11 de setembro de 2018

Baralha e volta a dar. Afinal temos um sexteto

Yates aumentou vantagem para três rivais, mas tem agora mais dois
(Fotografia: © PhotoGomezSport/La Vuelta)
Nesta Vuelta o que parece ser, afinal não é bem assim. Têm-se visto algumas reviravoltas durante as primeiras duas semanas e o contra-relógio trouxe mais uma. É melhor não dizer que foi a última. Quando parecia que os Lagos de Covadonga tinham definido um quarteto, eis que Steven Kruijswijk reentra de rompante na luta pela geral e um Enric Mas não está para esperar mais tempo para se afirmar numa grande volta. O contra-relógio até pode ter alargado um pouco as diferenças a favor de Simon Yates relativamente aos três que começaram o dia como principais rivais, mas ter 1:34 minutos a separar o primeiro do sexto não dá qualquer garantia ao britânico, nem a ninguém que queira estar no pódio em Madrid, no domingo.

Yates foi o principal vencedor do dia, pois conseguiu ganhar vantagem sobre aqueles que eram os adversários até ao início desta terceira semana de competição: Alejandro Valverde, Nairo Quintana e Miguel Ángel López. Porém, Steven Kruijswijk partilha o destaque do dia e até roubou um pouco as atenções. Sabia-se que sabe defender-se no contra-relógio, mas o holandês do Lotto-Jumbo chegou a estar a voar na estrada. Aos 10 quilómetros, dos 32, estava mais rápido cinco segundos que o super especialista Rohan Dennis (BMC). Não aguentou o ritmo para ganhar a etapa, mas foi um contra-relógio fenomenal, daqueles que deixa um bocadinho a quem assiste de boca aberta. Saltou de quinto para terceiro e cortou a diferença de 1:29 minutos para 52 segundos. Agora é também ele um dos principais adversários de Yates.

Depois de ter estado tão bem no Tour, Kruijswijk está ainda melhor na Vuelta. O Giro que lhe escapou em 2016 irá sempre marcar a sua carreira, mas o holandês está a mostrar que afinal pode repetir a exibição e ambicionar de novo a uma grande vitória. Só falta saber se não pagará o esforço deste contra-relógio nas etapas de montanha que aí vêm, a primeira, já nesta quarta-feira.

Há mais uma preocupação para Yates e Kruijswijk tem ainda a vantagem de uma equipa que tem sido forte. Conta também com um jovem Sepp Kuss que tem sido o gregário que mais tem ajudado na montanha. Mas Simon Yates tem razões para sair de Torrelavega a sorrir. O trabalho feito nesta especialidade já tinha dado frutos no Giro e deu agora na Vuelta. Na disputa com Nairo Quintana (Movistar) e Miguel Ángel López (Astana), Yates saiu muito a ganhar: tem mais 42 segundos sobre Quintana (1:15 é agora a diferença, com o ciclista a cair para o quarto lugar) e 51 sobre López (1:34 no total, caiu para sexto). "Não estava preocupado porque melhorei no contra-relógio. Não ia estar à altura do Rohan Dennis, mas não tinha por que estar preocupado", disse Yates, cuja auto-confiança está claramente em alta.

E tem razões para isso. Se Valverde tivesse saído do contra-relógio com a camisola vermelha não teria sido uma surpresa. Na teoria era mais forte nesta especialidade entre o quarteto. Na prática perdeu sete segundos para Yates. Pode parecer pouco comparado com os casos de Quintana e López, mas numa Vuelta que ameaça ser decidida ao segundo, o conta-relógio poderá ter um peso importante nas contas finais.

Em suma, Yates esteve muito bem, Kruijswijk foi fenomenal, Valverde desiludiu, Quintana foi igual a si próprio e López tem de melhorar no contra-relógio com urgência. Não é fácil ganhar uma grande volta sem pelo menos defender-se nesta especialidade. O colombiano da Astana está longe de conseguir fazer uma defesa deste tipo. Pode ter deitado fora a oportunidade de chegar à vitória e talvez ao pódio. Mas é a Vuelta. Não há certezas.

Enric Mas merece um destaque à parte. Pé ante pé foi subindo na classificação, foi aparecendo entre os melhores e nos Lagos de Covadonga deixou a certeza que estava preparado para agarrar um top dez na sua segunda participação na Vuelta. São 23 anos de muito talento, com tanto para evoluir. Até Alberto Contador já se tinha rendido a este ciclista da Quick-Step Floors, tento ele próprio nomeado Mas como um provável sucessor de uma geração que já quase toda terminou a carreira. Está numa equipa que não aposta em vitórias na geral nas grandes voltas, mas aqui está ele para mostrar-se e para mostrar que na estrutura belga também se formam bons ciclistas para estas corridas, como Bob Jungels é também a prova.

Enric Mas fechou no top dez da etapa e entre o sexteto que se formou para a geral, só não bateu Kruijswijk. Recuperou 25 segundos para Yates e se 1:30 de desvantagem, mais a falta de experiência poderá ser um handicap para Mas, o pódio pode e deve tornar-se num objectivo. Já tinha animado a tirada nos Lagos de Covadonga e Mas tem tudo para ser um dos ciclistas que não dará sossego a ninguém. Temos voltista!

Thibaut Pinot ficou a 2:53 num contra-relógio pouco conseguido do francês que vê assim o pódio ficar mais como uma miragem. Do oitavo lugar para baixo são mais de três minutos de diferença para Yates. Pelo que tem acontecido na Vuelta, a racionalidade diz para se ter cuidado em excluir alguém, até porque, com os ataques esperados já a partir de amanhã poderão aparecer mais reviravoltas. Porém, Yates terá sempre mais atenção aos cinco que ficaram abaixo dos dois minutos após o contra-relógio. Tanta gente para controlar!

Na Movistar assume-se a derrota no dia, mas Valverde nem quer ouvir falar de Quintana estar fora da disputa. Em vez disso, avisa que os dois podem jogar em equipa no ataque a Yates. A ver vamos se haverá mesmo união em prol da Movistar. Mas que não se tenham dúvidas: para Simon Yates a melhor defesa será o ataque. Não vai ficar só a controlar.

Baralha e volta a dar. A ver vamos quem terá o ás que o levará à conquista da Vuelta, ou se haverá um joker que provoque uma derradeira reviravolta numa corrida que terá três dias de montanha emocionantes, com uma etapa de 97,3 quilómetros no sábado.

17ª etapa: Getxo - Balcón de Bizkaia, 157 quilómetros


Rohan Dennis andou a poupar-se nos últimos dias para ser avassalador no contra-relógio. Ganhou os dois nesta Vuelta, depois de vencer um no Giro e só não fez o pleno porque Tom Dumoulin (Sunweb), o campeão do mundo em título da especialidade, conquistou o que abriu a Volta a Itália. A missão do australiano ficou cumprida em Espanha e agora vai directamente para a preparação dos Mundiais, abandonando a Vuelta. O companheiro da BMC, Joey Rosskopf, foi quem mais se aproximou de Dennis. Mas o campeão americano da especialidade ficou a 50 segundos!

Nelson Oliveira ficou novamente entre os melhores, fechando com o sétimo melhor tempo, a 1:05 de Dennis. O ciclista da Movistar teve a "desvantagem" de estar a trabalhar arduamente para Quintana e Valverde, pelo que o desgaste teve o seu peso no que, ainda assim, foi mais um motivador resultado para quem também tem os Mundiais em mente. Tiago Machado (Katusha-Alpecin) ficou a 3:14 do vencedor e José Mendes (Burgos-BH) a 4:51.

Pode ver aqui as classificações completas.

Esta quarta-feira a etapa será de enorme desgaste e com muita montanha para atacar. É o dia típico das mais recentes edições da Vuelta. O percurso convida que se mexa na corrida ainda antes do muro final. Oo Alto del Balcón de Bizkaia será uma chegada inédita. Nos 7,3 quilómetros de subida, a meio do terceiro e quase até ao final do sexto, a pendente começa nos 12% e acaba quase nos 24% (gráfico em baixo).



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