8 de maio de 2017

Sérgio Paulinho e Américo Silva recordam as participações na Volta a Itália

(Fotografia: Giro d'Italia)
Sérgio Paulinho e Américo Silva. Duas gerações de ciclistas portugueses, amigos e agora líder e director desportivo da Efapel. Actualmente trabalham em prol de tentar vencer a Volta a Portugal, no regresso de Paulinho a Portugal depois de 12 anos ao mais alto nível, mas no currículo de ambos está uma Volta a Itália. Em ano da 100ª edição da corrida, o Volta ao Ciclismo foi recordar a experiência de ambos nesta corrida, que está na sombra do Tour, mas que tem por hábito oferecer bons espectáculos de ciclismo. Ambos adoraram a experiência e Sérgio Paulinho disse mesmo que recomenda aos ciclistas portugueses que tiverem a oportunidade a fazer o Giro.

"Nestes últimos anos, a corrida que mais adorei fazer foi o Giro. É tudo em si... o convívio que há no Giro acaba por ser diferente de todas as outras corridas. Recomendo", salientou o ciclista da Efapel. Foi em 2015 que Sérgio Paulinho foi chamado para estar em Itália, a grande volta que lhe faltava. "Era um desejo que sempre tive e estive ao ponto de não o concretizar porque não fazia parte do meu calendário em 2015. Só fui à última hora porque no início do ano a minha forma era boa, as coisas estavam a correr-me bastante bem e a equipa decidiu levar-me", recordou. Competitivamente acabou por ser mais uma grande volta que ajudou Alberto Contador a conquistar - Paulinho terminou na 97ª posição, a mais de quatro horas do colega -, mas o português salienta também outros factores que o fizeram adorar as três semanas que passou no Giro, comparativamente com a Volta a França.

"Os hotéis são muito melhores, a comida é muito melhor. Quando falo da comida, falo daquela que costumamos comer, as massas, o arroz... é completamente diferente. Para mim o Giro tem tudo para ser melhor do que o Tour. O único problema da Volta a Itália, por vezes, é a meteorologia, devido às suas datas. Se calhar, se trocássemos o Giro pelo Tour, acho que logo no primeiro ano o Giro teria muito mais impacto do que o Tour", referiu. Mesmo em termos de público, o ciclista destacou que em Itália é melhor.

Das três grandes voltas, Sérgio Paulinho considera que a italiana é a mais dura. Contudo, destaca então um outro factor extra-corrida: o convívio. "Só para se ter uma ideia, há sempre aqueles espaços a que chamamos villages, onde estão os stands dos patrocinadores e que nós podemos visitar. Mas no Tour é praticamente impossível. Ou seja, no Tour, levantamo-nos, tomamos o pequeno-almoço, vamos para o autocarro, do autocarro vamos directos para a partida. Não podemos ir visitar os stands, tomar um café com amigos do pelotão... No Giro isso é possível fazer e é uma coisa que nós ciclistas gostamos, esse convívio, de tirar fotos com miúdos que nos vêm ver, que querem as fotos com os seus ídolos. E depois é aquele tempo de café: dentro de uma hora és meu adversário, mas agora somos amigos! Isso encantou-me", contou.

É preciso recuar até 1993 para falar da presença de Américo Silva na Volta a Itália. Terminou na 116ª posição, a mais de duas horas do vencedor, Miguel Indurain. Teve como melhor resultado o nono lugar numas das etapas. "Não me correu muito bem. Naquele ano fizemos a Volta a Espanha e Giro, que eram corridas muito em cima uma da outra. Eu estava numa equipa pequena e não havia o intuito de estar bem no Giro, era mais nas provas em Espanha. Eu fui dos poucos da equipa que terminou a corrida", recordou. 

Mesmo não tendo corrido bem, Américo Silva realçou que gostou muito de estar no Giro e comparou com a Volta a Espanha: "O nível competitivo era superior." Porém, disse que a organização era melhor na Vuelta. Quanto ao facto do Giro estar sempre atrás do Tour a nível de importância e de preferência da maioria dos ciclistas, ainda que tenha até possa proporcionar melhores espectáculos, o director desportivo da Efapel realçou que a Vuelta tem sido a mais espectacular nos últimos anos e mesmo assim está em terceiro nesse "ranking" das grandes voltas.

"A grande diferença que existe é que normalmente para o Giro e Vuelta meia dúzia de ciclistas preparam-se bem. Na Volta a Itália são os italianos e normalmente na Vuelta, os espanhóis, mas um ou outro estrangeiro. No caso do Tour, todos os ciclistas que lá estão vão na máxima força. Ninguém vai lá a dizer a dizer que vai preparar outra corrida. No Giro alguns dizem isso. A Volta a Espanha como é a última e como andaram bem no Giro ou no Tour, então há uma elite que a disputa. Só por este discurso percebe-se que o Tour... é o Tour. Todos partem com o objectivo de estar muitíssimo bem na Volta a França", explicou.

No entanto, considera que este ano poderemos estar perante um Giro mais competitivo, até pela presença de vários líderes que, ao terem essa posição numa equipa, querem ganhar. E claro, na Volta à França há um Chris Froome e uma Sky que diminuem muito a possibilidade de alguém vencer, o que faz com que alguns ciclistas olhem para a corrida italiana como a possibilidade de vencer uma grande volta. E depois, ser 100ª edição também tem o seu peso.

Candidatos ameaçam começar a atacar já no Etna

Quanto à actual edição, as primeiras três etapas da Volta a Itália foram mais a pensar nos sprinters, ainda que na segunda uma subida de segunda categoria dificultou a vida de alguns dos homens da rápido. Se na maior parte dos dias foram tiradas do mais expectável no ciclismo - fuga, com equipas dos sprinters a perseguir - os finais acabaram por ser bem interessantes. No primeiro dia foi Lukas Pöstlberger a grande surpresa. Tentou preparar o sprint para o colega Sam Bennett, mas ganhou vantagem e acabou por vencer, com a Bora-Hansgrohe a começar o Giro - a sua primeira grande volta como equipa World Tour - com todas as camisolas, já que Cesare Benedetti ficou como líder da classificação da montanha.

Na segunda etapa, André Greipel venceu a sétima da sua carreira no Giro, mas no dia seguinte o vento proporcionou um grande espectáculo, com a Quick-Step Floors a "partir" o pelotão. Fernando Gaviria venceu na sua estreia no grande volta e Bob Jungels ganhou uns segundos aos restantes candidatos. Três etapas, três líderes e esta terça-feira haverá certamente um novo.


Depois do dia de descanso, os ciclistas terão pela frente a primeira chegada em alto. O Etna poderá começar a marcar desde já diferenças, tendo em conta o discurso de alguns dos favoritos. Geraint Thomas (Sky) está com ideias, assim como Steven Kruijswijk (Lotto-Jumbo). Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida) admite como seria perfeito estar vestido de rosa quando na quarta-feira a etapa acabar em Messina, cidade onde nasceu. Tejay van Garderen (BMC) diz que está a sentir-se muito bem, mas fala mais em defender-se do que propriamente atacar. Serão 181 quilómetros entre Cefalù e a meta no Etna (gráfico da subida final em baixo).


Numa corrida de 21 dias, pode parecer cedo para tentar ataques muito fortes. Porém, tendo em conta que só no domingo os candidatos voltarão a ser colocados em prova, com mais uma chegada em alto, em Blockhaus, é provável que se comece a assistir a alguns testes, nem que seja tentar perceber quem está e não está bem.

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