25 de setembro de 2018

Dumoulin vs Dennis. Quem se intromete?

(Fotografia: Giro d'Italia)
Isto de pensar que há vencedores anunciados tem tendência a dar lugar a umas surpresas. No que diz respeito a Mundiais, nem é preciso ir muito longe e foi o actual campeão, Tom Dumoulin, que recordou o que aconteceu da última vez que parecia haver tanta certeza quanto ao resultado final do contra-relógio. "Ainda me lembro dos Mundiais de Richmond. Diziam Dumoulin, Martin e Dennis vão estar no pódio, só falta determinar a ordem. No final, nenhum ficou com uma medalha." Assim foi em 2015 e nem Dumoulin, nem Dennis se deixam levar por um favoritismo que pouco significado têm quando estão na estrada. Se assim fosse, então seria uma luta por um lugar no pódio, com vários candidatos a esse posto e com Portugal a apresentar desde logo o seu: Nelson Oliveira. E sim, Dumoulin e Dennis são os super favoritos, mas há quem se possa intrometer e talvez não seja uma surpresa assim tão grande se tal acontecer.

Regressando ao que aconteceu em Richmond, como recordou Dumoulin ao Het Nieuwsblad, o trio referido de favoritos ficou a mais de um minuto de Vasil Kiryienka. O italiano Adriano Malori e o francês Jérome Coppel fecharam o pódio, com Dumoulin, Dennis e Tony Martin a fazerem quinto, sexto e sétimo, respectivamente. Dumoulin já confirmou entretanto o seu estatuto de melhor de mundo. Falta a Dennis responder e o australiano tem apontado grande parte da sua temporada a esta quarta-feira. Se na Volta a Itália ainda tentou o melhor resultado na geral, já na Vuelta foi lá ganhar os contra-relógios, para depois abandonar e pensar só em Innsbruck.

(Fotografia: © PhotoGomezSport/La Vuelta)
Dumoulin só fez a Volta a Alemanha após o Tour e esteve no contra-relógio por equipas no domingo, tal como Dennis. O holandês ficou com a medalha de prata com a Sunweb, o australiano com o bronze, com a BMC. Em 2018, Dennis venceu seis contra-relógios individuais, sendo o campeão nacional e além dos dois da Vuelta, venceu ainda um no Giro. Perdeu o primeiro na Volta a Itália para Dumoulin, que ganhou depois também no Tour, na 20ª etapa.

Interessa é quem está, mas é inevitável falar das ausências do segundo e terceiro de 2017, Primoz Roglic e Chris Froome, além de Geraint Thomas. Por isso mesmo, é mais do que justo colocar-se desde já Nelson Oliveira, quarto classificado em Bergen e sétimo em Ponferrada (2014) entre os favoritos da lista que se segue a Dumoulin e Dennis. O Paris-Roubaix voltou a estragar-lhe parte da temporada (sofreu uma queda) e ficou mesmo de fora do Tour, para sua desilusão. Mas apareceu muito bem na Vuelta, foi quarto no primeiro contra-relógio e sétimo no segundo, tendo realizado um excelente trabalho para os seus líderes da Movistar. Aos 29 anos já não há dúvidas que é um dos melhores especialistas da actualidade e uma medalha ficaria muito bem ao tetracampeão nacional.

"O percurso é muito exigente, especialmente a segunda parte. A subida tem três quilómetros muito duros e será decisiva, tal como a fase a seguir. Será necessário regular muito bem o esforço. No meu caso, não posso dar tudo na fase inicial para me sentir com força na parte final, porque é aí que posso ganhar aos rivais com mais peso", afirmou Nelson Oliveira, citado pela Federação Portuguesa de Ciclismo. Naturalmente que a ambição é melhorar o quarto lugar de Bergen2017, mas o ciclista aponta no mínimo a um top 10.

Nelson Oliveira sairá às 14:29 para os 52,5 quilómetros. "As sensações foram muito boas no contra-relógio por equipas, não senti o cansaço da Vuelta, o que é bom. Espero que amanhã esteja na mesma condição ou ainda melhor do que no domingo", salientou, recordando como esteve com a Movistar na abertura dos Mundiais, ajudando a equipa espanhola a ficar no sexto lugar.

Outros nomes que se podem intrometer entre o esperado embate Dumoulin vs Dennis. Stefan Küng é a grande esperança suíça de fazer regressar um título que Fabian Cancellara conquistou pela última vez em 2010. O espanhol Jonathan Castroviejo, o bicampeão europeu belga Victor Campenaerts, o dinamarquês Soren Kragh Andersen, o britânico Alex Dowsett (ainda que esteja muito abaixo do nível de outrora), o luxemburguês Bob Jungels e, claro, o tetracampeão mundial Tony Martin, são ciclistas que podem muito bem intrometer-se entre os dois favoritos. O alemão tem estado longe do seu melhor e começa a dar sinais de estar na fase descendente na sua carreira. Mas se há local em que pode mostrar o contrário e é onde sempre muito gostou de competir, esse local são os Mundiais.

Há mais um nome a acrescentar a esta lista: Michal Kwiatkowski. É um bom contra-relogista e a tentação é colocá-lo entre os possíveis outsiders, contudo, o polaco está focado na corrida de fundo de domingo, na qual procurará o seu segundo título. Mas é sempre um ciclista a ter em conta. Não sabe correr para apenas para mostrar a camisola.

A oportunidade de Domingos Gonçalves

(Fotografia: Federação Portuguesa de Ciclismo)
Este ano Portugal terá dois representantes no contra-relógio de elite. O bicampeão nacional, Domingos Gonçalves, foi chamado por José Poeira. Corre sem a pressão de um Nelson Oliveira, cujas expectativas são altas, mas depois de uma época de grande nível no pelotão nacional - seis vitórias, mais a medalha de prata no contra-relógio dos Jogos do Mediterrâneo - o gémeo de Barcelos quer mostrar-se num dos mais importantes palcos do ciclismo.

"Trabalhei bem para esta prova, tanto ao nível do treino como do descanso. O contra-relógio tem uma longa fase totalmente plana, na qual não podemos gastar toda a energia, porque a fase final, com a subida longa e o terreno mais ondulado, será muito importante. O segredo vai ser dosear o esforço, especialmente no meu caso, pois nunca fiz um contra-relógio tão longo como este", afirmou o ciclista da Rádio Popular-Boavista e que partirá para a sua prova às 13:43.

Os últimos a sair para a estrada serão Rohan Dennis, às 14:38:30 e Tom Dumoulin, às 14:40. O ponto que poderá decidir o título será a subida de cinco quilómetros, com 7,1% de inclinação média e 14% de pendente máxima, estando as rampas mais difíceis nos primeiros três quilómetros.



Esta terça-feira foram atribuídos mais dois títulos mundiais. Na elite feminina, a Holanda dominou a corrida de 27,8 quilómetros. Annemiek van Vleuten sagrou-se bicampeã mundial com 34:25 minutos. Isto significou que Anna van der Breggen foi segunda pela terceira vez, ao ficar a 30 segundos. As duas estiveram num nível muito acima das restantes ciclistas, com Ellen van Dijk a completar o pódio laranja. A campeã mundial de 2013 ficou a 1:25 minutos (classificações completas neste link).

Antes, o contra-relógio juniores teve uma exibição avassaladora de Remco Evenepoel (18 anos). Trocou o futebol pelo ciclismo e já lhe chamam o novo Merckx (uma tendência a acontecer na Bélgica sempre que aparece um ciclista promissor). Evenepoel tem contrato com a Quick-Step Floors para 2019 e 2020 e irá como campeão mundial de contra-relógio da sua categoria. O australiano Luke Plapp ficou a 1:24 minutos e o italiano Andrea Piccolo a 1:38 (classificações completas aqui). Quanto aos portugueses, Guilherme Mota foi 29º, a 3:42, e Afonso Silva 48º, 4:46.

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