22 de janeiro de 2017

Destaques do Tour Down Under: Richie Porte, Caleb Ewan e Ruben Guerreiro

Ruben Guerreiro chegou a liderar a classificação da juventude
Richie Porte ganhou, Caleb Ewan não deu hipótese nos sprints, mas vamos começar por Ruben Guerreiro. Na primeira competição pela Trek-Segafredo, na primeira corrida World Tour, o ciclista português confirmou que é legítimo as expectativas altas (muito altas) que recaem sobre ele. Mais importante do que isso, Ruben Guerreiro ganhou desde já o respeito e a confiança dos colegas de equipa. Uma coisa é o que fez na sua fase de formação e ter um talento reconhecido por muitos, outra é chegar ao mais alto nível e de imediato demonstrar que é ali que merece estar. Foram só seis etapas das muitas que poderá ter na sua carreira a este nível. Nem tudo irá correr sempre bem, mas Ruben tem apenas 22 anos e se faz o que fez logo na sua primeira corrida do World Tour, então ficamos todos à espera de ver o que poderá alcançar durante a evolução que ainda tem pela frente.

Ruben Guerreiro chegou à Austrália acompanhado por Jarlison Pantano, Laurent Didier, Edward Theuns, Koen de Kort, Peter Stetina e Mads Pedersen. Desde a primeira etapa que foi o português quem mais se destacou na equipa americana. Vestiu a camisola da juventude durante três dias, mas perdeu-a na quinta etapa, a que se pode chamar de rainha, terminando a classificação em terceiro, atrás de um outro grande talento jovem: o colombiano Jhonatan Restrepo (Katusha-Alpecin), que sendo da mesma idade que Guerreiro, já no ano passado estava no World Tour. Ficaram separados por 18 segundos e por Michael Storer, um australiano de 19 anos, da equipa UniSA-Australia.

Mas mesmo na etapa de Willunga Hill, Ruben Guerreiro comprovou que os colegas estão a seu lado. Fraquejou, é certo. O próprio admitiu que as pernas não estiveram como desejava, mas a equipa esteve consigo, apoiou-o. Não conseguiu aquela camisola da juventude e não aguentou no top dez, mas foi o melhor da Trek-Segafredo ao terminar na 18ª posição, a 1:25 minutos do vencedor Richie Porte. E há que voltar a salientar: foi a sua primeira corrida pela Trek-Segafredo no World Tour.

Quanto aos restantes portugueses, José Gonçalves também teve uma estreia positiva ao serviço da Katusha-Alpecin. Terminou em 30º a 2:25 do líder e as suas exibições pautaram por uma grande regularidade. Na primeira etapa até foi sétimo, para começar bem o ano. Já Tiago Machado surgiu como líder da equipa suíça, mas não conseguiu tirar partido desse estatuto. Terminou a 8:03 minutos de Porte (58ª lugar) e não conseguiu estar na luta por um um resultado melhor, ele que até já soma um pódio nesta competição, em 2012. Mas a época ainda está só a começar.

A vitória moralizadora de Richie Porte

Porte venceu duas etapas e a geral (Fotogrfia: Tour Down Under)
"É um grande alívio ter finalmente ganho." A frase basicamente diz tudo sobre o sentimento de Richie Porte. Depois de dois anos no segundo lugar, mesmo conquistando a principal etapa, O australiano foi finalmente primeiro "em casa". Não teve uma concorrência muito apertada, mas ainda assim teve que trabalhar para garantir o triunfo, até por Johan Esteban Chaves (Orica-Scott) ainda tentou confirmar o domínio da equipa australiana em todo o terreno, depois de Caleb Ewan dominar os sprints. Porém, Porte apareceu claramente com níveis físicos acima dos que poderiam ser os seus principais adversários. Não houve dúvidas: vencer o Tour Down Under era um objectivo.

Não é uma vitória que se possa dizer que o coloca desde já como um dos favoritos à Volta a França. Ainda estamos em Janeiro. Este é um triunfo com um efeito principalmente moralizador para o ciclista da BMC e também para passar confiança à sua equipa. "Fui muitas vezes o plano B, mas a BMC colocou muita fé em mim neste ano. Penso que hoje mostrei-lhes que posso recompensar a fé que colocaram em mim", salientou Porte, que este ano será o líder indiscutível no Tour, com Tejay van der Garderen a ser "desviado" para a Volta a Itália.

Caleb Ewan ortodoxo, mas eficaz

Ewan ganhou quatro etapas (Fotografia Tour Down Under)
Não estava Marcel Kittel, Mark Cavendish, André Greipel ou Nacer Bouhanni, para referir apenas quatro dos principais sprinters da actualidade. Ainda assim não se pode tirar mérito a Caleb Ewan. Quando apareceu em 2015 com uma vitória na Volta a Espanha, o pequeno australiano (1,65 metros) chamou a atenção e percebeu-se que estava ali um potencial de sprinter para o futuro. Em 2016, Ewan chegou ao Giro com vontade de comprovar as expectativas, mas a temporada, principalmente a nível europeu, não lhe correu tão bem como gostaria. Há que salientar um pormenor importante: só tem 22 anos.

Em seis etapas do Tour Down Under, Ewan venceu quatro. Todas ao sprint. As outras duas ficaram para Richie Porte. Nelas teve a concorrência de Peter Sagan, apenas e só o bicampeão do mundo, ainda que o eslovaco até tenha inicialmente servido de lançador para Sam Bennet. Tal como Porte, estes triunfos de Ewan servem para dar confiança ao sprinter que sabe que terá de se mostrar melhor quando chegar à Europa, a pensar de novo na participação na Volta a Itália.

Ainda se está a tentar perceber como é que naquela posição tão ortodoxa (ver vídeo), Ewan consegue ter tanta potência. É o seu estilo e tem tudo para o tornar um grande vencedor, pois, a exemplo de Ruben Guerreiro, a sua margem de progressão é ainda bem grande.

Regressando a Sagan, refira-se que começou o ano com três segundos lugares para juntar à sua colecção. Também em 2016 somou uns tantos até que quando começou a ganhar, não mais parou.

E falando da Bora-Hansgrohe...

Ainda agora chegou ao World Tour e já é das equipas mais populares. Naturalmente que é uma grande ajuda ter Peter Sagan, mas no Tour Down Under, a formação alemã - que conta com o português José Mendes, que não esteve na Austrália - demonstrou que não quer depender apenas do seu campeão do mundo. Exemplo disso foi não só ter tido Sam Bennet a lutar por sprints, mas principalmente pelo trabalho feito para colocar Jay McCarthy no terceiro lugar. O jovem australiano, ex-Tinkoff, quis aproveitar um pouco o factor casa para se mostrar e fê-lo bem.

O ano ainda está a começar, pelo que o Tour Down Under não é uma prova para se dizer quem vai estar bem ou mal nos grandes momentos. Porém, serviu para que alguns ciclistas começassem a ganhar o seu espaço nas novas equipas e para outros renovarem confiança para o longo 2017.

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