23 de novembro de 2016

A tentação do Giro que ameaça a Volta a França

(Fotografia: Facebook Katusha)
Ilnur Zakarin diz não à Volta a França e em 2017 vai estar no Giro e na Vuelta. O russo pode ainda não ser um dos grandes nomes do ciclismo, ao nível daqueles que a organização da 100ª edição da Volta a Itália mais quer ver a competir em Maio nas estradas transalpinas: Chris Froome, Nairo Quintana e Alberto Contador. Porém, esta confirmação sobre a temporada de Zakarin é muito importante tendo em conta que o russo é agora o número um da Katusha, com a saída de Joaquim Rodríguez. Ou seja, a equipa, que será suíça em 2017, não vai "jogar" o seu principal ciclista naquela que é considerada a prova mais importante e mediática do mundo: a Volta a França.

Viatcheslav Ekimov, director da equipa demissionário - assumirá um papel de embaixador - confirmou publicamente e Zakarin (que até venceu uma etapa no Tour) junta-se assim a Vincenzo Nibal (líder da nova Bahrain-Merida), Fabio Aru (líder da Astana), Rafal Majka (líder da Bora-Hansgrohe) e Steven Kruijswijk (líder da Lotto-Jumbo). É certo que a Bora, por exemplo, poderá ter Leopold König no Tour e a Lotto-Jumbo Robert Gesink, contudo Majka e Kruijswijk são as primeiras escolhas no que diz respeito a provas de três semanas. Quanto aos italianos, seria quase um crime os dois melhores da actualidade não estarem presentes, mas Aru já disse que depois vai à Vuelta, enquanto Nibali só confirmou, para já, o Giro.

E agora os nomes que podem deixar a organização da Volta a França pouco satisfeita. Quando foi anunciado o percurso do Giro praticamente todos os principais ciclistas elogiaram, mas aos poucos foram fazendo mais do que isso. Foram dizendo que gostariam de ir ao Giro. Thibaut Pinot (FDJ) e Romain Bardet (AG2R) foram inicialmente barrados pelas equipas, pois as estrelas francesas, de equipas francesas devem estar no Tour. Porém, já foram surgindo informações que afinal um deles ou mesmo os dois podem apostar fazer a dupla Giro/Tour. Tom Dumoulin também parece estar inclinado para atacar o Giro e não deverá encontrar resistência da Sunweb-Giant (novo nome da Giant-Alpecin) que optará novamente por apostar em Warren Barguil no Tour.

Chris Froome lançou a confusão quando também abriu a porta ao Giro, mas a Sky já anunciou Mikel Landa como líder. No entanto, parece que a esperança de ver o britânico em Itália ainda não morreu completamente.

A grande surpresa acabou por ser Nairo Quintana. Depois de um Tour para esquecer, mas de uma Vuelta brilhante, o colombiano parte para 2017 de confiança renovada e crente que se recuperou tão bem entre a prova francesa e a espanhola, então poderá ser possível fazer o mesmo entre Giro e Tour. A Movistar não parece estar completamente convencida e Andrey Amador vai sendo falado como líder. Mas Quintana tem grande influência na forma como a sua época é planeada, pelo que se decidir tentar fazer esta dobradinha, Eusebio Unzué certamente que lhe criará todas as condições para tal. O colombiano até é visto como o mais forte candidato a repetir um feito que não se vê desde 1998, quando Marco Pantani venceu o Giro e o Tour.

Alberto Contador é carta fora do baralho. O espanhol quer a Volta a França e só a Volta a França. Eventualmente lá fará a Vuelta, apesar de dizer que se retira de vencer o Tour. Foi o último ciclista a tentar ganhar as duas provas no mesmo ano, em 2015, triunfando no Giro, mas depois não teve pernas para acompanhar os rivais no Tour, sendo quinto a quase dez minutos do vencedor Chris Froome.

Já a Orica-BikeExchange mantém o mistério. Para uma equipa que sempre apostou em sprints ou clássicas, agora tem um grupo de ciclistas que lhe permite escolher atacar mais que uma grande volta. Johan Esteban Chaves foi segundo no Giro e terceiro na Vuelta e poderá ser escolhido para o Tour. Mas será que a Orica aposta tudo na Volta a França, colocando também os irmãos Yates, ou divide as forças? Certo será que a equipa australiana vai ao Giro para tentar ganhar, seja com quem for o líder.

A verdade é que a Volta a Itália ameaça "tirar" os melhores ao Tour. Pelo menos tirá-los da melhor forma, caso resolvam fazer as duas provas. Fica também a questão se o facto de Landa ter sido confirmado como líder da Sky, algumas equipas comecem a pensar que em vez de lutar contra o mais do que esperado domínio da equipa britânica no Tour, poderão antes apostar em provas nas quais podem ter uma hipótese de ganhar, como qualquer outra equipa. A Volta a França traz um mediatismo incomparável, mas ganhar uma grande volta, seja qual for, é sempre muito valorizado e a Sky não se tem mostrado tão forte no Giro e na Vuelta.

Num perspectiva portuguesa, será que é desta que Rui Costa deixa de ter a Volta a França como objectivo principal? Já José Mendes confessou em entrevista ao Volta ao Ciclismo que gostaria de estar no Giro e assim fazer o pleno nas grandes voltas.

Fica a sensação que perante tantas declarações de intenções e elogios ao Giro, que bastará um dos grandes nomes confirmar a presença, para motivar os outros a fazer o mesmo. É esperar para ver.


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