12 de maio de 2017

Sete etapas sem vencedores italianos no Giro. A crise chega agora às vitórias e logo na 100ª edição

É em Nibali que cada vez mais recaem todas as esperanças não só de vencer
o Giro, mas de conquistar também etapas (Fotografia: Giro d'Italia)
Sete etapas, zero vencedores italianos. Eis algo que em Itália não se está habituado quando se fala do Giro. Porém, em ano de edição centenária, o facto é apenas mais uma demonstração de como o ciclismo italiano enfrenta uma enorme crise, para a qual não parece existir solução à vista. É certo que um dos principais candidatos é italiano, Vincenzo Nibali, contudo, se há animadores no Giro, costumam ser os italianos. A realidade tem vindo a mudar nos últimos anos e a modalidade vive momentos que podem deixar uma tremenda desilusão numa edição tão especial, principalmente se Nibali não ganhar.

Não falta talento, nem ciclistas com talento a aparecer. Os italianos até estão em maior número no pelotão do World Tour, comparativamente com nacionalidades como francesa e espanhola, belga e holandesa, também elas muito representadas, como é habitual. No entanto, a saída da Lampre do ciclismo deixou um vazio quanto a equipas transalpinas ao mais alto nível. Os equipamentos rosas há muito que andavam no pelotão e desde há algum tempo que eram os que representavam Itália ao mais alto nível. Em 2017 restaram quatro equipas Profissionais Continentais (segundo escalão) e nenhuma está a ter um ano particularmente brilhante. A Androni Giocattoli já se tem mostrado, mas nem convite para o Giro recebeu. E a verdade é que se haveria equipa para animar a corrida, esta seria uma delas, certamente. A outra seria a Bardiani-CSF. Essa sim está na Volta a Itália, mas tornou-se mais um exemplo de como a reputação do ciclismo italiano está em baixa. Antes do Giro começar, Nicola Ruffoni e Stefano Pirazzi foram afastados devido a um teste de doping positivo.

A globalização, que também atingiu inevitavelmente o ciclismo, fez com que mais nacionalidades começassem a aparecer, terminando a hegemonia belga, holandesa, italiana, francesa e mais tarde espanhola. Britânicos, americanos, até portugueses têm vindo a aumentar a sua presença, tal como países que ainda há uma década ou pouco mais seria impensável ver entre os melhores, como a Eslováquia, por exemplo. Isto não significa que Itália tenha perdido força no que diz respeito as ciclistas. Perdeu sim força relativamente a estruturas profissionais.

Quem acompanha o ciclismo há mais tempo certamente que se recorda de patrocinadores como a Mapei, Liquigas, Fassa Bortolo e a Mercatone Uno, esta última que tanta fama ganhou na era de Marco Pantani. Aos poucos as empresas foram desaparecendo do ciclismo, sendo a última a Lampre. Durante um tempo ainda se pensou que a empresa poderia ficar como patrocinador secundário da actual UAE Team Emirates, mas a decisão foi sair por completo, terminando uma relação com a modalidade que durava desde os anos 90.

Em 2016 chegou a Segafredo, mas juntou-se à Trek (americana), enquanto as marcas de bicicletas, Pinarello e Colnago, por exemplo, estão ligadas a equipas de diferentes nacionalidades. Algumas das principais figuras do ciclismo italiano têm alertado para o afastamento das grandes empresas da modalidade naquele país e casos como os de Ruffoni e Pirazzi não ajudam. Não se pode esquecer que também continua a pairar as acusações de ciclistas pagarem para correr em determinadas equipas, com um dos suspeitos a ser Gianni Savio (foi absolvido em tribunal), da Androni Giocattoli.

Mas o maior problema continua a ser uma crise que por mais que vendam a ideia que o pior já passou, ainda há muita gente com a corda ao pescoço, pelo que o apoio (muito dispendioso) a uma equipa de ciclismo, ainda mais se for do World Tour, é algo complicado de se concretizar. Mesmo as formações do segundo escalão sofrem para continuar vivas. A Nippo-Vini Fantini - que também ficou de fora do Giro - tem uma ligação com o Japão para ser financeiramente sustentável.

Em Itália lamenta-se que os "seus" ciclistas não tenham ainda conquistado qualquer vitória no Giro100. Lamenta-se que poucos tenham sido animadores das etapas. Lamenta-se que Sacha Modolo ou Giacomo Nizzolo, para nomear dois, sejam de grande qualidade, mas estão num patamar abaixo de ciclistas como André Greipel, Fernando Gaviria e Caleb Ewan. Elia Viviani nem foi convocado e Diego Rosa não tem a liberdade na Sky que tinha na Astana, Diego UIissi ficou guardado pela UAE Team Emirates para a Volta a França, ele que foi dos ciclistas mais interessantes de ver nas duas últimas edições, tendo vencido sempre etapas. Os outros italianos em prova têm funções mais de ajuda aos líderes e os que podem tentar algo terão muitas dificuldades dada a elevada qualidade do pelotão que este ano está na corrida.

Sem Fabio Aru, a esperança transalpina chama-se Vincenzo Nibali. Porém, mesmo que vença o Giro, será uma vitória que não irá apagar a crise que se vive no ciclismo em Itália, cujas estruturas profissionais vão diminuindo e teme-se que possa ainda piorar depois dos casos de doping na Bardiani-CSF (ainda se espera pelos resultados da contra-análise) e da Androni Giocattoli ir perder o seu principal patrocinador depois de ter ficado dois anos consecutivos fora do Giro.

Caleb Ewan confirma estatuto. Italianos fora da luta no sprint

(Fotografia: Giro d'Italia)
A bandeira italiana é constante no Giro, naturalmente, mas quando chega ao momento da consagração, não se vê nenhum transalpino. Nesta quinta-feira o melhor foi Enrico Battaglin (Lotto-Jumbo), que terminou na sétimo, mas já com um corte de dois segundos. Para se ver, apesar dos sprinters italianos em prova, foi Vincenzo Nibali quem fechou o top dez.

Relativamente a uma etapa que valeu pelos últimos metros, Caleb Ewan (Orica-Scott) conseguiu finalmente a vitória que tanto procurava, a primeira no Giro, segunda em grandes voltas (já tinha uma na Vuelta de 2015). Este era o triunfo que o pequeno australiano de 22 anos tanto procurava para continuar a sua afirmação entre a elite do sprint, agora no Giro. Fica a faltar uma vitória no Tour. Ewan bateu um super Fernando Gaviria (Quick-Step Floors), que ao não estar na melhor posição quando o australiano arrancou, foi obrigado a ultrapassar ciclistas, o que o atrasou um pouco. Em terceiro ficou Sam Bennett (Bora-Hansgrohe), que aos poucos também vai tentando aparecer entre os melhores.


Giro d'Italia - Stage 7 - Highlights por giroditalia

Na classificação geral tudo na mesma, com Bob Jungels (Quick-Step Floors) a continuar de rosa. Gaviria é que aproveitou todos os sprints intermédios para ganhar pontos a Jasper Stuyven que é assumidamente o seu rival para a maglia ciclamino, ainda que para já pareça difícil bater o colombiano.

Veja aqui as classificações após a sétima etapa.

Este sábado poderá ser um dia de maior nervosismo. A etapa endurece um pouco, mas o pensamento vai estar na subida ao Blockhaus no domingo, tirada em que poderemos finalmente começar a ver os candidatos a mexerem na classificação. Mas antes será necessário cumprir os 189 quilómetros entre Molfetta e Peschici, com uma contagem de segunda categoria que poderá partir um pouco o pelotão. Uma fuga, ou um ataque na quarta categoria a pouco mais de 40 quilómetros da meta poderão decidir o vencedor, já que as equipas dos favoritos deverão tentar controlar a corrida de forma a que as forças possam ser poupadas ao máximo para o Blockhaus.


Sem comentários:

Enviar um comentário