18 de janeiro de 2017

Luca Paolini abandona ciclismo. O erro e a idade não perdoam

A barba tornou-se nos últimos anos a imagem de marca de um ciclista
que era admirado por muitos (Fotografia: Katusha)
Seriam poucos os que esperavam ver Luca Paolini de regresso ao pelotão depois da suspensão de 18 meses por ter acusado cocaína durante o Tour de 2015. No entanto, o italiano estava confiante que poderia voltar e preparou-se para tal. Apenas dias depois do final da sanção, Paolini admitiu que, afinal, não seria possível e anunciou que irá retirar-se do ciclismo. Não encontrou equipa. Aos 40 anos (feitos esta terça-feira) percebeu que a idade não perdoa e que o erro não foi perdoado.

O italiano teve uma carreira de respeito tanto a ajudar líderes - Paolo Bettini sabe que algumas das suas vitórias tiveram Paolini como parceiro importante - como a alcançar triunfos próprios, como uma etapa no Giro e outra na Vuelta e também nas clássicas Omloop Het Nieuwsblad (2013) e na Gent-Wevelgem (2015). E a vitória na prova belga seria a última da sua carreira, pois cerca de quatro meses depois - numa altura que era um dos homens de confiança de Joaquim Rodríguez - acusou cocaína num teste anti-doping. Paolini foi expulso da Volta a França (já não começou a oitava etapa), foi despedido da Katusha e, por mais que tenha apelado a um castigo não muito severo, foi suspenso por 18 meses, apesar de ter sido considerado que a cocaína não foi utilizada como uma droga para melhorar a performance, mas sim de forma recreativa.

No final de 2015, Paolini acabaria por admitir a sua dependência em comprimidos para dormir, que tinha começado dez anos antes, quando o seu irmão morreu. Mais tarde veio a cocaína - que inicialmente disse nunca ter tocado - e o ciclista explicou que tinha tomado em Junho, durante um estágio de preparação para o Tour, quando estava sozinho durante a noite.

O episódio funcionou como um despertar para Paolini, que frequentou uma clínica de desintoxicação, garantindo que agora está recuperado e pronto para uma nova fase da vida, já que o objectivo de regressar ao ciclismo está colocado de parte, depois de todas as portas estarem fechadas para ele.

"Na Astana, o Vinokourov disse-me que por causa da suspensão não podia contratar-me. Vindo dele, fez-me rir [o antigo ciclista cazaque também cumpriu uma suspensão por doping]. Gostaria de ter corrido pela Bahran-Merida [equipa do compatriota Vincenzo Nibali], mas a cultura árabe não aceita o mínimo erro no que diz respeito a álcool e drogas", explicou Paolini em declarações à Gazzetta dello Sport.

Luca Paolini confessa alguma "amargura" pela forma como termina a carreira: "Sei que feri o ciclismo, mas antes dei tanto... O seleccionador nacional, Cassani, ligou-me algumas vezes, mas a federação nunca entrou em contacto comigo, nem para me chamar idiota."

Agora vai dedicar-se ao café que abriu em Como, na Lombardia, mas quer ainda desenvolver projectos ligados ao turismo e ao ciclismo. E numa fase em que tenta aceitar que a carreira de ciclista profissional acabou, Paolini recorda como o apoio da família e principalmente da filha, agora com 16 anos, foi importante para a sua recuperação. "Quando se comete um erro como o que eu cometi, senti-mo-nos muito mal porque somos suposto ser um exemplo. Eu tenho sorte, ela [a filha] é esperta e percebe. Ela ajudou-me", salientou.

Chega assim ao fim a história, no ciclismo, de Luca Paolini, um homem que chegou a ser muito importante tanto nas equipas por onde passou, como na selecção nacional (foi terceiro nos Mundiais em 2004). Porém, o italiano tem a noção que todo o sucesso que teve será sempre ofuscado pelo teste de doping que acabou por ditar o final da sua carreira.

»»Velhos? Rebellin (45 anos) encontrou equipa, Pellizotti (38) regressa ao World Tour««

»»Funvic com licença Profissional Continental confirmada. Director desportivo promete mudanças para evitar novos casos de doping««

»»Doping: Rui Carvalho e Alberto Gallego só podem regressar em 2019««

Sem comentários:

Enviar um comentário