19 de maio de 2018

Froome está vivo, mas nem ele, nem o Zoncolan vergaram Simon Yates

(Fotografia: Giro d'Italia)
Que ambiente deveria estar no Zoncolan! As imagens foram impressionantes. A previsão apontava para cem mil pessoas! Sim, já se viu este tipo de "moldura humana" noutras grandes subidas (e não só), mas não deixa de criar alguns arrepios e principalmente de se pensar "quem me dera lá estar"!

Era um dia de praticamente tudo ou nada para Chris Froome. Mais do que recuperar muito tempo - o que não aconteceu - o britânico precisava de um sinal de que estava vivo neste Giro. O Zoncolan estava estudado ao pormenor por parte da Sky. Wout Poels apareceu finalmente e preparou o caminho mais perto do estilo habitual desta equipa (ainda assim foi o único a ficar com o líder, o que já não é tão habitual). Quando chegou o momento, Froome não falhou. Esta performance surge um dia depois de Egan Bernal ter sido fenomenal na Volta à Califórnia, que conquistou, além de vencer duas etapas. A nova geração da Sky dá sinais de estar cada vez mais perto de se transformar na imagem da equipa, mas o Froome ainda não está pronto para atirar a toalha ao chão, mesmo que ninguém esqueça que está pendente da decisão sobre o caso do excesso de salbutamol, substância para a asma. Contudo, até o processo ficar concluído, o que conta é o que faz em competição e no Zoncolan vimos o Froome que tem dominado na Volta a França.

Foram duas semanas muito complicadas para o ciclista, mas conquistar o "monstro" que é esta subida em Itália, dá moral para atacar a terceira semana. O único problema de Froome foi Simon Yates. O camisola rosa pode não ter conseguido apanhar o compatriota, mas 10 segundos de perda (seis na estrada, mas quatro na diferença das bonificações) em nada melindra a posição do corredor da Mitchelton-Scott. Pelo contrário. Froome pode ter mostrado que estava vivo, mas Yates respondeu demonstrado que continua muito forte e nem o Zoncolan o vergou.

(Fotografia: Giro d'Italia)
São inevitavelmente as figuras do dia, mas há que destacar Tom Dumoulin. Fez mais do que se aguentar. O holandês fez uma grande subida. Nunca entrou em pânico quando Froome, depois Yates com Domenico Pozzovivo e Miguel Ángel López também se afastaram. Encontrou o seu ritmo e um bom ritmo. A forte concorrência deste Giro está a trazer ao de cima um cada vez melhor Dumoulin. O ciclista da Sunweb perdeu 43 segundos (entre o tempo na estrada e a bonificação de Yates), mas com 1:24 a separá-lo de liderança, a sua arma, o contra-relógio, poderá ainda mudar o rumo dos acontecimentos que continuam a favor do britânico.

O esforço individual tem sido uma das obsessões de Yates. Muito tem o britânico dito que precisa de ganhar tempo na montanha. Antes das atenções se virarem para a 16ª etapa, na terça-feira depois do dia de descanso, há mais uma de montanha neste domingo. Serão uma terceira categoria e três de segunda. Mas é nos últimos 40 quilómetros que poderá haver mais acção, pois apesar do dia terminar a subir, nem sequer a ascensão está categorizada, não tendo extensão para permitir grandes diferenças.



Só depois desta etapa será possível fazer melhor algumas contas. Recuperar do Zoncolan será essencial para todos os homens da geral. Porém, certo é que Chris Froome reentrou na luta pelo pódio, pelo menos. Pela camisola rosa... é cedo para dizer. Yates não dá sinais de fraqueza. São 3:10 minutos para o camisola rosa e mesmo não sendo o melhor no contra-relógio, é difícil ver o ciclista da Mitchelton-Scott perder tanto tempo em 34,2 quilómetros, em condições normais. Tom Dumoulin até poderá tirar a rosa a Yates, mas mesmo estando a melhorar a forma, na montanha o britânico tem tudo para recuperar a liderança, se a vier a perder.

Mas como foi dito, o dia de domingo não será de recuperação. As diferenças podem aumentar, reduzir... Ainda há muito por decidir neste Giro. Como a classificação da juventude. Richard Carapaz foi um dos que não aguentou o ritmo dos favoritos. No Zoncolan não há ataques e contra-ataques, pois isso pode significar uma quebra física que deixará o ciclista a ver os outros irem embora. Froome atacou uma vez. Sabia que teria de ser certeiro. Fez mais uma pequena aceleração e depois foi manter o ritmo. Carapaz foi apenas um dos muitos que fez o possível para sobreviver ao Zoncolan, dez quilómetros de subida, com uma média de 11,5% de pendente média e 22% de máxima. Porém, o equatoriano da Movistar viu Miguel Ángel López tirar-lhe a camisola branca por 14 segundos.

E finalmente houve boas notícias para a Astana. Continua sem ganhar a desejada etapa - o Zoncolan estava nos planos, mas Froome e a Sky não deram hipótese -, contudo, não só López apareceu bem, como além de ser líder na juventude, reentrou no top dez (sexto), onde também continua Pello Bilbao (nono).

Yates voltou a estar em grande nível em mais um teste à liderança,
um dos mais sérios desta Volta a Itália (Fotografia: Giro d'Italia)
Dali saíram Rohan Dennis (BMC), o primeiro a ceder quando se entrou nos oito quilómetros finais, os mais brutais desta subida. Porém, se conseguir não perder mais tempo neste domingo, os 28 segundos que o separam de Patrick Konrad (Bora-Hansgrohe), 10º na geral, são recuperáveis no contra-relógio, a sua especialidade. Pode até subir mais um lugares. Claro que ainda falta uma terceira semana com muita alta montanha... Ainda assim, há que dizer que o australiano até está a comportar-se bem melhor do que o esperado nas etapas mais difíceis.

Fabio Aru também caiu, três lugares, sendo agora 13º. O italiano da UAE Team Emirates está a ser uma das maiores desilusões do Giro. Vitória, pódio, nada está na equação e com 5:33 de desvantagem, regressar ao top dez pode ser um objectivo, mas talvez seja altura de começar a pensar em ganhar uma etapa para salvar algo desta corrida.

Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) "só" saiu do pódio, desalojado por Domenico Pozzovivo - o italiano da Bahrain-Merida é cada vez mais um sério candidato a ficar com um destes lugares -, mas o seu sofrimento no Zoncolan levantou algumas dúvidas. Agarrou-se à roda de Dumoulin como se não houvesse amanhã e mesmo assim acabou por perdê-la já na parte final da subida. Estava a ser o ciclista que parecia estar mais perto do nível de Yates, mas neste sábado foi bem diferente. É absolutamente normal ter um mau dia numa grande volta e ficar a 1:46 minutos da liderança não é uma má situação para o francês. Agora falta perceber se foi apenas um mau dia.

Uma palavra para Johan Esteban Chaves. Nem para ajudar Yates o colombiano está em condições. Antes do Zoncolan já estava em dificuldades. Perdeu mais 26 minutos! 1:17.40 horas é o tempo acumulado por Chaves. Algo impensável! A Mitchelton-Scott tem uma decisão a tomar: deixar seguir o ciclista na esperança que desta vez o dia de descanso lhe faça bem ou retirá-lo da corrida e em vez de apostar só na Vuelta, levá-lo antes ao Tour. Este Giro é para esquecer para Chaves.

E ainda falta: José Gonçalves. O português da Katusha-Alpecin não desarma na luta por uma boa classificação nesta Volta a Itália. Foi 33º no topo de Zoncolan, perdendo 5:36. Caiu duas posições, para 22º, estando agora a 10:57. A desvantagem temporal poderá dar-lhe maior liberdade para atacar uma etapa. Na última semana, além do contra-relógio e da última etapa de consagração e para os sprinters em Roma, haverá três a acabar em alta montanha e que estarão na mira dos homens da geral. No entanto, na quarta-feira, é um dia para se apostar forte numa fuga.

O Zoncolan não desiludiu e deixou o Giro em aberto tendo em conta a muita dificuldade que o pelotão terá pela frente. Faltam seis subidas de primeira categoria, incluindo a Cima Coppi (ponto mais alto) no Colle delle Finestre (sexta-feira). Três delas estão guardadas para a etapa do próximo sábado (pode ver aqui as classificações).

Tim Wellens abandonou

Todos os que começaram a etapa chegaram ao fim. Mas Tim Wellens não esteve à partida. O belga, que venceu a quarta tirada, vai para casa devido a doença. A Lotto Fix ALL explicou que o ciclista estava com febre. Wellens lamentou não poder terminar a corrida, já que ambicionava a mais um triunfo. O ciclista referiu que desde a mudança de Israel para a Sicília que não estava a conseguir ter o sono em dia e que a situação não melhorou quando o Giro foi para o continente.

A Volta a Itália foi a quinta grande volta de Wellens e pela segunda vez não conseguiu terminar. O belga tem prevista a presença na Volta à Suíça em Junho, mas ainda não se sabe se estará no Tour ou na Vuelta.

O neozelandês Thomas Scully (EF Education First-Drapac p/b Cannondale) também não partiu para a 14ª etapa, elevando para dez os ciclistas que abandonaram a 101ª edição da Volta a Itália.




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