7 de setembro de 2018

Nem Majka sabia quem era. Chama-se Óscar Rodríguez e é mais um espanhol em destaque na Vuelta

(Fotografia: © PhotoGomezSport/La Vuelta)
Se em França se tem tido várias razões para falar dos seus ciclistas e equipas na Vuelta, ainda assim, há sempre aquele sentimento de alguma frustração por no Tour não se ter visto tanto dos "homens da casa". Já em Espanha, o sentimento é oposto. Os espanhóis tem conseguido estar em destaque, muito por culpa de Alejandro Valverde, é certo, e também devido Luis Ángel Maté (líder da montanha). Jesús Herrada também já é uma razão e agora - saltando da enorme experiência de Valverde, para um jovem que pode muito bem estar a dar o salto na carreira - Óscar Rodríguez. Tem apenas 23 anos, pertence à Euskadi-Murias e foi ganhar a etapa que terminava numa das subidas mais difíceis do ciclismo. La Camperona chega a ter quase 20% de pendente nos seus últimos dois quilómetros.

Mas Rodríguez não se deixou intimidar. Nem pela dificuldade, nem pela concorrência, deixando Rafal Majka - que até já fez pódio na Vuelta e venceu uma etapa no ano passado - e Dylan Teuns (BMC), ciclista sem vitórias em grandes voltas, mas já com alguns triunfos bem interessantes. O espanhol passou pelos dois que pensavam que discutiriam entre eles a etapa. No final, Majka limitou-se a dizer que nem sabia quem era o vencedor, sendo quase impossível esconder a frustração do que provavelmente sente ter sido uma oportunidade perdida para ganhar na Vuelta.

Mas chama-se Rodríguez, Óscar Rodríguez, um ciclista que marcará esta edição porque não só venceu na sua estreia numa grande volta, como deu uma vitória a uma equipa que também está na sua primeira corrida do género e que quer recuperar a tradição basca que se perdeu quando a Euskaltel-Euskadi fechou portas. Plantel modesto, mas lutador, o orçamento pode não ser dos maiores, mas o investimento de elevar a equipa ao estatuto de Profissional Continental ficou desde já compensado. Era isto que a Euskadi-Murias mais sonhava. Ganhar uma etapa foi como vencer a Volta a Espanha para esta equipa, pois é uma conquista que se consideraria improvável, mas aqui está ela. E com estrondo.

Foi uma exibição tremenda de um ciclista que chegou a vestir a camisola branca da juventude na última Volta a Portugal. Perdeu-a para Xuban Errazkin (Vito-Feirense-BlackJack), mas vencer em Camperona deixará a mais profunda das marcas numa carreira que poderá começar agora de rumo. Nas últimas duas temporadas tem alcançado um conjunto interessante de resultados e ganhar na Vuelta é uma montra que não passa despercebida.

Este navarro contribuiu para a dose de surpresas que esta corrida lá vai proporcionando. Pode não estar a ser o mais emotivo dos espectáculos até ao momento (o melhor ainda está a ser guardado pelos principais candidatos, ou assim se espera), mas são momentos como o de Herrada vestir a camisola vermelha, quando nem no top dez se pensaria que poderia entrar e agora ver um jovem de uma equipa com um plantel sem comparação possível às do World Tour, ou mesmo à Cofidis - pode ser do segundo escalão, mas é por escolha própria, pois tem potencial e orçamento para estar no primeiro - vencer uma etapa que se esperaria ser controlada pelos principais nomes. Rodríguez pode até nem conseguir acreditar no que fez, mas deixou a sua assinatura e até Majka já deverá ter aprendido o seu nome.

Herrada está vivo e de vermelho

Completamente exausto. Jesús Herrada precisou de algum tempo para recuperar o fôlego depois de uma subida que tem capacidade para deixar o melhor dos trepadores quase a pé. O espanhol da Cofidis sabia que tinha de ultrapassar a Camperona ao seu ritmo, mas claro, tinha de ser elevado. Perdeu cedo o contacto quando a subida ficou mais difícil, mas não quebrou. 3:22 minutos davam-lhe a margem suficiente para garantir mais um dia na liderança. Perdeu uma boa parte da diferença, mas 1:42 minutos ainda é de respeito para tentar aguentar, nem que seja mais uma etapa. É viver dia-a-dia para este ciclista.

A crença pode ser pouca que esta surpreendente liderança do mais novo dos Herrada possa significar uma vitória em Madrid. Porém, precisamente porque a maior responsabilidade de assumir a corrida não lhe pertence, Herrada nada tem a perder e nesta 13ª etapa entre Candás e Camperona (174,8 quilómetros) pedalou assim mesmo, como alguém que só tem tudo a ganhar.

Entre os principais candidatos, foi Nairo Quintana (Movistar) quem deu uma melhor resposta. Recuperou seis segundos para Simon Yates (Mitchelton-Scott), estando agora a oito, desalojando o companheiro Alejandro Valverde do terceiro lugar. O espanhol passou de um para 12 segundos para Yates. As diferenças entre o top dez podem ter aumentado um pouco, mas a distância entre Yates e Emanuel Buchmann - o ciclista da Bora-Hansgrohe foi dos que mais quebrou na Camperona - é de 1:05. Claro que a diferença tem de ser feita para Herrada, pois acredite-se ou não que possa ganhar, é o espanhol quem continua a liderar e são 2:47 de diferença para Buchmann.

José Gonçalves abandonou

Longe da forma apresentada no Giro, corrida na qual terminou na 14ª posição, José Gonçalves perdeu tempo na maioria dos dias na Vuelta, não integrando sequer fugas e estando nos últimos lugares da geral. O gémeo de Barcelos não escondeu que o calor estava a ser um problema, mas foi mantendo-se na corrida. Porém, a 13ª etapa foi madrasta para o português que não terminou, abandonando assim pela terceira vez consecutiva a Volta a Espanha. A Katusha-Alpecin fica reduzida a seis ciclistas, depois de Maurits Lammertink não ter partido para a oitava etapa, naquela que foi na altura a primeira desistência na corrida espanhola.

Outro português que não teve um dia nada fácil foi José Mendes. O ciclista da Burgos-BH - a outra equipa espanhola que tal como a Euskadi-Murias subiu de escalão e faz a sua estreia na Vuelta - foi o último a cortar a meta, a 36:07 minutos de Rodríguez. Tiago Machado, companheiro de Gonçalves, fechou a 26:37, com Nelson Oliveira (Movistar) a ser o melhor entre os portugueses, a 12:05 do vencedor.

Pode ver aqui as classificações completas. Luis Ángel Maté (Cofidis) mantém liderança da montanha, Valverde dos pontos e do prémio combinado e a Bahrain-Merida na tabela colectiva.

14ª etapa: Cistierna - Les Praeres. Nava, 171 quilómetros

Mais uma etapa muito complicada e que vai anteceder uma das mais importantes na Vuelta, a dos Lagos de Covadonga. Será um dia de muito desgaste, com uma segunda categoria, duas primeiras e uma terceira antes de mais um final exigente. O Alto les Praeres oferece aos ciclistas uma subida curta, quatro quilómetros, mas com uma pendente média 12,5%, máxima de 17%. Só no final irá aligeirar um pouco, para 7,2%.



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