2 de janeiro de 2017

O dia em que Miguel Indurain deixou Espanha com um sentimento de luto

(Fotografia: Facebook Miguel Indurain Fan Club)
"Hoje, 2 de Janeiro de 1997, quero anunciar a minha retirada do ciclismo profissional." A frase deixava Espanha em choque e o mundo do ciclismo surpreendido. Miguel Indurain abandonava a modalidade com apenas 32 anos. Era difícil de acreditar que um dos ciclistas mais marcantes tomava uma decisão tão radical. Os espanhóis como que ficaram de luto perante a notícia, num sentimento que talvez o próprio ciclista partilhasse, pois foi vestido de negro que se apresentou num hotel em Pamplona e que, sem permitir perguntas dos jornalistas, fez o anúncio que marcaria uma viragem no ciclismo.

Indurain tinha já alcançado o estatuto de um dos melhores da modalidade, mas ainda se esperava que conseguisse mais. Porém, depois de cinco Voltas a França consecutivas e dois Giros, a relação com o director desportivo da Banesto José Miguel Echávarri perdia o brilho que a tinha transformado numa das de maior sucesso. Pelo meio apareceram montagens de Indurain vestido com o equipamento da então rival ONCE, que fez uma proposta ao espanhol, mas que financeiramente não reflectia a qualidade e importância do ciclista, segundo notícias daquela altura. A Banesto, crente que Indurain estava de saída, contratou Abraham Olano.

Miguel Indurain tomou a decisão, que tanto custa aos ciclistas, de sair quando ainda está na ribalta. Mas que também custou (e muito) aos fãs, que perderam uma das grandes referências da modalidade e que, 20 anos depois, continua a ser. O nome de Indurain continua a ser falado, principalmente quando se realiza a Volta a França. Entre 1991 e 1995 foram vários os momentos que marcaram o ciclismo, ainda que antes de começar a sua senda de vitórias já tinha realizado exibições que faziam prever um futuro brilhante. Como gregário de Pedro Delgado, rapidamente se tornou evidente que não demoraria muito a que Indurain fosse o líder da Banesto. Essa oportunidade chegou em 1991 e os resultados confirmaram o talento e ficaram para a história.

(Fotografia: Facebook Miguel Indurain Fan Club)
Além dos cinco triunfos do Tour, Indurain fez a dobradinha em 1992 e 1993 ao vencer também o Giro. Nunca conquistou a Volta a Espanha e foi precisamente nesta corrida que Indurain pôs o pé no chão na 13ª etapa. Nos famosos Lagos de Covadonga, Indurain abandonava a prova em que foi obrigado a participar pela equipa. Não mais voltaria a colocar um dorsal.

Naquele ano de 1996, Indurain focou-se exclusivamente em vencer a sexta Volta a França. As cinco vitórias consecutivas eram por si só um feito único e continuam a ser, visto que Lance Armstrong ficou sem as sete que conquistou devido ao escândalo de doping. No entanto, depois de cinco anos dominadores, Indurain fraquejou. O Tour começou frio e chuvoso, meteorologia que em nada agradava ao espanhol que mostrava o seu melhor em tempo seco e quente. Logo na primeira etapa de montanha, Indurain viveria um dos dias mais negros da sua carreira. Perdeu mais de quatro minutos para os restantes favoritos. O cansaço era difícil de esconder e apenas se conseguiu mostrar mais perto do nível habitual nos contra-relógios, somando um quinto e um segundo lugar. O descalabro terminou com Indurain na 11ª posição, a 14:14 minutos do vencedor Bjarne Riis.

Nos Jogos Olímpicos de Atlanta voltou-se a ver o grande Indurain dos contra-relógios, conquistando a medalha de ouro, que juntou ao título de campeão do mundo que tinha alcançado no ano antes.

Contrariado pela decisão da equipa em colocá-lo a correr na Vuelta, ainda assim naquela etapa dos Lagos de Covadonga, esperava-se uma luta entre Indurain, Alex Zülle (que venceria essa edição), Laurent Jalabert e Tony Rominger. A corrida estava no quilómetro 153 de 159 quando Indurain meteu o pé no chão e foi para o hotel. De certa forma foi o anúncio do fim que confirmaria meses mais tarde.

O ciclismo não mais foi o mesmo. Indurain entrou numa restrita lista de ciclistas que marcaram de tal maneira a modalidade que ao abandonarem deixam um vazio na modalidade, casos de Eddy Merckx ou Fausto Coppi. Em Espanha apareceram outros corredores que se tornaram referências, duas delas são actuais estrelas, casos de Alberto Contador e Alejandro Valverde. Contudo, ninguém conseguiu alcançar aquele estatuto de lenda que Indurain conquistou.

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