5 de setembro de 2018

Yates e Mitchelton-Scott mostraram frieza, irritando Valverde e Quintana

(Fotgrafia: © PhotoGomezSport/La Vuelta)
Depois de um Giro no qual Simon Yates foi rei e senhor durante 18 etapas, com a Mitchelton-Scott a demonstrar uma força nunca antes vista no controlo de uma grande volta, mas que depois viu todo o trabalho desmoronar-se na 19º etapa, tanto o ciclista como a equipa mostraram agora na Vuelta que aprenderam algumas lições. Uma delas: se puderes poupar força no controlo da etapa, poupa e passa a responsabilidade ao próximo. O próximo, ou neste caso, a próxima, foi a Movistar, que se viu obrigada a perseguir uma fuga que incluiu um Thibaut Pinot que chegou a ser líder virtual. No final, tudo ficou na mesma no topo da classificação geral, contudo, as hostilidades entre as duas equipas estão abertas.

Apesar de ter na sua posse a camisola vermelha da liderança, a Mitchelton-Scott optou por deixar a frente do pelotão quando ainda faltava quase metade da etapa por concluir. Foi a mais longa da Vuelta, com 207,8 quilómetros entre Mombuey e Ribeira Sacra, Luintra e foi muito, muito atacada. Não houve paz para ninguém no constante sobe e desce. A equipa australiana e o seu líder, Simon Yates, optaram por mostrar uma tremenda frieza, arriscando mesmo a camisola vermelha. Ao não trabalhar, obrigaram a Movistar a assumir um papel que na maioria das vezes pertence a quem tem o ciclista no primeiro lugar. Porém, a Mitchelton-Scott fez-se valer do estatuto da Movistar, que está na Volta a Espanha com uma equipa fortíssima e com dois ciclistas na luta pelo triunfo, que actualmente estão em segundo e terceiro lugar.

A Movistar cumpriu a missão de terminar com uma aventura de Thibaut Pinot, que andou cerca de cem quilómetros em fuga. Tinha 2:33 de diferença no início do dia. Fugiu à procura de uma vitória de etapa e tentar subir um pouco na geral. A liderança virtual não assustou ninguém, mas a Movistar é que não quis ver o francês reentrar na luta e Pinot só acabou por recuperar 13 segundos. Ainda assim, o ciclista da Groupama-FDJ - que já teve um ciclista seu com a camisola vermelha, Rudy Molard - ficou contente com o que fez na etapa.

Esse não era o espírito de Alejandro Valverde e Nairo Quintana. Estavam bastante insatisfeitos. Ambos criticaram a Mitchelton-Scott de se aproveitar o trabalho da equipa espanhola. Valverde ataca a equipa australiana dizendo que gostam de "ir à borla", mas também se "atirou" às restantes formações: "Parece que as outras equipas não sabem correr." Já Quintana disse: "A sua [da Mitchelton-Scott] forma de correr é essa, sempre na roda e aproveitando o trabalho dos outros."

O colombiano salientou que a Movistar assumiu a responsabilidade de perseguição por querer preservar as posições dos seus dois principais ciclistas. Quintana é terceiro, a 14 segundos e Valverde segundo, a um. E é precisamente com essa intenção da equipa espanhola que jogou e provavelmente voltará a jogar a Mitchelton-Scott.

A resposta de Simon Yates não deixa dúvidas da táctica escolhida: "Estamos confiantes. A equipa fez um bom trabalho nos primeiros cem quilómetros. Foi um início difícil e caótico, que já estávamos à espera. Depois, a Movistar perseguiu, porque tem de o fazer. Não temos homens suficientes para controlar a etapa por mais de cem quilómetros. Eles têm os melhores homens aqui [na corrida]." Yates reforçou que naturalmente que Pinot é considerado um ciclista perigoso. "Não podemos controlar o dia todo e tivemos de correr alguns riscos e esse foi o risco que tomámos", salientou.

Mas é caso para dizer que é um risco controlado e uma jogada que só mais à frente na Vuelta se irá perceber se funciona. A Movistar está numa excelente posição para conquistar a Vuelta e, como equipa da casa e depois de um Tour que foi uma desilusão, a pressão é grande para obter um bom resultado que passa pela vitória na geral. As duas vitórias de etapa de Valverde são boas, mas não chegam, ainda mais quando há um ano a Movistar passou praticamente ao lado da corrida, ao não levar nenhum dos seus líderes.

Desta feita, só não levou os três porque Mikel Landa lesionou-se com gravidade na Clássica de San Sebastian. Se a Lotto-Jumbo, por exemplo, já tem assumido algumas despesas na frente do pelotão, todas as equipas irão sempre tentar usar a Movistar como um "escudo", obrigando a formação espanhola a desgastar-se e talvez assim, quando a alta montanha regressar, as restantes equipas estejam mais frescas. A Mitchelton-Scott está agora no centro das críticas da Movistar, mas já quando a Sky ou a Groupama-FDJ lideraram a Vuelta, a Movistar acabou sempre na frente do pelotão, ao ver que nenhuma tinha capacidade - ou no caso da Sky por não querer - de realizar o trabalho necessário, no ritmo necessário para controlar a corrida.

Etapa de nervos

Com esta animosidade entre as duas equipas, a etapa de quinta-feira ganha ainda mais interesse. A alta montanha regressa sexta-feira, mas com um percurso perto da costa, o vento poderá ter um papel importante nesta Vuelta na 12ª tirada. Os "abanicos", utilizando a expressão espanhola, serão um perigo constante se as previsões de vento se confirmarem, ao longo dos 181,1 quilómetros entre Mondoñedo e Faro de Estaca de Bares, na região da Galiza. A Movistar tem um passado de más memórias com este tipo de etapas.

Espera-se uma etapa de nervos, sendo que a desta quarta-feira foi tudo menos calma. Com ataques e contra-ataques, foi Alessandro de Marchi que finalmente regressou às grandes vitórias. Tantas são as vezes que se vê este italiano em fugas e, pode não ganhar muito, mas quando o faz, é sempre de nota: foi a terceira etapa na Vuelta, ao que se junta uma no Critérium du Dauphiné. Desde 2015 que De Marchi procurava este triunfo, abrilhantando ainda mais o adeus da BMC, que está a realizar a sua última grande volta com este nome. Foi a segunda vitória de etapa da equipa em Espanha, depois de Rohan Dennis ter ganho o contra-relógio e vestido a camisola vermelha. Richie Porte não conseguiu recuperar a forma para lutar pela geral depois da queda no Tour, mas a equipa já tem razões para sair de cabeça erguida da Vuelta.

Nas classificações, Valverde recuperou a camisola verde, deixando agora Peter Sagan a dois pontos. Luis Ángel Maté (Cofidis) não larga a camisola da montanha ainda que a concorrência vai começando a preparar-se para as etapas de alta montanha (cuidado com Bauke Mollema, da Trek-Segafredo). A Lotto-Jumbo está em primeiro na tabela por equipas, com Valverde a manter-se senhor do prémio combinado, mas Ben King (Dimension Data) vestirá novamente a camisola por empréstimo.

José Mendes (Burgos-BH) cortou a meta a 4:23 de De Marchi e é o melhor português na geral, na 73ª posição, a 48:05 minutos de Yates. Tiago Machado (Katusha-Alpecin) terminou a etapa a 5:04 do vencedor, Nelson Oliveira (Movistar) a 8:16 e José Gonçalves (Katusha-Alpecin) a 31:40.

Pode ver aqui as classificações após a 11ª etapa.




Sem comentários:

Enviar um comentário