Rui Costa com o seleccionador José Poeira (Fotografia: Federação Portuguesa de Ciclismo) |
Bem se viu Rui Costa a bater nas pernas quando as cãibras apareceram, mas quando pela frente estavam "apenas" os 2,8 quilómetros que chegavam a ter pendentes de 28%, o ciclista fez o que pôde para alcançar o que não deixou de ser um excelente resultado e o que estava definido como objectivo. E há que salientar que foram um dos Mundiais mais difíceis da história.
Rui Costa bem precisava de uma exibição assim. O ano foi difícil. a UAE Team Emirates contratou Daniel Martin e Fabio Aru, o que significaria a perda de uma liderança praticamente indiscutível nas grandes voltas. Mas como nunca virou a cara a um desafio, o ciclista tentou arrancar a época forte. A queda no Paris-Nice, em Março, determinaria toada da temporada. A lesão no joelho limitou-o desde então, chegando mesmo a ficar afastado da Volta a Suíça e depois do Tour, mesmo que antes até tenha estado a bom nível na Volta à Romandia (quinto na geral). Ficou de fora dos eleitos para a Vuelta e pela primeira vez desde que está no World Tour, não fez nenhuma grande volta.
É um ciclista que gosta dos grandes palcos e aquele título mundial de 2013 marcará sempre a sua carreira e a modalidade em Portugal. Em Innsbruck, não se intimidou com os 4680 metros de acumulado dos quase 260 quilómetros. Que bem esteve Rui Costa. Foi aquele Rui Costa que nos habituámos a ver, sempre bem colocado, a ler a corrida, a saber quem deve seguir ou quando deve tentar mexer pela corrida. Andava como que "escondido" há algum tempo, mas eis que os Mundiais ajudaram o português a reencontrar-se com as grandes exibições.
Lá se sofreu um pouco ao ver Rui Costa a tentar atacar na descida antes da temível subida final, pois Florença 2013 tornou-se bem viva na memória naqueles instantes. Aquelas violentas pendentes finais (antes da derradeira descida) não eram ao seu jeito, mas também não eram ao jeito de muitos. Até aquela subida parecia estar bem o português. Depois vieram os tais murros para "acordar" os músculos. O desporto é assim. Desta vez não deu, mas pelo menos vimos este ciclista ao seu nível. Depois de um ano com tantas limitações, surgir assim nos Mundiais foi um feito importante para o ciclista. Que seja o mote para o recuperar a sua melhor versão, seja qual for o seu futuro (está em final de contrato). Mais um resultado para a história dos Mundiais, com Rui Costa a cortar a meta 43 segundos depois do novo campeão mundial, Alejandro Valverde.
"Estive quase toda a corrida com os melhores. Na última subida longa tentei entrar num grupo, porque sabia que a subida final era muito inclinada para mim. Não foi possível. Tive de gerir o melhor possível, até porque já vinha com cãibras. Dei o meu melhor por Portugal. Estou contente com o décimo lugar, com pena por não ter conseguido mais. Agradeço a todos aqueles que me ajudaram e sempre me apoiaram, numa época com vários problemas. Acabar o Mundial no top 10 é muito gratificante para mim", afirmou Rui Costa, citado pela Federação Portuguesa de Ciclismo.
Mas falemos também de Nelson Oliveira. Sempre foi uma dupla que funcionou bem, na selecção e quando estiveram juntos na então Lampre-Merida. Fez o contra-relógio por equipas pela Movistar (sexto), o individual (quinto) e na corrida de fundo esteve sempre bem colocado, pronto para ajudar no que fosse preciso o líder. Terminou na 39º posição, a cinco minutos.
Ruben Guerreiro e Tiago Machado completaram o quarteto da selecção. O jovem ciclista, que está de malas feitas para a Katusha-Alpecin, esteve também ele sempre atento ao que Rui Costa precisava. Uma queda prejudicou-lhe a corrida. A dor num joelho forçou o abandono. Já Tiago Machado tinha saído de cena depois de muito ter trabalhado na primeira fase da corrida.
O seleccionador José Poeira viu assim cumprido o objectivo de top 10 para fechar os Mundiais austríacos. Este resultado, o quinto lugar de Nelson Oliveira no contra-relógio e o 16º de Guilherme Mota na corrida de fundo de juniores foram os pontos altos. Os sub-23 acabaram por ser os que ficaram abaixo das expectativas, que eram altas. Foi um daqueles dias em que simplesmente não correu bem. Esperava bastante, principalmente de João Almeida, mas no momento decisivo, a equipa não conseguiu ficar na frente da corrida. São ciclistas que estão num processo de aprendizagem e tanto João Almeida, Tiago Antunes, André Carvalho e Gonçalo Carvalho têm tudo para ter mais oportunidades para se mostrarem ao mais alto nível.
Fim de festa em Innsbruck. Para o ano é Yorkshire, na Grã-Bretanha, que receberá os Mundiais de ciclismo, entre 22 e 29 de Setembro.
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