16 de maio de 2017

Show de Tom Dumoulin no contra-relógio. Mas será que pode mesmo ganhar o Giro?

(Fotografia: Giro d'Italia)
Se tivesse sido Chris Froome a deixar os adversários a mais de dois minutos num contra-relógio na 10ª etapa do Tour, por esta altura estaríamos a dizer que teria a competição praticamente ganha, afinal o britânico tem uma super Sky a apoiá-lo e ele também é de outra categoria. Porém, estamos a falar de Tom Dumoulin que aos 26 anos está cada vez mais feito num ciclista de grande valor - mas ainda a ter de evoluir -, demonstrando que está a conseguir aliar as suas características de contra-relogista às de trepador. Contudo, tem desvantagens que terá de as saber gerir muito bem se quiser vencer a Volta a Itália. E a sua equipa é boa, mas não é a Sky da Volta a França.

Mas vamos por fases. No Blockhaus, no domingo, o holandês comprovou que a magreza com que apareceu no Giro era mesmo sinónimo de uma boa preparação para estar na discussão da corrida, defendendo-se muito melhor nas subidas, ao contrário do que aconteceu na Vuelta em 2015, quando não aguentou a derradeira dificuldade e perdeu a grande volta para Fabio Aru.

Esta terça-feira respondeu à questão se a perda de peso poderia prejudicar de alguma forma a sua performance no contra-relógio. Claramente não afectou minimamente. Quanto muito até está melhor. A vitória na etapa e a obtenção da maglia rosa não foram surpresa, já as distâncias que estabeleceu foram um pouco. Provavelmente nem Dumoulin sonharia em ter o segundo classificado, Nairo Quintana, a 2:23 minutos. É um resultado motivador para o holandês, mas que agora terá de saber gerir bem a emoção e eventualmente um entusiasmo que o possa fazer pensar em exagerar na defesa da liderança.

Respondendo directamente à pergunta no título: será que Dumoulin pode ganhar mesmo o Giro? Pode. O ciclista tem uma grande arma ainda para jogar que é o contra-relógio na última etapa. Será mais curto - 29,3 quilómetros contra os 39,8 de hoje -, sem subidas, o que até se poderá traduzir na capacidade de ganhar ainda mais tempo do que aconteceu nesta 10ª etapa. A principal preocupação de Dumoulin não poderá ser tentar manter a maglia rosa, terá de ser em ficar em posição de no contra-relógio depender só de si para vencer o Giro, à imagem do que fez Ryder Hesjedal quando bateu Joaquim Rodríguez em 2012.

Para quem gosta deste tipo de dados, aqui ficam os de Tom Dumoulin durante o contra-relógio.

Dumoulin demonstrou estar melhor na montanha. Mas se o Blockhaus era difícil, o pior ainda está para vir no Giro. Primeiro ponto em ter a atenção: na etapa de domingo o Blockhaus foi a grande dificuldade e a terminar a tirada, portanto, falta saber como irá estar Dumoulin quando chegarem as etapas brutais da última semana, com mais do que uma subida difícil por dia. E claro, há que ver como irá recuperar de dia para dia.

Ponto dois: a equipa. A Sunweb não é uma equipa qualquer. Há que ter em conta que não se importou nada de perder John Degenkolb, não se preocupando em substituir o alemão, preferindo em contratar ciclistas a pensar na ajuda a Tom Dumoulin. Wilco Kelderman foi uma dessas contratações e o abandono devido ao incidente com a moto da polícia no domingo deixou o líder da formação zangado. Ou talvez principalmente frustrado, pois percebeu que perdeu o companheiro que poderia ter um papel muito importante nas montanhas. Mas ainda sobram Laurens ten Dam, Georg Preidler e Chad Haga. São corredores de qualidade, que terão de se superar se realmente querem dar o apoio que Dumoulin vai precisar. Simon Geschke também terá o seu papel, mas mais para a média montanha.

Com mais de dois minutos de vantagem sobre todos os adversários, está garantido que este Giro não irá afinal sofrer do síndrome do Tour. Vai ser preciso atacar para não só reduzir diferenças, mas para ganhar alguma a pensar no contra-relógio final. Ou seja, Dumoulin vai ser atacado por todos os lados e não pode responder a todos. Mesmo que a equipa esteja muito bem, também será difícil apanhar todos os que tentem colocar a liderança do holandês em causa. Solução? Vamos ao ponto três, que até já foi abordado: Dumoulin não se pode preocupar em defender a todo o custo a maglia rosa. Vão ser todos contra Dumoulin, pelo que o ciclista terá de fazer o seu jogo, evitar desgastar-se em demasia. Se controlar perdas, mesmo que entretanto fique sem a liderança, Dumoulin tem tudo a ganhar por existir um contra-relógio na última etapa, não precisa de entrar em loucuras.

Antes de continuar, aqui fica um vídeo sobre a insólita subida ao pódio do novo maglia rosa. Dumoulin acertou com os cotovelos nas meninas... nas duas!

Alianças para atacar Dumoulin?

Com tamanha desvantagem é possível que aconteçam algumas. Nairo Quintana é o ciclista que mais pode depender da sua equipa, pelo que deverá manter a sua estratégia. Perdeu muito tempo, é certo, mas se há alguém que pode recuperar 2:23 na montanha, é ele, ainda mais quando conta com Andrey Amador e Winner Anacona, que estão em boa forma.

Thibaut Pinot, agora quarto classificado a 2:40 (era segundo antes do contra-relógio) esteve mal, tendo em conta que é o campeão francês do esforço individual. O francês até tem alguns companheiros que o podem ajudar. No entanto, poderá olhar para Bauke Mollema (Trek-Segafredo) como um aliado. O holandês até poderá estar aberto a uma aliança momentânea, até porque, por exemplo, se não fosse a roda de Dumoulin no Blockhaus, teria perdido muito tempo. Estabelecer uma plano com Pinot poderá ser a forma de não só ameaçar a liderança, como abanar um pouco Quintana e Mollema não conta muito com a sua equipa quando a alta montanha chegar.

E Vincenzo Nibali? O ciclista da Bahrain-Merida voltou a desiludir. Está a 2:47 minutos, mas já se sabe que o italiano gosta de recuperações milagrosas. Porém, não tem equipa para o ajudar nas montanhas e falta saber se alguém quer fazer uma aliança com Nibali. Com Mollema será difícil, já que a Trek-Segafredo não deverá ter-se esquecido do não do ciclista quando foi abordado para assinar pela equipa americana. Pinot foi terceiro classificado no Tour que Nibali venceu e estará mais determinado em deixar o rival para trás do que em dar-lhe uma ajuda.

A Nibali poderá restar tentar convencer Domenico Pozzovivo (AG2R) e/ou Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin), dois corredores mais com objectivo de pódio do que de vitória no Giro, ou seja, com ambições que não chocam com a do italiano da Bahrain-Merida. Steven Kruijswijk (Lotto-Jumbo) também bem precisa de uma aliança, mas apesar dos 5:19 de diferença para Dumoulin, o holandês não se esqueceu que há um ano perdeu o Giro para Nibali. Quer se queira quer não, esses pormenores acabam sempre por contar.

Veja aqui as classificações após o contra-relógio.


Giro d'Italia - Stage 10 - Highlights por giroditalia

Estas diferenças podem ter sido bem mais maiores do que o expectável à 10ª etapa, mas lá que o Giro ficou em aberto e a prometer emoção quando se voltar à motanha, lá isso ficou. A ver vamos se não começa já esta quarta-feira.


Os 161 quilómetros entre Firenze e Bagno di Romagna terão duas segundas categorias e outras tantas terceiras. Além das subidas, atenção às descidas. Nibali que nas primeiras etapas tentou fazer uma demonstração de força nas descidas, tem aqui a oportunidade para tentar ganhar algum tempo. Falta saber se os ataques a Dumoulin começam já, ou se se vai esperar pela etapa de sábado e depois pela brutal terceira semana.

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