13 de novembro de 2016

Quando ser gregário começa a saber a pouco

Wout Poels quer liderar a Sky numa grande volta (Fotografia: Team Sky)
Ter ambição é normal, é positivo, é motivante. Porém, quando se tem uma equipa que se quer unida em torno de um ciclista, a ambição pessoal de um ou dois corredores pode ser o suficiente para colocar em causa essa união. A equipa Sky tem sido, talvez, nos últimos anos a formação que mais se faz valer dessa união em torno de um líder. Bradley Wiggins primeiro, depois Chris Froome. Nem Mark Cavendish conseguiu ser o número um da equipa e tornou-se o tal membro ambicioso, que apesar de ter cumprido o seu pouco habitual trabalho de gregário, rapidamente procurou outra equipa. A Sky tem sabido lidar com algumas "insurreições", como quando Froome bateu com o pé e disse que não voltaria a ser fiel escudeiro de Wiggins. A lealdade quando se quer ganhar pode terminar rápido. Em 2017 a equipa britânica pode ter de enfrentar mais um desses problemas.

A questão de Froome foi facilmente resolvida, pois era óbvio que Bradley Wiggins não tinha capacidade para ser um líder forte durante muito mais tempo. E Froome não perdeu tempo em mostrar que tinha razão em exigir ser o número 1. A seu lado ficou Richie Porte. Um ciclista de uma lealdade que é difícil de encontrar e que Froome sabe que lhe deve muito do seu sucesso. Mas claro, que chegou o ponto que Porte queria mais. Deram-lhe a liderança no Giro e não correu bem e o australiano percebeu que o melhor caminho era mudar-se para um equipa onde fosse indiscutivelmente o líder. Na BMC encontrou esse espaço, mesmo havendo um Tejay van Garderen.

Quando se pensava que seria Geraint Thomas o sucessor de Porte como braço direito de Froome, surgiu um Wout Poels irrepreensível. Entrou para a equipa em 2015 e este ano deu à Sky o seu primeiro monumento ao conquistar a Liège-Bastogne-Liège (à custa de Rui Costa). Na Volta a França foi ele quem fez de fiel escudeiro de Chris Froome, num trabalho a todos os níveis brilhante. E não nos podemos esquecer que começou o ano com uma exibição dominadora na Volta à Comunidade Valenciana.

Numa entrevista a um jornal basco, Diario Vasco, o holandês confessou que a sua ambição já não se limita a ser de servir Froome e lutar por uma ou outra vitória quando o britânico não está. Com 29 anos feitos a 1 de Outubro, Poels quer ganhar uma grande volta. "Gostaria de fazer uma volta de três semanas como líder. É óbvio que com Chris Froome na equipa, no Tour não poderá ser, mas gostaria de tentar no Giro ou Vuelta", afirmou.

E qual é o problema? Chama-se Mikel Landa, contratado este ano para lutar pelo Giro e eventualmente pela Vuelta, dependendo da escolha de Froome, o espanhol teve um primeiro ano na Sky para esquecer - acabou por ainda ajudar no Tour -, depois de ter sido fantástico em 2015 na Astana, como gregário de Fabio Aru. É ele que deverá ser novamente o líder no Giro - se não houver nenhuma surpresa na escolha de Froome -, mas agora Poels também quer o seu espaço e a Sky sabe que terá de lidar com inteligência com estas ambições pessoais para, por um lado, manter a união da equipa e por outro para manter os ciclistas na formação e não acontecer como Cavendish, Edvald Boasson Hagen ou, mais recentemente, com Ben Swift, que depois de sete anos na Sky, vai rumar à TJ Sport, a nova equipa chinesa - que comprou a Lampre-Merida - e que conta com Rui Costa.

Uma equipa que quer sempre os melhores, tem de ser exímia em mantê-los satisfeitos e motivados. Vejamos o caso de Geraint Thomas: é lhe dada liberdade no início da temporada, para depois concentrar-se em servir Froome. Porém, com tantos egos e tantas ambições, a forma como a Sky consegue manter os seus ciclistas concentrados e unidos em torno do objectivo definido tem sido um dos segredos do seu sucesso.

Agora vamos ver o que poderá provocar estas declarações de Wout Poels e como será lidada a ambição pessoal do holandês que ganhou direito a ter voz dentro da equipa.

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