10 de maio de 2017

Maglia ciclamino merece que seja Gaviria a vesti-la

Mesmo que não tivesse ganho a etapa, Gaviria já tinha somado
pontos suficientes para vestir a maglia ciclamino (Fotografia: Giro d'Italia)

Na Volta a França há praticamente sempre o interesse dos sprinters em chegar ao fim, nem que seja para disputar a histórica última etapa nos Campos Elísios. Alguns (cada vez menos) também ambicionam tentar ficar com a camisola verde, da classificação por pontos ou da regularidade. Porém, quando se fala da Volta a Itália, os sprinters querem ganhar umas etapas e ir para casa e começar a pensar no Tour. Quando se fala em ganhar a camisola dos pontos, há uma espécie de "não, obrigada", o que se quer é mesmo a Volta a França. Percebe-se que o mediatismo do Tour continua imbatível, mesmo que o interesse competitivo tenha nos últimos anos perdido para o Giro e Vuelta. Ainda assim, é impossível não considerar que há um pouco desrespeito quando os ciclistas que são candidatos à referida classificação e até podem ter a camisola vestida, mas optam por abandonar. Nem tentam.

Há um ano, a organização do Giro não ficou nada satisfeita por ver André Greipel e Marcel Kittel saírem da corrida depois de terem dominado nas etapas planas. Giacomo Nizzolo acabou por ser o vencedor da então camisola vermelha, mas ficou a sensação que só o foi porque os melhores foram para casa mais cedo. Naturalmente que o homem da Trek-Segafredo merece ter o mérito, pois quis a camisola e enfrentou as montanhas do Giro, somou pontos quando conseguiu, não venceu nenhuma etapa, mas fez por ganhar a classificação.

Este ano tudo parece que será diferente. Se no Tour é Peter Sagan que tem assumido sempre o desejo de vencer essa classificação - deseja e ganha mesmo - este ano no Giro aparece um Gaviria que assumiu o objectivo de ficar com a maglia ciclamino, no regresso desta cor no Giro100. Pela primeira vez em alguns anos, esta classificação tem não só alguém que a quer ganhar, como esse alguém é um dos melhores sprinters da competição e um que ameaça estar a caminho de ser um dos melhores do mundo (se é que já não o é). Esta camisola já foi ganha por grandes nomes e está na altura de ter mais um.

Aos 22 anos, este raro talento colombiano para o sprint está a fazer a sua primeira grande volta. Gaviria já disse que quer mesmo terminar, até para assim assimilar uma maior experiência nestas corridas de três semanas. Esta atitude revela que Gaviria poderá muito bem ser um sério adversário de Sagan no Tour num futuro próximo. Para o ciclista da Quick-Step Floors chegar a Milão é importante e terminar envergando a maglia ciclamino é um enorme desejo. Gaviria tem aquele instinto de ganhador nato e este Giro servirá também para perceber se além de etapas, poderá também escrever a sua história numa classificação muitas vezes vista como secundária, atrás mesmo da tabela da montanha.

Fernando Gaviria está a tentar somar pontos em todos os sprints intermédios e já soma duas etapas, o que, independentemente do que aconteça nas próximas duas semanas e meia, significa que já mais do que cumpriu o que se lhe pedia. Claro que há factores que influencia esta sua ambição, além do referido instinto de ganhador. O colombiano é ainda jovem e com vontade de consagrar-se rapidamente na elite. Depois é Marcel Kittel o sprinter escolhido pela equipa belga a apostar no Tour, pelo que Gaviria não é influenciado por uma participação que o poderia deixar em pensar igual a outros: abandonar para aparecer bem em França.

Já não sobram muito mais oportunidades para os sprinters ganharem na Volta a Itália e aquela última semana é normal que assuste qualquer ciclista com poucas características de trepador. No entanto, apesar de ainda só estarem cinco das 21 etapas concluídas, a maglia ciclamino poderá muito bem ter encontrado o ciclista que é merecedor de a vestir. André Greipel já deixou entender que vai repetir a opção de ir para casa mais cedo, Caleb Ewan dificilmente quererá enfrentar as etapas de alta montanha, Giacomo Nizzolo poderá estar a ser ultrapassado por Jasper Stuyven, que também já está a tentar somar pontos. No entanto, a ganhar etapas a este ritmo e a lutar em todos os sprints intermédios, será difícil alguém bater Gaviria.


Giro d'Italia - Stage 5 - Highlights por giroditalia

E esta quarta-feira, o poderio deste colombiano e o trabalho de equipa da Quick-Step Floors voltaram a deixar os adversários a ver Gaviria pelas costas. Literalmente! O ciclista foi de tal forma mais forte no caótico sprint, num percurso extremamente técnico, que os seus adversários limitaram-se a vê-lo levantar os braços e limitaram-se a lutar pelo segundo lugar.

Já agora, não se refere a Vuelta neste texto, porque apesar de também existir essa classificação, não se pode apontar o dedo aos sprinters por não a quererem conquistar. Afinal, etapas para eles são praticamente inexistentes.

A quinta tirada no Giro teve então Gaviria como vencedor. A Quick-Step Floors está a repetir a Volta a Itália fenomenal que teve em 2016, ainda que com uma equipa bem mais jovem e inexperiente. Já são duas vitórias de etapas, com Gaviria e Jungels a já terem vestido a maglia rosa, que o luxemburguês mantém e que dificilmente perderá pelo menos até domingo.

Erro de contagem de Pibernik. Esloveno festejou cedo de mais
(Fotografia: Twitter @giroditalia)
Na despedida da Sicília de Vincenzo Nibali, o dia acabou por ficar marcado por um daqueles momentos insólitos que as chegadas em circuito de vez em quando proporcionam. Luka Pibernik (Bahrain-Merida) tentou fazer o mesmo que Lukas Pöstlberger (Bora-Hansgrohe) na primeira etapa. Aproveitou uma rotunda para ganhar vantagem do pelotão, pedalou como provavelmente nunca o fez para tentar uma vitória, levantou os braços a festejar, mas de repente olhou para trás e viu que os ciclistas aproximavam-se a uma velocidade de loucos! Pibernik enganou-se na contagem, pois era só à segunda passagem pela meta que se discutiria a etapa. Acontece, mas é sempre algo constrangedor. Pibernik acabou por ser o 148º a cortar a meta, quando foi mesmo a valer.

Esta quinta-feira voltamos às maratonas, com 217 quilómetros à espera do pelotão. Não é uma é uma etapa que se possa dizer que seja de caras para os sprinters. Apesar da terceira categoria ser muito cedo e haver tempo para recuperações, a verdade é que o final é tudo menos plano. Só uma subida está categorizada (quarta), mas é um sobe e desce constante que criará problemas a homens como Caleb Ewan, por exemplo.



Será um dia para uma fuga até ter a sua oportunidade e é difícil não olhar para o gráfico da sexta tirada entre Reggio Calabria e Terme Luigiane e não pensar em José Gonçalves. O ciclista da Katusha-Alpecin adapta-se na perfeição a este tipo de terreno. Falta perceber se o abandono forçado de Kochetkov (caiu na quinta etapa) e com Losada ainda a tentar recuperar da queda de ontem - voltou a ser o último a cortar a meta -, a equipa poderá dar ordem para proteger Ilnur Zakarin, que tem estado algo azarado neste Giro. Mas se houver liberdade, então esta é etapa para José Gonçalves disputar.

O Giro entra agora no continente depois de passar pelas ilhas da Sardenha e da Sicília. A partir de agora é sempre a ir em direcção a norte e as fotografias que chegam do Stelvio (nos Alpes), por exemplo, revelam uma montanha com muita (mesmo muita) neve, pelo que as temperaturas mais amenas dos primeiros dias - menos na subida ao Etna - podem agora ser substituídas por umas bem mais fresquinhas à medida que o pelotão for subindo rumo ao norte do país.

Veja aqui as classificações completas após a quinta etapa.

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