28 de setembro de 2016

Mundiais: Sem sprinters, Portugal vai lutar com as (boas) armas que tem

José Gonçalves terá a oportunidade para se mostrar
nos Mundiais do Qatar antes da estreia no World Tour em 2017
Demorou, mas finalmente José Poeira anunciou quem vai levar aos Mundiais do Qatar (9 a 16 de Outubro). A missão para escolher apenas três ciclistas não era fácil perante um percurso plano, feito para sprinters e o próprio seleccionador já havia confessado ao Volta ao Ciclismo que "o Mundial não era muito bom" para a equipa portuguesa. Com uma "crise" de sprinters no país, José Poeira optou por uma equipa de luta, destacando-se nesse perfil José Gonçalves. Nelson Oliveira é um bom rolador e também poderá entrar numa fuga e Sérgio Paulinho será a voz da experiência, que poderá ser muito importante numa prova em que a selecção nacional parte com o objectivo de fazer o melhor que for possível num pelotão preenchido com os melhores sprinters do mundo, ávidos de conquistar um título numa competição que desde 2011 não tinha um percurso tão perfeito para eles e tão cedo não deverá voltar a ter.

Com o final precoce da carreira de Manuel Cardoso, Portugal perdeu a sua principal referência no sprint nos últimos anos. Daniel Mestre (Efapel) tem sido um dos homens que se tem destacado nos sprints, mas o próprio admite não ser um sprinter puro e quando se fala numa competição onde estarão Mark Cavendish, André Greipel, Marcel Kittel, Elia Viviani, Peter Sagan (presença ainda não confirmada), Tom Boonen ou os jovens Caleb Ewan e Fernando Gaviria, é compreensível que a aposta mais correcta seja enviar homens com experiência internacional e que podem tentar criar alguma surpresa.

Será estranho não ver Rui Costa, campeão do mundo em 2013, mas a verdade é que o ciclista da Lampre-Merida não teria um papel muito determinante, ainda mais numa temporada que já vai longa. Com os Mundiais a serem mais tarde do que o costume e com temperaturas que podem chegar aos 40 graus, além do percurso plano... Qatar não era lugar para Rui Costa. Certamente que Bergen, na Noruega, será um alvo mais apetecível em 2017 para o ciclista português.

Mas o que importa é quem lá vai estar e o destaque vai para José Gonçalves. O homem da Caja Rural não escondeu o desalento quando ficou de fora dos eleitos para os Jogos Olímpicos. Foi ao Europeus e agora tem a oportunidade para estar nos Mundiais. Uma coisa não compensa a outra. Os Jogos realizam-se de quatro em quatro anos e o percurso no Rio de Janeiro até era um que certamente José Gonçalves gostaria de ter competido. No Qatar, o português terá de recorrer ao seu espírito lutador e à qualidade de bom rolador. É ciclista que sabe sprintar, mas voltamos à conversa de que estamos a falar dos melhores do mundo em busca da camisola do arco-íris.

José Gonçalves (27 anos) é uma escolha óbvia, porque se há alguém que não se vai deixar intimidar pelos nomes que estarão no pelotão, esse alguém é este ciclista. O único senão é que Gonçalves não está a realizar um final de temporada muito animador. Abandonou a Volta a Espanha na 11ª etapa devido a cansaço e nos Europeus cumpriu o seu papel de apoio a Rui Costa, terminando na 68ª posição. Porém, estamos a falar de um ciclista com provas dadas, que este ano venceu a Volta a Turquia (além de um triunfo numa etapa na Volta a Portugal) e tem contrato garantido para em 2017 entrar no World Tour, representando a Katusha. Só se poderá esperar que José Gonçalves além de estar bem fisicamente, esteja também com aquela motivação que o tornou conhecido no ciclismo, pois quando resolve tentar ganhar, é certo que vai dar trabalho às equipas e muito espectáculo.

(Fotografia: Facebook Federação Portuguesa de Ciclismo)
Nelson Oliveira (27) teve um primeiro ano de Movistar muito positivo e afirmou-se definitivamente com um dos melhores contra-relogistas do pelotão internacional com o terceiro lugar num dos esforços individuais no Tour, o sétimo nos Jogos Olímpicos e o quarto nos Europeus. A principal aposta do português será precisamente no contra-relógio, onde será o único representante luso na categoria de elite, e claro que se espera que possa pelo menos repetir um top dez, ainda que também aqui é um pouco prejudicado por ser um percurso plano. Na prova de estrada, Nelson Oliveira poderá integrar alguma fuga ou então aliar-se a José Gonçalves tentando ajudar o colega a surpreender os sprinters. E já se sabe que no que diz respeito em defender um líder, Nelson é exímio, mesmo quando se trata de um percurso que não dá grande ambição à equipa portuguesa.

(Foto:Facebook Federação Portuguesa de Ciclismo)
A chamada de Sérgio Paulinho é claramente a necessidade de ter um homem experiente, com grande capacidade para analisar a corrida, algo que poderá ser importante para José Gonçalves, que por vezes é um pouco impulsivo e poderá beneficiar da inteligência do medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Aos 36 anos, o ciclista que durante tantos anos foi um dos homens de confiança de Alberto Contador, vive agora uma fase de indefinição na sua carreira com o final da Tinkoff, não tendo ainda contrato para 2017, ainda que esta quarta-feira tenham surgido notícias do possível interesse da Movistar. Nos Europeus em Plumelec, França, Sérgio Paulinho foi simplesmente fenomenal no trabalho para Rui Costa, demonstrando que tem muito para dar. Revelou também apresentar-se em boa forma nesta fase final de temporada, algo também importante quando se irá enfrentar condições tão adversas.

Em Doha espera os ciclistas um percurso de 257,5 quilómetros, 151 dos quais serão pedalados através do deserto, com um circuito de 15,2 quilómetros (sete voltas) a concluir a prova. Desde que Rui Costa ganhou a camisola do arco-íris em 2013, que em Portugal sempre se ambiciona alto e mesmo sem sprinters é de esperar que as cores nacionais sejam, no mínimo, bem representadas e no contra-relógio... nunca se sabe.

Nos restantes escalões, Portugal estará representado nos sub-23 por César Martingil (Liberty Seguros/Carglass), Ivo Oliveira (Liberty Seguros/Carglass) e Nuno Bico (Klein Constantia), enquanto nos juniores os eleitos foram Daniel Viegas (Bairrada), João Almeida (Bairrada) e Pedro Teixeira (ACDC Trofa). Tal como Nelson Oliveira, Ivo Oliveira e os juniores Daniel Viegas e João Almeida vão competir na prova de fundo e no contra-relógio.



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