7 de maio de 2017

Veio o vento e foi 'showtime' da Quick-Step Floors

(Fotografia: Giro d'Italia)
Inteligência, preparação táctica e um trabalho de equipa exemplar. A Quick-Step Floors deu uma lição de colectivo pouco vista no ciclismo. É habitual ver o trabalho de protecção de líderes, perseguição de fugas, mas uma só equipa ao ataque, a "partir" o pelotão, provocando um pânico generalizado é raro, ainda mais em grandes voltas.

O vento apareceu para fazer a diferença na despedida do Giro da Sardenha e se havia várias equipas com a ideia de tentar fazer diferenças, a verdade é que foi uma que deixou quase todos para trás. Geraint Thomas (Sky) admitiu que queria aproveitar o vento para ganhar tempo, mas tanto ele como Vincenzo Nibali, Nairo Quintana e todos os outros candidatos acabaram a fazer um esforço enorme para não perder demasiado tempo. Só Thomas ainda esboçou uma reacção, mas perante a dificuldade em manter a bicicleta direita tal era a força do vento, teve de ver a Quick-Step afastar-se, ver Bob Jungels ganhar uns segundos e Fernando Gaviria abrir a contagem em grandes voltas.

Para três etapas na teoria mais previsíveis, o Giro começou bastante animado, graças à surpresa de Lukas Pöstlberger, à reacção portentosa de André Greipel e, este domingo, à Quick-Step Floors. Três tiradas, três líderes. A equipa belga merece todo o destaque, mas é impossível não falar deste fabuloso Gaviria. Aos 22 anos está a fazer a sua primeira grande volta e à terceira etapa estreou-se a vencer. Gaviria é o colombiano que quebra com a tradição ciclística daquele país. Não é o primeiro sprinter, mas a verdade é que estamos habituados a ver os colombianos como grandes trepadores e actualmente temos vários exemplos disso mesmo. Geneticamente são atletas com natural capacidade para terrenos difíceis, beneficiando também de nascerem e cresceram em altitude. Nairo Quintana não tem de fazer treinos específicos de altitude, basta ir treinar para a sua terra natal, como normalmente faz!

Mas regressando a Gaviria, o jovem sprinter teve a influência do pai que o motivou a tornar -se um sprinter. Na família há mais ciclistas, como a irmã, por exemplo, mas é Gaviria que cada vez mais parece destinado a grandes feitos. A etapa no Giro teve o bónus de uma maglia rosa que deixou o colombiano com dificuldades em segurar as lágrimas de emoção. Até as palavras estavam difíceis de sair. É certo que quem restou para sprintar e que não era da sua equipa, estava claramente em desvantagem. Mas Giacomo Nizzolo, por exemplo, não é um ciclista qualquer - venceu a classificação por pontos no Giro em 2016 -, mas Gaviria está a entrar naquela elite de sprinters destinada aos grandes, como Mark Cavendish, Marcel Kittel e André Greipel, só para referir os três principais nomes da actualidade. Foi a quinta vitória do ano para Gaviria (25ª da equipa), que venceu a primeira tirada na Volta ao Algarve.

Havia algumas dúvidas com esta Quick-Step Floors, que surpreendeu um pouco com as escolhas para a Volta a Itália. Apostou na juventude, que traz com ela inexperiência em grandes voltas. Depois de em 2016 ter sido fantástica - com Kittel, Brambilla e Trentin a vencer etapas, dos dois primeiros, mais Jungels a passarem pela liderança -, para este ano parecia claro que era em Gaviria que residia a esperança de vitórias e em Jungels para tentar intrometer-se na luta pela vitória. O colombiano já cumpriu e o luxemburguês fez aquilo que muito caracteriza a forma de estar no Giro: atacar, seja em que etapa for. Aqui não há controlos de ninguém durante três semanas.


Giro d'Italia - Stage 3 - Highlights por giroditalia

Jungels disse que a equipa queria surpreender aproveitando o vento. Não se pode falar que tenha sido uma surpresa, já que todas as formações estavam mais do que avisadas para aqueles ventosos últimos quilómetros. A questão foi união surgir no momento certo, muito por culpa de um Jungels que não se escondeu por trás da liderança que têm na Quick-Step Floors. Quis levar Gaviria à vitória, mas foi à procura de ganhar uns segundos. São só dez, mas a ver vamos se podem fazer a diferença quando a montanha chegar (e é já na terça-feira).

Os candidatos assustaram-se e tiveram de ir muito mais a fundo do que provavelmente desejariam nesta fase tão precoce da corrida. Mas o Giro é assim e a 100ª edição agradece!

Com excepção de Jungels, quase todos os restantes favoritos chegaram juntos. Nesse grupo estava Rui Costa (UAE Team Emirates), mas os outros dois portugueses não estiveram tão bem. José Gonçalves (Katusha-Alpecin) perdeu mais um 1:07 e começa a colocar-se numa boa posição para mais à frente na corrida tentar integrar uma fuga que possa triunfar. José Mendes cortou a meta com 1:17 minutos de atraso e perde terreno no objectivo de um bom lugar na geral, mas o outro líder da equipa, Jan Bárta também não foi mais feliz e já tem 1:40 minutos de atraso.

Entre os potenciais candidatos, o azarado do dia foi Rohan Dennis. O ciclista da BMC caiu e perdeu mais de cinco minutos. E já que falamos de azarados, desta vez também tocou a André Greipel (Lotto Soudal). O alemão conseguiu colar-se à Quick-Step Floors, mas um problema na bicicleta fê-lo desacelerar e já não houve hipótese de chegar à frente. O azar custou-lhe a maglia rosa.

Três dias a grande velocidade na Volta a Itália, que agora fará uma pausa invulgar muito cedo na competição, para permitir a viagem para a outra ilha: Sicília. Terça-feira, o Etna será o cenário para a primeira chegada em alto.



Sem comentários:

Enviar um comentário