8 de setembro de 2018

Yates o mesmo ciclista de Itália... mas numa versão melhorada

(Fotografia: © PhotoGomezSport/La Vuelta)
Dois dias antes de ceder a camisola vermelha a Jesús Herrada, Simon Yates tinha dito que tinha um plano para esta Vuelta. Qual? Não o quis desvendar, obviamente, mas não foi difícil perceber os primeiros pontos que faziam parte desse plano. Primeiro foi tentar passar a responsabilidade de controlo da corrida no pelotão à Movistar, o que gerou algum descontentamento de Alejandro Valverde e Nairo Quintana, os chefes-de-fila da equipa espanhola. Segundo foi deixar a liderança, de preferência para alguém que não fosse um grande risco no futuro. Herrada foi perfeito. Aos poucos Yates e a Mitchelton-Scott vão revelando como estão a querer ganhar a Volta a Espanha. Depois de deixar escapar o Giro em apenas uma etapa, depois de 18 de trabalho, 13 vestindo de rosa. Yates avisa que é o mesmo homem que se apresentou em Itália... mas numa versão melhorada.

Ganhou a etapa, recuperou a camisola vermelha e como que banalizou um Nairo Quintana de ataque, que acabou a lutar pela sobrevivência. Quando parecia que o colombiano preparava-se para assumir a Vuelta, como há muito não o faz numa grande volta, os seus ataques resultaram em nada. Chegou a ter cerca de 15 segundos de avanço, com apenas Miguel Ángel López (Astana) na sua roda. Yates limitou-se a esperar pelo momento certo, controlando também um Valverde que o britânico já percebeu pode ser o seu maior adversário (mas cuidado com López). Yates foi buscar a dupla da frente e quem o tentou seguir não conseguiu seguir na sua roda. As diferenças não foram muitas, é certo, mas aqueles sete segundos (mais os dez de bonificação) que o separaram de Quintana, por exemplo, são um golpe na confiança de um colombiano que esperava começar nestes três dias de montanha, antes do descanso, assumir-se como o grande líder. Se ainda não da Vuelta, pelo menos da Movistar.

Foi Valverde quem esteve melhor e ultrapassou o companheiro. Com o desaparecimento de Herrada da frente da geral, os homens da Movistar estão novamente em segundo e terceiro, com 20 e 25 segundos de diferença para Yates.

O britânico venceu com a autoridade que se viu no Giro. Porém, tem sido claro como está a dosear muito bem o seu esforço para evitar uma nova quebra, como aconteceu na 19ª etapa da Volta a Itália. "Sou o mesmo ciclista [do Giro], a mesma pessoa, tenho o mesmo nome, só mudei a minha preparação e melhorei. Cresci e evolui na minha forma", disse. Não quer ouvir falar de dominar a Vuelta, considerando que as curtas diferenças desmentem que isso possa estar a acontecer.

E tem razão. Apesar da etapa de hoje as diferenças terem começado a aumentar, muito por culpa daquela brutal última subida de quatro quilómetros, com pendentes a aproximarem-se (talvez mesmo a passarem) os 20%. Mas nada que não possa ser recuperado. Entre Yates e López (quarto) estão apenas 47 segundos. No top dez, só Emanuel Buchmann (Bora-Hansgrohe) está a mais de dois minutos (2:08). E há muita montanha pela frente nesta Vuelta.

Simon Yates afirmou que agora quer estar de vermelho e vai já assumir-se como líder nos Lagos de Covadonga, uma subida que tem tido influência no resultado final da corrida em edições passadas. Quintana venceu lá em 2016, recuperando a liderança que tinha perdido no dia antes para David de la Cruz e nunca mais a perdeu. Estávamos na 10ª etapa, um pouco mais cedo do que na edição de 2018, que vai para a 15ª tirada.

Quintana tinha dito que uma nova Vuelta começava nestes três dias e aí está ela. Yates já avisou que a sua equipa está forte e que o irmão gémeo, Adam, vai aparecer na ajuda depois de duas semanas praticamente desaparecido no pelotão. A Mitchelton-Scott terá de controlar mais as etapas, ainda que a Movistar não está livre de ser obrigada a dar uma ajuda.

A emoção e o espectáculo da luta pela geral chegaram finalmente à Volta a Espanha. Não haverá muito tempo para respirar. Terça-feira é dia de contra-relógio e só na quinta o dia não tem montanha antes da chegada a Madrid. Começaram as decisões.

De salientar que normalmente fala-se de serem os sprinters que mais vencem nas grandes voltas e Elia Viviani é um bom exemplo disso. Soma seis etapas, quatro no Giro e duas na Vuelta. Porém, há um trepador também em destaque este ano. Yates vai em quatro, três em Itália e agora uma em Espanha, onde já tinha vencido em 2016.

O fim do conto de fadas de Herrada

Não houve qualquer surpresa, mas esperava-se um pouco mais de um ciclista que se quer assumir como líder de uma equipa numa grande volta. Jesús Herrada perdeu 9:16 minutos, pelo que o objectivo que tinha de ficar no top dez fica praticamente fora de questão, pois a partir de agora já ninguém vai deixar um ciclista galgar tantos lugares na geral rumo aos dez primeiros. O espanhol da Cofidis caiu para a 17ª posição, a 7:44 de Yates.

Aos 28 anos teve a oportunidade de se afirmar, mas mostrou que ainda há trabalho a fazer para que seja um ciclista que possa estar na luta por um lugar entre os melhores. Qualidade tem e talvez esta aventura de dois dias de vermelho lhe possa servir de motivação. Agora é altura da equipa concentrar-se totalmente em Luis Ángel Maté que está a ver a concorrência a aproximar-se. Thomas de Gendt (Lotto Soudal) já só está a dez pontos - curiosamente o belga até já ajudou o espanhol a pontuar numa etapa - e é muito melhor na alta montanha que Maté, tal como acontece como Ben King (Dimension Data, a 24 pontos) e Bauke Mollema (Trek-Segafredo, a 30)

Pode ver aqui as classificações completas, com Valverde a consolidar a camisola verde e a Bahrain-Merida a segurar-se no primeiro lugar por equipas.

Van Baarle não resistiu às dores num dia mau para a Sky

Foi um dos ciclistas envolvido na queda provocada por um membro da organização após a meta na 12ª etapa. O holandês disputou a vitória nesse dia com Alexandre Geniez, com o francês da AG2R a levar a melhor. Pouco depois de terminarem a tirada, com a estrada estreita e com parte do espaço ocupado, como habitualmente, pelos repórteres fotográficos, os ciclistas não conseguiram evitar o choque com o homem que corria de costas para os atletas, numa tentativa de recuperar a sua posição, mas sem se aperceber que os corredores estavam mesmo ali.

Dylan van Baarle foi quem ficou mais mal tratado. Não sofreu fracturas, mas as dores não diminuíram, apesar de ontem ainda ter completado a etapa. "Dói só de andar e não faz sentido continuar nestas condições. É uma desilusão, mas tento não pensar muito nisso. Só quero concentrar-me na minha recuperação. Por sorte estou em boas mãos nesta equipa, que vão ajudar-me a recuperar rapidamente", afirmou o ciclista da Sky, que não partiu para a tirada deste sábado.

Apesar de ter Michal Kwiatkowski ao ataque, integrando a fuga do dia, foi uma etapa infeliz para a equipa britânica. Além de Van Baarle, perdeu ainda Pavel Sivakov. O russo abandonou, não tendo recuperado de uma queda há uns dias. Perdeu ainda qualquer possibilidade de disputar a vitória na Vuelta. David de la Cruz perdeu 4:55 minutos para Yates, estando agora a 6:57. Kwiatkwoski tentou recuperar tempo, mas acabou por juntar mais seis minutos a uma diferença que vai agora em 9:27.

15ª etapa: Ribera de Arriba - Lagos de Covadonga. Centenarios 2018, 178,2 quilómetros



Lagos de Covadonga é mais uma categoria especial a aparecer na Vuelta. É uma subida que agrada à maioria dos que estão a discutir a Vuelta, pois não é tão explosiva. É mais longa e constante. Tem 11,7 quilómetros, pendente média 7,2%, mas não seria Espanha se não tivesse um rampa brutal pelo caminho, com alguns metros a 20%. O último 1,5 quilómetro até tem uma zona de descida, mas até lá a pendente está muitos metros acima dos 10%, com apenas uma pequena zona de descanso.

Mas antes haverá uma terceira categoria logo a abrir o dia e duas primeiras categorias numa dupla passagem pelo Mirador del Fito.



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