24 de setembro de 2018

O World Tour pode esperar

(Fotografia: © bettiniphoto/Facebook Mundiais de Innsbruck-Tirol)
Depois de ter ganho o título mundial com mais de um minuto de vantagem, Mikkel Berg foi um pouco mais simpático e deixou a concorrência a "apenas" 33 segundos. Este dinamarquês é uma máquina de contra-relógio e tem apenas 19 anos. Sagrou-se bicampeão mundial de sub-23 e no seu escalão é um daqueles ciclistas que já está debaixo de olho de equipas do World Tour. Depois do primeiro título em Bergen, Axel Merckx foi buscá-lo para a sua Hagens Berman Axeon e Bjerg não pensa em sair. O escalão máximo é o objectivo de todos, mas tanto Bjerg, como para os ciclistas que o acompanharam no pódio, nenhum está com pressa de lá chegar.

Para Mikkel Bjerg, que estava na equipa Continental do seu país Giant-Castelli, considera que a Hagens Berman Axeon é perfeita para si e para outros ciclistas da sua idade, afinal, assim tanto pode aprender em grandes corridas, como lutar por vitórias em provas de menor importância no calendário, mas importantes para quem está a tentar afirmar-se na modalidade. "Estar na Hagens Berman Axeon é perfeito para mim agora. Podemos estar em algumas corridas do World Tour, como a Volta à Califórnia, mas também em corridas de sub-23 e provas mais pequenas. Penso que essa combinação é boa para ciclistas jovens como eu", referiu.

Ter os pés mais assentes na terra seria difícil. Nem todos são um Egan Bernal que chega ao World Tour e conquista de imediato excelentes resultados. Com tantos jovens talentosos e com lugares limitados nas equipas, principalmente para quem procura destaque, a postura de Bjerg passa por evoluir onde tem espaço para quando optar por dar o salto, ser um em que aterre no World Tour para ficar.

Estar na equipa que está é uma enorme ajuda, pois há formações que não se importam de deixar ciclistas que pretendam contratar continuar a competir onde vêem que podem continuar a sua progressão, antes de finalmente os contratarem, quando estiverem no ponto, por assim dizer. Brent Van Moer partilha um discurso idêntico ao de Bjerg. Ficou muito tempo no trono do contra-relógio dos sub-23, até que o dinamarquês, o último em prova, lhe tirou o melhor tempo (Bjerg completou os 27,8 quilómetros em 32:31 minutos).

"Tenho 20 anos e acho que não é bom ir demasiado cedo para o World Tour. É um grande passo e, às vezes, o melhor é ficar na categoria de sub-23", afirmou. O jovem belga até está a estagiar com a equipa da Lotto Soudal, mas não tem pressa de agarrar o lugar permanente. Claro que nem todos partilham desta ideia. Nesta prova dos Mundiais de Innsbruck estiveram ciclistas que já estão no escalão principal ou têm lugar garantido em 2019. Edoardo Affini e Callum Scotson vão para a Mitchelton-Scott, enquanto Pascal Eenkhoorn está na Lotto-Jumbo, Lennard Kämna na Sunweb e Mark Padun na Bahrain-Merida.

Em corridas como esta na Áustria, a experiência de World Tour pode não ser a que mais diferenças faz. A provar estão não só Bjerg e Moer, mas também Mathias Norsgaard Jorgensen (terceiro, a 38 segundos). Tem 21 anos, é outro dinamarquês e está na equipa do seu país Riwal CeramicSpeed, do escalão Continental, com um contrato até 2020.

As oportunidades são para se agarrar, senão Moer não estaria a estagiar na Lotto Soudal. Porém, com um nível tão alto de ciclismo, há quem prefira dar um passo mais seguro, do que antecipar um, que possa depois obrigar a dar algum atrás. Certo é que pelo menos Bjerg e Moer não são desconhecidos entre as grandes equipas. Tal como Ivo Oliveira e João Almeida também já não o são.

Ivo Oliveira foi 28º (Fotografia: Federação Portuguesa de Ciclismo)
Os dois portugueses que estiveram no contra-relógio de sub-23 dos Mundiais terminaram no top 30, enquanto viram o seu colega de equipa vestir novamente a camisola do arco-íris. Perante o percurso com algumas subidas, Ivo esperava terminar no top 20, melhorando assim o seu resultado de Bergen, onde foi 21º. No entanto, ficou na 28ª posição, a 1:34 de Bjerg. "Até me sentia bem, mas quebrei um pouco na fase intermédia da prova. Talvez não fosse o meu dia. Sem querer encontrar desculpas, reconheço que o vento de costas em quase 90% do percurso acabou por favorecer os ciclistas mais pesados", afirmou, citado pela Federação Portuguesa de Ciclismo.

João Almeida terminou na 30º posição (Fotografia. Federação Portuguesa de Ciclismo)
Para o gémeo é o fim dos Mundiais este ano, já que a prova de fundo não se adapta às suas características. Já João Almeida está com os olhos postos nessa corrida. Foi 30º no contra-relógio, a 1:40. Um percurso mais duro beneficiaria muito mais o vice-campeão nacional da especialidade do seu escalão, com Ivo a ser o campeão em título. "Estou contente com o meu desempenho. Acho que fiz um bom resultado para as minhas características, até porque o meu objectivo principal é a prova de fundo. Apesar do foco na corrida de sexta-feira, fiz questão de participar no contra-relógio, porque é sempre uma boa preparação, uma oportunidade para 'abrir o capô', como se costuma dizer." (Pode ver aqui os resultados completos.)


Foi a terceira participação de Ivo e a estreia no escalão de João Almeida. Nesta terça-feira será a vez dos juniores entrarem em acção. José Poeira escolheu os dois últimos campeões nacionais: o actual é Guilherme Mota e Afonso Silva foi em 2017, no seu primeiro ano como júnior. Não se compromete com nenhuma posição em específico, pois o percurso, o mesmo dos sub-23 (gráfico em cima), não assenta na perfeição a nenhum deles. Silva refere que vai apontar ao melhor que conseguir, já Mota aponta ao top 10, ficando satisfeito se fechar entre os 20 primeiros. O melhor que Portugal conseguiu em júnior foi um sexto lugar, por intermédio de Sérgio Paulinho, em 1998.

(Fotografia: Federação Portuguesa de Ciclismo)
"É um contra-relógio com partes técnicas, o que me favorece, mas é muito rápido e nós estamos mais acostumados a contra-relógios mais duros, mas espero que nos adaptemos bem. Neste ano já tenho feito contra-relógios longos e tenho-me sentido melhor nas partes finais. Acho que a distância não será um problema. No Campeonato da Europa fiquei a dois segundos do top 10. Se conseguisse entrar nos dez melhores no Mundial seria fantástico", salientou Guilherme Mota.

"É uma prova que favorece os contra-relogistas possantes, os corredores mais altos e pesados. Tanto o Afonso como o Guilherme não correspondem a esse perfil, mas são dois bons contra-relogistas e vão dar o máximo, mesmo tendo em atenção que o foco principal está colocado na prova de fundo, a disputar na quinta-feira", explicou o seleccionador nacional.

Afonso Silva será o primeiro dos portugueses a partir para o percurso de 27,8 quilómetros às 9:50:30. Guilherme Mota sairá às 10:30:30 (hora portuguesa). O Eurosport está a transmitir os Mundiais de Innsbruck.

O terceiro dia dos Mundiais austríacos irá terminar com o contra-relógio feminino de elite (não há o escalão de sub-23). A argentina Fernanda Yapura será a primeira ciclista a ir para a estrada, às 13:40. A campeã em título, a holandesa Annemiek van Vleuten, será a última a sair, às 14:56:30. Serão 27,8 quilómetros com muitas zonas planas, mas também com algumas subidas, que podem contribuir para as diferenças (gráfico em baixo).

A Holanda já tem um título em Innsbruck, com a ciclista de 18 anos Rozemarijn Ammerlaan a vencer na categoria de juniores. Ammerlaan completou os 20 quilómetros em 27:02, menos sete segundos do que a italiana Camilla Alessio (17 anos) e 18 do que a britânica Elynor Bäckstedt (16). Resultados completos neste link.

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