18 de setembro de 2018

O cowboy solitário tinha ameaçado e quebrou mesmo contrato

(Fotografia: Facebook Vérandas Willems-Crelan)
A ameaça tinha sido bem clara no final de Agosto e Wout van Aert quebrou mesmo contrato com a  Vérandas Willems-Crelan, ou, mais concretamente, com a Sniper Cycling, detentora da equipa. Insatisfeito com todo o processo de fusão com outra estrutura, o belga nunca hesitou em criticar publicamente os responsáveis, principalmente por manterem a ele e aos restantes membros da formação no escuro enquanto decorreram as negociações. Depois, ficou furioso por ver como a junção das duas equipas significaria a perda de trabalho para algumas pessoas. Este fim-de-semana, Van Aert decidiu que não queria representar mais a Vérandas Willems-Crelan e vai partir para a época de ciclocrosse como um "cowboy solitário", mas que não deverá ficar muito tempo sozinho.

Wout van Aert é uma das estrelas em ascensão no ciclismo. Nasceu para as clássicas do pavé, ainda que separar-se do ciclocrosse não é algo que esteja para já nos seus planos. É tricampeão do mundo e está nos Estados Unidos à procura de mais uma camisola do arco-íris. Também foi campeão mundial de sub-23 da especialidade. Aos poucos tem feito a passagem para a estrada e este ano foi uma das sensações de início de época. O terceiro lugar na Strade Bianche deu o mote para uma época de clássicas que deixou as equipas do World Tour loucas pelo belga. No pavé foi sempre muito regular. Nos monumentos foi nono na Volta a Flandres e 13º no Paris-Roubaix. E representava uma equipa Profissional Continental.

Com mais um ano de contrato e assediado por equipas do World Tour, Van Aert logo garantiu que ficaria na Vérandas Willems-Crelan em 2019, mas terá comprometido-se com a Lotto-Jumbo para 2020. Este belga é um ciclista confiante, com um currículo invejável no ciclocrosse e com resultados na estrada que lhe permitem ter uma palavra muito forte em como quer gerir a sua época e a sua carreira. A confirmar-se a mudança para a Lotto-Jumbo, não foi só com dinheiro que seduziu Van Aert. Com apenas 24 anos, o belga é alguém que coloca em cima da mesa o que quer e como quer. É senhor do seu destino e que ninguém tente prendê-lo.

O ciclista cedo percebeu que tinha o poder de tomar as decisões que queria, pois a procura pelos seus serviços era (e é) intensa. Não se confunda esta confiança com arrogância. Van Aert sabe que tem muita qualidade e sabe que pode alcançar na estrada o que tem feito no ciclocrosse. A pressão, a responsabilidade, é algo que gosta e quer lidar ao mais alto nível, pois ambiciona alcançar o estatuto dos grandes nomes belgas, referências das clássicas, que serão o seu ponto forte. Porém, este ano ganhou a Volta à Dinamarca, pelo que é só o colocarem numa corrida por etapas que se adapte a Van Aert e poderá ser mais uma vitória que somará.

Livre do contrato com a Vérandas Willems-Crelan - a situação poderá agora ir para tribunal, caso a equipa não aceite as justificações para a quebra de contrato e, se perder, pagar uma indemnização -, Van Aert não deverá ficar muito tempo sem quem o queira. A Lotto-Jumbo é o passo óbvio, mas uma quebra de contrato é uma situação delicada, pelo que o próprio ciclista não quer falar mais sobre o assunto, sendo agora o advogado quem está a lidar com o caso.

Walter Van Steenbrugge confirmou ao Sporza que o ciclista é, por agora, um "cowboy solitário", sem equipa, o que acaba até por definir bem o ciclista, que quer fazer o seu caminho, mesmo que tenha de lutar sozinho contra o que considera ser errado. Para o advogado, Wout van Aert tem razões para terminar o contrato 15 meses mais cedo. "Algo aconteceu no último fim-de-semana que foi a gota de água", explicou, considerando que já existiam outras questões que levaram à decisão radical. No entanto, não explicou qual foi essa gota de água.

O corredor escreveu num blog que "houve factos nos últimos dias que qualquer cooperação com a equipa seria impossível". "Infelizmente, para você como leitor, não lhe posso dizer mais nada de momento, devido ao aspecto delicado do caso", referiu. Van Aert vai tentar encontrar alguma tranquilidade para que possa enfrentar os Mundiais e a restante temporada de ciclocrosse o mais concentrado possível, enquanto define o seu futuro para 2019.

A fusão e um contrato melhorado

Wout van Aert será a estrela de qualquer equipa que o "apanhe". A Aqua Blue Sports pensou que lhe tinha saído o jackpot, pois não só conseguiria salvar a equipa, como ficaria ainda com uma garantida estrela do futuro imediato da modalidade. No entanto, a Vérandas Willems-Crelan negou o comunicado da equipa irlandesa que dava o acordo como fechado e foi negociar com a Roompot-Nederlandse Loterij.

O ciclista belga nunca gostou de não ter conhecimento de nada, ainda mais quando era constantemente questionado sobre o assunto, já que, sendo o rosto da equipa, acabava por estar completamente exposto a nível mediático sempre que ia competir. A Aqua Blue Sports anunciou que ia fechar portas, enquanto a Vérandas Willems-Crelan e a Roompot-Nederlandse Loterij vão transformar-se na Roompot-Crelan, que permanecerá como Profissional Continental.

Ter Van Aert certamente que entusiasmaria os patrocinadores e, por isso mesmo, a equipa confirmou que ofereceu ao ciclista um contrato melhorado apenas para 2019, sabendo que não seria possível segurar mais o belga, que tem calibre de World Tour. "Van Aert não aceitou a proposta e optou por terminar o seu contrato unilateralmente com efeito imediato. A direcção da equipa lamenta essa decisão. O assunto está agora nas mãos dos nossos advogados", explicou a equipa, através de um comunicado.

Quem contratar este ciclista já percebeu que terá pela frente um ciclista que sabe o que quer e que não tem receio de perseguir e lutar pelos seus próprios termos. Mas se os resultados aparecerem, será um investimento que trará muita rentabilidade, mesmo que Van Aert não perca por completo o seu lado de cowboy solitário, apesar de no ciclismo ter de saber jogar em equipa.

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