10 de maio de 2018

Haja coragem, união e qualidade! A Mitchelton-Scott tem a dobrar

(Fotografia: Giro d'Italia)
Não foi planeada, segundo Simon Yates, mas dificilmente a etapa poderia ter corrido melhor à Mitchelton-Scott. A equipa venceu no Etna com Johan Esteban Chaves, vestiu a maglia rosa com Yates e ainda demonstrou que tem ciclistas para ajudar os seus líderes (excelente exibição de Jack Haig). No primeiro dia de alta montanha no Giro101, a Mitchelton-Scott deixou bem claro que podem contar com ela para a luta. Podem contar com esta equipa para lutar pela vitória numa grande volta, a corrida que lhe falta no currículo. A formação muito tem evoluído desde que surgiu em 2012, com os objectivos de "caçar" etapas ou corridas de um dia, para se tornar numa força para as três semanas.

Tem sido um percurso trabalhado principalmente com Chaves e os gémeos Yates. Ainda é muito cedo para festejos numa corrida tão longa, mas se o colombiano esteve bem, o britânico esteve a um super nível. Depois do bom contra-relógio na etapa inaugural (perdeu apenas 20 segundos para Tom Dumoulin), Simon Yates comprovou como está num excelente momento de forma. Quando atacou no Etna, o seu colega Chaves estava na frente, com a etapa praticamente segura. Yates sabia que não podia levar ninguém com ele para não colocar em risco essa vitória, mas testou um pouco a concorrência e percebeu que ninguém o conseguiria acompanhar.

Em situação normal, teria passado por Chaves como um foguete, mas em momentos como este é preciso ter em mente como o ciclismo é um desporto de equipa. Yates trouxe o companheiro na roda nos metros finais, deixando-o ganhar. Foi preciso coragem para arriscar um ataque como aquele. Na meta, a união ficou ainda mais reforçada e se assim se mantiver, então os adversários vão ter duas grandes dores de cabeça para lidar, pois Yates e Chaves poderão fazer um jogo difícil de controlar, para tentar que um deles garanta a conquista do Giro. O colombiano é agora terceiro, a 26 segundos do colega e vestiu a camisola azul, de líder da classificação da montanha.

Para o colombiano, a vitória no Etna é muito importante depois de um 2017 para esquecer. Uma lesão no joelho estragou-lhe parte da temporada e Chaves nunca foi aquele ciclista que fez pódio no Giro e na Vuelta em 2016. Está de volta e em boa hora. Integrou uma fuga invulgar com mais de 20 ciclistas, com alguns a poderem ambicionar a vestir a camisola rosa. Porém, no Etna, Chaves os que ainda resistiam para trás, incluindo um jovem que está a suscitar cada vez mais interesse: Giulio Ciccone. O trepador da Bardiani-CSF já tinha estado bem na Volta aos Alpes e muito tentou ganhar pela segunda vez no Giro. A primeira foi há dois anos, com apenas 21 anos.

O Monte Etna foi este ano palco de um grande espectáculo
(Fotografia: Giro d'Italia)
A Mitchelton-Scott roubou por completo as atenções que estavam com tendência a centrarem-se em Tom Dumoulin e Chris Froome. Mas como se comportaram os candidatos à vitória e top dez no primeiro dia de alta montanha, além de Chaves e Yates?

Tom Dumoulin: Exibição q.b. do holandês, que venceu o Giro em 2017. Quando foi preciso acelerar para não perder contacto com os principais adversários, Dumoulin fê-lo, mas acabou por preferir tentar manter-se nesse grupo. Ainda é cedo para correr grandes riscos para o líder da Sunweb. De certa forma, testou-se a ele próprio. Manteve a segunda posição, estando a 16 segundos de Yates.

Chris Froome: O britânico disse que cumpriu o objectivo de se manter com os seus principais adversários. Mas não convence. Se este é um plano para mais tarde fazer algo impressionante para ganhar o Giro... É um plano estranho para Froome e Sky. Pelo menos não perdeu mais tempo, ainda que por momentos tenha ameaçado ficar para trás. Ao ciclista também falta uma equipa mais forte em seu redor. Wout Poels é para esquecer. Sergio Henao andou na fuga e acabou por descolar depois de ser alcançado, tal como David de la Cruz que rapidamente desapareceu. Valeu Kenny Elissonde, mas quando o ritmo aumentou muito, também não resistiu e ficou com Henao. Froome está em oitavo, a 1:10 minutos.

Thibaut Pinot: Está bem e poderá ainda melhorar. O francês da Groupama-FDJ foi terceiro, ainda tentou lançar uma perseguição à dupla da frente para reduzir a desvantagem, tendo acabado por levar com ele os restantes candidatos. Confirmou que podem contar com ele para discutir o Giro. Está a 45 segundos de Yates.

Fabio Aru: A UAE Team Emirates poderá estar a ficar algo ansiosa. Cortou a meta no grupo de Pinot, a 26 segundos de Yates, mas passou por momentos difíceis no Etna. Aquela sua característica de nunca desistir valeu-lhe uma resultado menos mal, mas o italiano ainda tem de melhorar se quiser discutir a corrida. Na geral fecha o top dez, a 1:12 minutos.

Domenico Pozzovivo: Começa-se a pensar se o italiano poderá estar com ideias bem ambiciosas para o Giro. Confirmou que está bem, tentou atacar e só a aceleração de Yates o deixou sentado. A Bahrain-Merida estará muito satisfeita com o seu líder e o melhor ainda poderá estar para vir. É um ciclista experiente que recebeu uma renovada dose de confiança ao ser contratado por esta equipa. A seguir com atenção... Está a 43 segundos da maglia rosa.

George Bennett: O chefe-de-fila da Lotto-Jumbo pouco se viu, mas fechou logo atrás de Thibaut Pinot. Um bom sinal do neozelandês que há três semanas foi contra um carro que se atravessou à sua frente durante um treino, antes da Volta aos Alpes. Está a 1:11 da liderança.

Miguel Ángel López: Tentou. Valeu isso. Mas ao Super-Homem faltou-lhe aquele arranque que lhe é tão característico e que desta vez foi Simon Yates quem o teve. No entanto, mesmo tendo chegado no grupo dos favoritos, já são 2:12 de desvantagem. A Astana tem Pello Bilbao a 1:03, apesar do espanhol não ter estado no seu melhor no Etna. Poderá ser altura de repensar a estratégia. Um top dez é possível, mas a ver vamos se ganhar etapas não passará para o topo da lista de prioridades.

Carlos Betancur: Parecia estar bem, mas acabou por não conseguir aguentar o ritmo da frente e perdeu 57 segundos. Tem agora 1:21 para recuperar e o colombiano poderá mesmo ter de repartir a liderança na Movistar com o jovem Richard Carapaz.

(Fotografia: Giro d'Italia)
Richard Carapaz: Esperava-se ver o equatoriano e ele não desiludiu. Aguentou-se no grupo dos favoritos, assumiu a liderança da juventude (Max Schachmann, da Quick-Step Floors perdeu quase dois minutos) e a Movistar tem definitivamente outra carta para jogar. Tem mais dois segundos que Betancur, mas já é difícil não lhe dar liberdade total para procurar o seu resultado. Se ganhar o Giro é difícil, um top dez, uma classificação secundária e, claro, vencer uma etapa são objectivos que a equipa espanhola procurará concretizar. Carapaz tem apenas 24 anos, mas é mais um jovem de talento a aparecer na Movistar.

Michael Woods: O canadiano da EF Education First-Drapac p/b Cannondale desiludiu. Cortou a meta com Betancur e já tem 1:39 para recuperar. Para quem queria que se voltasse a falar do seu país no ciclismo, depois de Ryder Hesjedal ter vencido o Giro em 2012, Woods terá de melhorar bastante na alta montanha para estar na luta pelo top dez, como deseja.

Rohan Dennis: Tentou aguentar, lutou para se manter na roda dos favoritos, mas a alta montanha não é para o australiano. Não na perspectiva de quem precisa estar praticamente sempre bem neste tipo de etapas para ganhar uma grande volta. Não surpreendeu que Dennis tenha perdido a rosa e é possível que ainda o venhamos a ver noutras etapas e de certeza no contra-relógio. Mas Dennis continua longe de ser o voltista que se propôs em transformar.

José Gonçalves: Muito se gostaria de o estar a colocar entre os favoritos! E a verdade é que o português voltou a estar muito bem. Durante muito tempo esteve com os favoritos. Porém, foi descolando e perdeu 1:45. Mas tendo em conta que a alta montanha não é a sua especialidade, não restam dúvidas que o português quer deixar a sua marca neste Giro e vincar a sua posição na Katusha-Alpecin. Saiu do top dez, sendo agora 20º, a 2:06 minutos. Mas ainda se vai falar mais de José Gonçalves...

Foi apenas a sexta etapa e em mais de duas semanas de prova tudo pode mudar, mas pelo menos este ano o Etna deixou-nos ver os homens da geral a começar já a lutar por um bom resultado e em Itália a corrida ameaça ser muito aberta, mesmo com Chris Froome e a Sky (não tão super como no Tour) em prova (pode ver aqui as classificações completas).

Sétima etapa: Pizzo-Praia a Mare, 159 quilómetros

Eis a oportunidade para os sprinters tentarem bater Elia Viviani, que venceu os dois primeiros, ainda em Israel. Porém, haverá uma grande diferença. Todos vão ter nas pernas três dias bem complicados, que acabaram com a subida ao Etna. A ver vamos como reagem os homens rápidos do pelotão, ainda mais tendo em conta que, apesar da etapa ser essencialmente plana, a cerca de 20 quilómetros haverá uma subida que poderá testar a recuperação dos sprinters do esforço dos últimos dias, além de poder proporcionar algum ataque.

O Giro deixa a Sicília para entrar no continente e com a proximidade do mar, já se sabe: cuidado com o vento.



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