11 de maio de 2017

O Giro com o síndrome do Tour

(Fotografia: Giro d'Italia)
Será que a presença de ciclistas que normalmente apostam na Volta a França pode tirar aquela característica de ataque que tanto se tem visto no Giro nos últimos anos? Ainda é cedo para dizer que a Volta a Itália poderá vir a sofrer do mal do Tour, onde os ciclistas são muito mais calculistas e mais previsíveis, mas vai apresentado alguns sintomas preocupantes.

Para o Giro100 a organização preparou um percurso especial, com uma última semana brutal, mas até lá com etapas que tinham (e têm) o objectivo de proporcionar algum espectáculo através de ataques, não necessariamente sempre dos candidatos à vitória. No entanto, quando se está prestes a fechar e primeira semana da Volta a Itália, a corrida tem vivido muito à custa de ciclistas que só no final têm animado (e bem, admita-se) as etapas, mas falta aquela agressividade a que estamos habituados a assistir nesta prova. Agressividade no sentido de vários ciclistas procurarem mais intensamente a vitória.

Até ao momento tem sido muito do mesmo. Fuga e perseguição. Felizmente as surpresas têm surgido, como a Lukas Pöstlberger (Bora-Hansgroje) na primeira etapa, Jan Polanc (Bahrain-Merida) no Etna e claro que os sprints de André Greipel e de Fernando Gaviria também foram espectaculares. Mas há que admitir, sabe a pouco.

Além do percurso especial para uma 100ª edição, a organização também teve a expectativa de chamar ciclistas que normalmente apostam no Tour. Nairo Quintana (Movistar) respondeu ao apelo, assim como Thibaut Pinot (FDJ) e Bauke Mollema (Trek-Segafredo), por exemplo. Tom Dumoulin (Sunweb) e Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin) preferiram adiar a sua aposta na Volta a França para aparecerem ao seu melhor em Itália. E claro, a Sky que quer de uma vez por todas vencer outra grande volta, com Geraint Thomas ou Mikel Landa (é mais com o britânico, mas o espanhol lá ficou com o dorsal um da equipa).

É notório que o Giro pode ter dois grandes candidatos - Quintana e Nibali -, mas é dos anos em que mais ciclistas aparecem com o desejo e com as condições de darem muita luta. Porém, aquela imprevisibilidade que tanto se via na Volta a Itália, está a dar lugar a um maior calculismo, que tanto caracteriza o Tour. Tem sido possível observar como as equipas têm protegido os seus líderes e como não há intenções de surpreender, quando ainda falta tanto para o fim. Ninguém quer arriscar cedo de mais. É para ganhar sem loucuras e com a lição bem estudada.

Sofre o espectáculo, até porque grande parte das melhores equipas têm um líder com o objectivo de ganhar ou pelo menos chegar ao pódio e trouxeram homens de trabalho de elevada qualidade Logo, não há muita gente em algumas formações com liberdade para grandes movimentações. Tal significa um maior controlo da corrida, menor espaço para surpresas e menos espectáculo.

Perante esta realidade, é possível que teremos de esperar por domingo, quando a subida ao Blockhaus poderá mexer mais a sério com a geral, já que na segunda-feira é dia de descanso. E na terça-feira haverá o primeiro contra-relógio (39,8 quilómetros). A ver vamos se as hostilidades vão mesmo ser abertas nessa altura, ou se haverá contenção até às decisões nas Dolomitas (Alpes).

A sexta etapa foi o exemplo de como há a tentativa de controlar a corrida ao máximo. Lá houve uma fuga logo nos primeiros metros, mas foram só quatro os ciclistas que "tiveram autorização" para sair do pelotão. Aqui e ali parecia que algumas equipas, como a Quick-Step Floors ou a Sunweb, poderiam tentar apanhar os fugitivos, mas houve a tal contenção. Não havia necessidade de correr riscos e nem as bonificações no final de uma etapa marcada por uma rampa a 10% seduziu a alguém a tentar ganhar uns segundos e uma tirada.

Restou o quarteto para dar algum espectáculo. Bem, acabou por ser um trio já que Simone Andreetta (Bardiani-CSF) não conseguiu acompanhar o ritmo nos últimos dois quilómetros. Pöstlberger tentou repetir a graça da primeira etapa, mas foi Silvan Dillier (BMC) e Jasper Stuyven (Trek-Segafredo) quem discutiram a vitória ao sprint. Nesta etapa foi o suíço que proporcionou o momento de emoção, já que bateu o belga que era mais do que favorito a ganhar o duelo. A BMC somou a 22ª vitória do ano (e que ano fenomenal que está a ser para a equipa americana) e os suíços tiveram a sua alegria numa altura em que procuram um novo ídolo, após a retirada de Fabian Cancellara.


Giro d'Italia - Stage 6 - Highlights por giroditalia


Silvan Dillier tem 26 anos e foi o seu primeiro triunfo numa grande volta. No seu curto currículo conta com uma Volta à Normandia, uma etapa e um segundo na geral na Artic Race e também venceu o Tour de Alberta (corrida de um dia). É um ciclista muito completo e chamou agora a atenção sobre ele, dando uma vitória a uma equipa que tem um líder, Tejay van Garderen, que nesta altura é uma fonte de desconfiança depois de ter sido uma das grandes promessas americanas.

Já Stuyven passou mais uma vez ao lado de uma grande vitória, desperdiçando também a oportunidade de vestir a maglia ciclamino, que está com Fernando Gaviria, um dos seus objectivos para esta Volta a Itália.

Depois de 217 quilómetros entre Reggio Calabria e Terme Luigiane, esta sexta-feira serão 221, que irão ligar Castrovillari a Alberobello. Haverá uma subida de quarta categoria a cerca de 70 quilómetros do final, mas se há etapa que os sprinters querem agarrar é esta, até porque as oportunidades estão a esgotar-se, pois só há mais uma que será claramente para eles.



Veja aqui as classificações após a sexta etapa da Volta a Itália.

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