30 de novembro de 2016

Theuns entre a motivação de mostrar a sua qualidade e o medo de não conseguir voltar a estar ao melhor nível

Edward Theuns é considerado um dos ciclistas com grande
potencial para as clássicas, mas também nos sprints
A história de Adriano Malori transformou-se num exemplo de como a crença e o trabalho pode contrariar prognósticos médicos. O ciclista italiano da Movistar correu o risco de não voltar a competir, já para não falar que após a queda no Tour de San Luis não conseguir fazer os gestos mais básicos. A gravidade do seu caso - chegou a estar em coma em induzido - fez com que a sua história recebesse grande atenção mediática. Porém, 2016 tem, infelizmente, vários exemplos dos perigos que os ciclistas enfrentam. A morte de Antoine Demoitié em Março é o exemplo máximo, mas há ainda o caso do belga Stig Broeckx, em coma desde final de Maio e com um prognóstico muito incerto. Ambos os casos tiveram motos envolvidas nos acidentes. No caso de Malori terá sido um buraco a provocar a aparatosa queda, mas há ainda a história de Edward Theuns. No contra-relógio da Volta a França, o belga não conseguiu controlar a bicicleta quando a roda da frente "fugiu" ao fazer uma curva e um tronco acabou por fazer com que "voasse" até embater com violência com as costas no chão. A temporada acabou de forma dramática e com um grande susto para o jovem de 25 anos.

Theuns só pensou que o seu primeiro ano do World Tour seria o último da carreira. Não se conseguia vestir, comer ou ir à casa-de-banho sem ajuda. Recuperou e agora só pensa em continuar em mostrar em 2017 o que a queda na Volta a França interrompeu: que é um ciclista de grande qualidade e que pode dar muitas vitórias à Trek-Segafredo, ainda mais numa altura em que a equipa americana já não vai ter o seu rei das clássicas, Fabian Cancellara. Foi um alívio quando os médicos lhe disseram que poderia voltar a competir. Porém, Theuns deixa uma confissão: "Tenho medo de não conseguir voltar a estar ao meu melhor nível."

Era um dos ciclistas que estava a criar maior expectativa este ano. Só venceu uma etapa na Volta a Bélgica, mas alcançou resultados animadores noutras competições, que deu certezas à Trek-Segafredo que Theuns é uma contratação que tem tudo para dar vitórias à equipa. Na Topsport Vlaanderen-Baloise, o jovem belga rapidamente se tornou uma estrela e era óbvio que não demoraria a saltar para o World Tour. Em entrevista ao site Ciclismo Internacional, o ciclista recorda como ele o o seu agente estudaram as propostas que receberam, considerando que a Trek seria perfeita dada a aposta que faz nas clássicas. "Foi uma loucura partilhar a mesa com estrelas como Cancellara, Frank Schleck ou Hesjedal na primeira concentração [da equipa]", recordou.

Momento da queda (Fotografia:Página de fãs de Theuns no Facebook)
Apesar de pensar que iria ser uma aposta para as clássicas, a Trek-Segafredo surpreendeu ao apostar nele para sprinter. O belga admitiu que ficou sem saber muito bem o seu lugar tendo em conta a presença de Giacomo Nizzolo e Niccolo Bonifazio. No entanto, a equipa geriu a época do jovem ciclista, que foi ganhando confiança até 15 de Julho. Naquele dia, o contra-relógio acabou com uma queda aparatosa.

"Lembro-me de tudo. Foi no contra-relógio e queria fazer um bom tempo. Por isso, encarei as descidas de forma muito forte e estava a 80/90 quilómetros quando vi uma curva. Comecei a travar para evitar riscos, mas a roda da frente descontrolou-se e foi então que decidi deixar-me cair para evitar danos maiores. Infelizmente havia um tronco e choquei com a roda. Saí a voar pelo ar. Cai quase sentado e lesionei-me nas costas", descreveu. Soube logo que seria importante não se mexer para evitar agravar a lesão. Foi operado dois dias mais tarde, com a angústia a tomar conta do seu estado de espírito.

Theuns logo a seguir à queda que terminou com a sua temporada
(Fotografia: Página de fãs de Theuns no Facebook)
Entretanto regressou à Bélgica onde fez a longa recuperação e foi convidado para ser comentador em algumas corridas, experiência que o divertiu, mas que não pensa para já em tornar numa carreira. Agora só pensa em preparar-se para aparecer em 2017 na melhor forma possível, apesar de não esconder a ansiedade por não saber como se irá sentir em competição.

Saberá que não escapará a alguma pressão inerente a quem pertence a uma equipa World Tour e que tem a responsabilidade de alcançar resultados. No entanto, parece que neste momento é o próprio Theuns que coloca mais pressão sobre ele próprio.

Quando em forma, Edward Theuns é um daqueles ciclistas dotados para o espectáculo. É um lutador, ambicioso, com claras qualidades para em breve ombrear com Peter Sagan ou Greg van Avermaet, por exemplo, ou então - se a Trek continuar a apostar em Theuns para os sprints - com Marcel Kittel, André Greipel ou Mark Cavendish.

Porém, neste momento há um enorme ponto de interrogação sobre o que poderá render Edward Theuns, sendo um dos ciclistas a ter em atenção em 2017, esperando que possa concretizar as expectativas criadas e que a queda não deixe sequelas que travem uma promissora carreira.


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