4 de novembro de 2016

Bjarne Riis está de volta, mais discreto do que o esperado, mas com ambição de regressar rapidamente à ribalta. E voltam também as suspeições do costume

(Fotografia: Twitter Bjarne Riis)
Era um regresso esperado, mas nem por isso desejado. Bjarne Riis vai voltar ao ciclismo, ainda que por uma "porta de trás". Desde o início do ano que falava em dirigir novamente uma equipa, depois de em 2015 ter sido despedido por Oleg Tinkov, a quem tinha vendido a formação dois anos antes, mas continuado como director desportivo. Com o anúncio do magnata russo de deixar a modalidade, o nome de Riis surgiu como possível comprador da Tinkoff, já que mantém a estreita relação com Lars Seier Christensen, co-fundador do Saxo Bank, que patrocinou a equipa antes da chegada de Tinkov (ainda chegaram a partilhar a formação). Ora a reacção de Oleg Tinkov foi ao seu estilo: perante a animosidade que sente por Riis disse logo que preferia acabar com a equipa do que vendê-la ao dinamarquês.

Além deste "bloqueio" de Oleg Tinkov, o possível regresso de Bjarne Riis foi visto como algo muito indesejado, sendo o antigo ciclista um dos homens com ligações ao doping. Riis é daqueles nomes que se preferia deixar no passado (esquecer é difícil, mas porque não tentar), já que o dinamarquês foi um dos que admitiu ter recorrido a EPO, hormonas de crescimento e cortisona durante parte da sua carreira, inclusivamente quando venceu a Volta a França em 1996. A confissão em 2007 surgiu depois de outros ciclistas, que tinham sido seus companheiros, terem admitido o uso de doping.

Então Bjarne Riis já era o director desportivo da equipa que viria a ser a Tinkoff e que era das mais fortes do pelotão. As suspeitas de doping também foram surgindo na equipa e Tyler Hamilton, antigo ciclista, escreveu um livro no qual divulgou como Riis incentivava os seus atletas a recorrer a substâncias ilegais para melhorar as performances. Ivan Basso (vencedor do Giro em 2006), por exemplo, esteve envolvido na chamada Operação Puerta, um dos esquemas de doping que foi investigado.

O despedimento de Riis por Tinkov foi justificado por diferenças de ideias, com o empresário russo a mais tarde a acusar do dinamarquês de receber um ordenado muito alto para as funções que exercia, dizendo que a equipa continuava a ganhar sem ele e por menos dinheiro. E esta terá sido das críticas mais "simpáticas" que fez.

Mas um dos rostos daquela que acabou por ser uma era negra para o ciclismo conseguiu agora voltar e mesmo que esteja a ter uma entrada discreta, a ambição é regressar ao World Tour rapidamente. Riis e o parceiro do costume - Lars Seier Christensen - são agora donos da Virtu Pro-VéloConcept, do escalão Continental, e também da formação feminina BMS Birn, que irá ter o mesmo nome que a equipa masculina e vai competir no World Tour.

Bjarne Riis destacou que o objectivo é continuar a explorar o potencial que os conjuntos têm demonstrado, inclusive na formação de ciclistas dinamarqueses. No entanto, realçou que a aquisição das equipas "é o primeiro passo". Riis referiu que "há pressão para que os planos avancem", assegurando que tem "patrocinadores interessados" em colocar a equipa masculina no principal escalão já em 2018. Só não ficou claro se irá manter a estrutura actual da Virtu Pro-VéloConcept, ou se montará uma nova.

Numa altura em que a UCI recuou na decisão de diminuir de 18 para 17 as equipas no World Tour e enfrenta ainda uma luta contra a regra de promoções e descidas de escalões, Riis ameaça dar mais uma dor de cabeça ao organismo caso queira mesmo reentrar no World Tour, Isto além, claro, de ser impossível não trazer as suspeitas do costume com ele, isso sim, uma questão bem mais preocupante e que o ciclismo não precisava.

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