25 de maio de 2017

Dumoulin e o desejo de ver Quintana e Nibali fora do pódio (agora é que o Giro anima de vez)

(Fotografia: Giro d'Italia)
As Dolomitas foram madrastas para o líder do Giro há um ano. Steven Kruijswijk deve ter tido um dia de emoções entre as dificuldades das montanhas e a frustração quando se recorda que foi por lá que perdeu a Volta a Itália de 2016. Porém, este ano houve um espectáculo bem diferente, com o líder a realizar uma demonstração de força que a certo ponto parecia que Dumoulin estava a tentar dizer a Vincenzo Nibali e a Nairo Quintana: "Oh p'ra mim!" Mas não foi preciso tentar adivinhar o que o holandês da Sunweb estava a pensar no final de uma etapa em que os principais rivais preocuparam-se em controlar o maglia rosa e não em defenderem-se do ataque de Thibaut Pinot e Ilnur Zakarin ao pódio. Já se percebeu que Dumoulin não tem problema em dizer as coisas como acham que são, mas se a honesta expressão do dia dos problemas gástricos acabou por fazer rir, o que disse hoje lançou de vez as bases para duas novas rivalidades: "Espero mesmo que a competir assim, que eles percam os seus lugares no pódio em Milão. Seria mesmo bom e eu ficaria contente."

Foi dito em directo, sem edições e para alguma surpresa de Juan Antonio Flecha que naquele momento entrevistava Tom Dumoulin para o Eurosport. E Flecha certamente que não foi o único a ser apanhado desprevenido. É um facto que está a faltar alguma emoção na luta pela maglia rosa, com Quintana a ser o único que ainda tentou atacar, mas que viu o seu esforço ser novamente frustrado por um Dumoulin confiante e em grande forma. Nibali ainda acelerou, mas continua a não convencer ninguém. Falta emoção na estrada, Dumoulin criou-a fora dela. Se o colombiano foi confrontado com as declarações do holandês, então não terá reagido.

Mas Nibali foi mesmo questionado e a reacção não foi menos agressiva. "Não me interessa o que o Tom diz. Acho que ele é um bocado pretensioso. Eu nunca falei assim. Ele demonstrou que está forte na corrida, mas não deveria falar tanto. Ele também pode perder o pódio. Deveria manter os pés bem assentes na terra e falar menos", afirmou Nibali. O melhor ficou para o fim: "Ele sabe o que é o karma? Cá se fazem, cá se pagam!"

E a guerra de palavras não acabou porque houve tempo de dizer a Dumoulin, na conferência de imprensa, o que Nibali havia afirmado: "Ele chamou-me pretensioso? Palavras fortes vindo dele..." Ou seja, Dumoulin quis dizer "olha quem fala"! O holandês explicou um pouco melhor porque estava tão zangado com os rivais. "Eu nunca estive em apuros, mas no final não estava completamente satisfeito com a situação. Teria preferido que estivéssemos todos juntos. Não percebo as tácticas deles. Fiquei frustrado e zangado porque ficaram na minha roda. Não os percebo", afirmou.

Não percebe Dumoulin, nem muita gente. Falta ainda três etapas. O contra-relógio é, em condições normais, a arma para Dumoulin garantir o Giro, o que significa que Quintana e Nibali têm dois dias para tirar a maglia rosa ao líder da Sunweb e ainda ganhar uma almofada de tempo para a etapa de domingo. É certo que com 31 segundos e 1:12 para Nibali, a diferença é recuperável nas montanhas que faltam, mas a atitude de hoje, principalmente do italiano, parece estar mais próximo de quem espera por outra dor de barriga do rival, do que propriamente de alguém que vá à procura de ser superior na estrada.

Como foi já foi referido, Quintana ainda atacou. A Movistar preparou a sua táctica e tudo estava a correr bem, até que Dumoulin demonstrou uma enorme classe. Mesmo sem apoio de companheiros, o holandês apanhou o colombiano e não mais o largou. Até fez que ia atacar, mas foi nessa altura que deu a ideia de estar a dizer "oh p'ra mim".

As palavras de Dumoulin, sobre o pódio de Quintana e Nibali, poderão muito bem em resultar numa aliança definitiva com a FDJ de Thibaut Pinot. Definitiva porque já hoje se viu a equipa francesa a dar uma pequena ajuda, tal como a Katusha-Alpecin de Ilnur Zakarin. Portanto, nas duas etapas em linha que faltam, as alianças poderão ganhar ainda mais relevância. Será interessante ver se Nibali e Quintana (uma aliança completamente inesperada) vão querer que Dumoulin engula as suas palavras ou se apenas vão ser novamente dominados pela nova estrela das grandes voltas no ciclismo.

Será desta que haverá animação entre os principais candidatos? E atenção, Pinot ficou a 1:36 minutos de Dumoulin. O pódio será o objectivo principal, mas o francês poderá aparecer de ambição renovada e eventualmente piscar o olho a algo mais. Estas alianças entre equipas duram apenas o tempo em que não é possível alcançar algo mais.

O Giro pode não estar a cumprir as expectativas criadas desde que o percurso foi anunciado, mas lá que Dumoulin está a saber animar as coisas, lá isso está!


Giro d'Italia 2017 - Stage 18 - Highlights por giroditalia

Van Garderen ganhou e Landa partilha com Rui Costa a frustração do segundo lugar

(Fotografia: Giro d'Italia)
Mikel Landa lutou pela camisola da montanha e pela etapa. O primeiro objectivo está quase selado, o segundo escapou-lhe pela segunda vez, experiência já vivida pelo português Rui Costa. Perdeu outra vez ao sprint, desta feita contra Tejay van Garderen, depois de Nibali ter sido o primeiro carrasco. Landa não baixa os braços, já o americano da BMC até chorou, numa clara demonstração de como a vitória o libertou, por agora, da enorme pressão que estava a sofrer. Foi o seu primeiro triunfo numa grande volta que não apaga ter falhado novamente como líder, mas que pelo menos poderá ajudar o ciclista a recuperar alguma confiança perdida, tanto nele próprio, como da equipa nele.

Van Garderen realçou precisamente como a nível de classificação geral não tem conseguido cumprir as expectativas que se criaram sobre ele quando Cadel Evans abandonou o ciclismo. Aos 28 anos não se livra de ser visto como um flop e a pressão inerente disso começava a ser demasiada para suportar. Antes da vitória de hoje, Van Garderen não conseguia recuperar a sua melhor versão há muito. Não vai voltar a ser visto como o americano que irá vencer uma grande volta, mas talvez consiga salvar um pouco a sua debilitada situação na BMC, que o relegou para o Giro, dando a liderança indiscutível a Richie Porte no Tour, depois de Van Garderen nunca ter ido além do quinto lugar na geral. A vitória é razão para festejar, mas não para relaxar. Rohan Dennis ameaça tirar-lhe o lugar de segundo líder, mesmo depois de abandonar o Giro devido a uma queda.

O dia de hoje ficou ainda marcado com a subida de Adam Yates a líder da classificação da juventude, depois da quebra de Bob Jungels. Mas esta luta está ao rubro com apenas 28 segundos a separar os dois ciclstas, com Davide Formolo a estar a 53 segundos. Yates reentrou ainda no top dez, com Jan Polanc a cair irremediavelmente para fora e a UAE Team Emirates perde assim a única compensação que tinha retirado da etapa de quarta-feira, quando teve quatro homens na fuga, mas não conseguiu vencer.

Para esta sexta-feira temos uma chegada em alto em Piancavallo e é provável que a acção principal seja guardada para esta subida.



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