixo: "Agora estou a vestir as duas camisolas mais bonitas no ciclismo. Isso deixa-me muito orgulhoso." O corredor da Sunweb chega mesmo a dizer que a vitória é mais importante para ele do que o tempo ganho. Contudo, não deixou de estar bastante satisfeito por já ter ganho uns segundos, que os próximos dias dirão que importância poderão ter. Dumoulin completou os 9,7 quilómetros do percurso de Jerusalém em 12:02 minutos.

Aquele que lidera a lista de rivais de Dumoulin, Chris Froome, teve um início azarado. Sofreu uma queda ainda no reconhecimento e apesar de ter preferido dizer que até poderia ter sido pior, o britânico da Sky perdeu 37 segundos. Thibaut Pinot (Groupama-FDJ), 33, Tim Wellens (Lotto Fix ALL), 32, Fabio Aru (UAE Team Emirates), 50, Johan Esteban Chaves (Mitchelton-Scott), 46 e Miguel Ángel López (Astana), 56. Quem confirmou que não está no seu melhor foi Louis Meintjes (Dimension Data), que já tem 1:08 minutos para recuperar.

No entanto, houve umas surpresas agradáveis. O pequeno Domenico Pozzovivo (Bahrain-Merida) fechou o top dez, a 27 segundos de Dumoulin. Carlos Betancur (Movistar) ficou logo atrás, a 28 segundos. E atenção a Simon Yates, pois o britânico da Mitchelton-Scott só perdeu 20 segundos. Excelente início para o gémeo, que este ano já não estará na luta da juventude nas grandes voltas. Por isso, o primeiro líder desta classificação é Max Schachmann - sétima na Volta ao Algarve -, com o alemão da Quick-Step Floors a fazer mais 21 segundos que Dumoulin.

Apesar de já ter a camisola rosa, não será expectável que a Sunweb faça tudo para a defender. Nos próximos dias, pelo menos até ao do Etna (sexta etapa), o objectivo será manter Dumoulin a salvo de percalços e manter as diferenças conquistadas para os principais adversários. São três semanas de corrida pela frente para gastar muito cedo forças que podem ser necessárias mais tarde.

De referir que não foi só Froome que teve um início pouco auspicioso. Kanstantsin Siutsou também caiu no reconhecimento do percurso, mas foi bem mais grave. O bielorrusso da Bahrain-Merida foi transportado para o hospital, onde foi confirmada a fractura de uma vértebra. Nem chegou a partir para o Giro e é uma baixa importante para a equipa, visto que estava num bom momento de forma, tendo conquistado recentemente a Volta à Croácia.

Etapa 2: Haifa-Telavive, 167 quilómetros


Senhores sprinters cheguem-se à frente. Depois do contra-relógio que obrigou os candidatos à geral a aplicarem-se logo no primeiro dia da Volta a Itália, no fim-de-semana serão os homens rápidos que terão a oportunidade de serem as estrelas.

O pelotão deixará Jerusalém para visitar Haifa e Telavive. Há uma subida de quarta categoria a meio, que decidirá o primeiro camisola azul, da classificação da montanha, mas será difícil imaginar outro final que não seja ao sprint. Elia Viviani lidera os favoritos, com a Quick-Step Floors à procura da 28ª vitória do ano. Danny van Poppel (Lotto-Jumbo) e Sam Bennett (Bora-Hansgrohe) serão alguns dos adversários de um contingente italiano que contará com um Jakub Mareczko (Wilier Triestina-Selle Italia) que anda a prometer uma vitória desde o Giro passado e um Sacha Modolo (EF Education First-Drapac p/b Cannondale) que quer mostrar que ainda tem algo para dar.

Para José Gonçalves ou Alex Dowsett conseguirem concretizar já o desejo de José Azevedo, a aposta na fuga será obrigatória. Porém, caso decidam esperar até regressar a Itália, a quarta e quinta etapa são bem mais interessantes, principalmente para o português. Muito sobe e desce, perfeito para ciclistas que gostam de atacar.

Pode ver aqui a classificação da primeira etapa.




»»Vegni garante que se Froome ganhar o Giro a vitória não será retirada. A UCI não tem tanta certeza...««

»»Um Giro com muitas distracções mas a prometer espectáculo««

Sem comentários:

Enviar um comentário