13 de setembro de 2018

Ao ataque

(Fotografia: © PhotoGomezSport/La Vuelta)
Dois dias para tudo decidir. Simon Yates e Alejandro Valverde podem liderar o favoritismo para lutarem entre eles pela vitória na Vuelta, mas Enric Mas demonstra uma tremenda atitude para quem tem apenas 23 anos e está na sua segunda grande volta. O espanhol quer ir ao ataque e tentar levar a surpresa da sua exibição ainda mais longe. Também Yates assume um discurso ofensivo, ainda que um pouco mais comedido. Só Valverde revela uma forma de estar expectante, mais do género: "vamos ver". Mas há 25 segundos para recuperar, pelo que o espanhol também não ficará à espera que o rival falhe. A experiência é muita, pelo que não surpreende a sua postura mais sensata, por assim dizer.

Tenta-se perceber se os dois percursos decisivos da Vuelta favorecem mais um ou outro ciclista, mas depois de tantas dificuldades, de ganhos e perdas de tempo, Yates e Valverde acabam por estar a um nível idêntico e ambos parecem mais convencidos que será no sábado que se tentarão fazer as diferenças. Bluff? Enric Mas não o faz. "Se as forças me acompanharem, talvez eu possa tirar alguma vantagem." Esta postura de Mas pode baralhar os planos dos dois primeiros. O espanhol tem estado a subir de forma durante esta Vuelta e se a inexperiência o poderá trair, a irreverência tem sido um elixir de sucesso.

"Conheço muito bem as estradas de Andorra. Sei onde atacar. Se me sentir com força, sem dúvida que o farei", disse Mas. Yates é britânico, mas Andorra também não tem segredos para ele. Afinal é um dos muitos ciclistas que fez daquela região a sua casa. "As etapas serão muito difíceis, mas estou entusiasmado. Estou só a tentar fazer a minha corrida. Penso que posso ganhar", afirmou um Yates, que ao dizer que quer fazer a sua corrida, já se sabe, é ao ataque que melhor sabe pedalar.

Temos então o sábio Valverde. "Quanto às estratégias, vamos ver como será o dia. Vamos ver como estamos e como estão os nossos rivais. Na parte final veremos o que se passa", referiu. Lá está: a postura do "vamos ver". Este discurso é de alguém que não quer revelar nada do que está planeado. A Movistar assumiu que estava na Vuelta para ganhar. Nairo Quintana desiludiu, mas Valverde confirmou como aos 38 anos continua num nível altíssimo de competitividade. Até o próprio admite que não esperava estar tão bem nesta altura da competição.

Valverde não é tão metódico como Quintana, mas também não é de se lançar ao ataque de qualquer maneira. O plano está delineado. Para amanhã e para sábado e poderá muito bem passar por ver se um eventual nervosismo afecta Yates ou tentar provocar esse nervosismo. Afinal ainda não foi há muito que o britânico esteve nesta situação de líder e perdeu-a. Foi precisamente na 19ª etapa do Giro que tudo se desmoronou e ficou sem a camisola rosa. Yates está diferente, aprendeu a lição, assim como a sua equipa, Mitchelton-Scott, e o ciclsita está decidido a manter a vermelha. Valverde mais decidido está para vencer pela segunda vez a Vuelta, quando se pensava que tal já não seria possível nesta fase tardia da carreira. E Mas? Porque não uma última reviravolta numa corrida em que o que parecia ser, teve tendência a não se confirmar.


Três ciclistas de enorme qualidade. Três personalidades distintas, mas que no ciclismo são todas sinónimos de espectáculo. Assume-se um trio de candidatos - Mas (Quick-Step Floors) tem 1:22 minutos de desvantagem -, que pela forma que apresenta, é um trio perfeito para um final emocionante. É isto que se pede depois de quase três semanas de ciclismo.

E claro, se mais alguém quiser reentrar na luta numa Vuelta em que tudo é possível, nem que seja pelo pódio, haverá então mais ataques. Miguel Ángel López (Astana, a 1:36) não tem medo nem nada a perder em arriscar. Steven Kruijswijk (Lotto-Jumbo, a 1:48) não é de grandes mudanças de ritmo, mas, capaz do melhor e do pior, tem de mostrar na montanha a força que mostrou no contra-relógio.

19ª etapa: Lleida - Andorra. Nauturlandia, 154,4 quilómetros

Para começar, um dia de final mais explosivo, antes da curta etapa de muita montanha, num dos dias mais esperados do ano no ciclismo. Esse é só no sábado. Primeiro há que passar o Coll de la Rabassa. 17 quilómetros com os dois primeiros (nem isso) a obrigarem a todos a estarem bem atentos. As pendentes aproximam-se dos 14% (nada de mais para quem já enfrentou de 24%!), mas depois irão variar entre 7/8%, baixam para os 3/4% e serão estas oscilações constantes até ao fim da etapa.



Sábado serão os 97,5 quilómetros com três primeiras categorias, uma segunda, uma terceira a abrir e a fechar esta sequência, antes do Coll de la Gallina, uma categoria especial, para um momento ainda mais especial. Sim, já se chegou àquela fase da Vuelta em que se implora: tempo, passa rápido! Mais rápido!

Wallays e o vento frustraram Sagan

Muito quer o eslovaco uma última vitória com camisola do arco-íris. Apesar de ir para Innsbruck tentar o quarto título, Peter Sagan sabe que naquele percurso tão montanhoso seria um milagre ganhar novamente. Por isso, vencer na Vuelta antes de se despedir da camisola (pelo menos por um ano) é algo que tanto quer, que vai até ao fim da corrida, quando não surpreenderia se já tivesse feito as malas.

O pelotão tirou mal as medidas à fuga, que recebeu a preciosa ajuda do vento, que durante muitos quilómetros empurrou o trio pelas costas. Sagan fez um assalto final e aproximou na que então já era uma dupla, mas era tarde. O belga Jelle Wallays deu uma vitória à Lotto Soudal, um dia depois de Thomas de Gendt vestir a camisola da montanha. Sven Erik Bystrom (UAE Team Emirates) perdeu o sprint, com Sagan a cortar a meta logo a seguir, cabisbaixo. Tem apenas Madrid como derradeira oportunidade.

Numa etapa completamente plana, sem contagens de montanha, a média foi de 47,10 quilómetros/hora! Os 186,1 entre Ejea de los Caballeros e Lleida foram percorridos rapidamente, no que Yates considerou ser a etapa mais fácil da Vuelta, apesar da alta velocidade, principalmente da parte final. Já Valverde não gostou tanto do perigo que acabou por ser aquela perseguição desenfreada à fuga. Mas faz parte e foi um teste à atenção de todos.

Pode ver aqui as classificações completas.

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