4 de setembro de 2016

Etapa para a história. Aliança Quintana/Contador quebra a Sky

Contador e Quintana a aliança inesperada, mas perfeita (Fotografia: Team Sky)
Há dias que escrevem a história do ciclismo. Hoje foi um deles. Alberto Contador e Nairo Quintana são os protagonistas de uma história que será contada em qualquer sítio que fale em momentos memoráveis da modalidade. A aliança foi perfeita, enquanto a Sky foi do mais imperfeito que alguma vez se viu quando tem Chris Froome como líder. Mais do que o colombiano ter dado um passo gigante rumo à sua segunda vitória numa grande volta, esta etapa 15 da Vuelta será lembrada por um Contador e Quintana a atacarem nos primeiros quilómetros, apanhando uma Sky desconcentrada e que abandonou o seu líder com mais de 100 quilómetros por cumprir.

Por mais vontade que haja por começar por criticar a Sky e descrever como um Froome derrotado terminou a tirada, há que começar pelo positivo. Depois de uma etapa tão dura no sábado, era ainda assim de esperar que algo poderia acontecer este domingo. Mas nunca nada assim. Alberto Contador, que tanto tem tentado mostrar-se e que sucessivamente tem falhado, revelou todo o seu carácter de lutador. De recordar que o próprio admitiu que lhe custava começar as etapas sabendo que o objectivo estava tão longe. Porém, é difícil derrubar o moral do espanhol. Foi ele que iniciou o ataque logo no início da curta etapa (118,5 quilómetros entre Sallent de Gállego e Aramón Formigal).

Mas o ataque era muito mais do que um daqueles ataques de longe que Contador até tenta de vez em quando. Era a demonstração de uma aliança entre a Tinkoff do espanhol e a Movistar do líder Nairo Quintana. Pode-se dizer que era o teste supremo a uma Sky, longe daquela equipa imbatível da Volta a França. O que ninguém esperaria, provavelmente nem Quintana e Contador, era que nem sequer houvesse uma equipa britânica a perseguir. A Sky foi finalmente quebrada no seu próprio jogo, ou seja, no Tour apostou em descidas ou outro tipo de tácticas e não apenas nas subidas para ganhar tempo com Froome, hoje provou do seu veneno.

Há quem diga que foi um ataque à antiga, dos tempos de Eddy Merckx ou Bernard Hinault, quando os líderes atacavam desta forma. Hoje em dia talvez seja tudo mais calculado e o que se passou este domingo foi muito bem preparado. Porém, já não se espera algo assim. Logo nos primeiros quilómetros. Se foi à antiga ou não, é um opinião pessoal. Mas foi espectacular. Foi memorável. Isso é uma opinião generalizada.

Quem não gostaria de saber o que foi dito aos ciclistas da Sky após a etapa. Como foi possível apenas David Lopez ficar com Froome. Todos os outros ficaram num terceiro grupo que rapidamente perdeu tempo e ao perceber que não iam conseguir chegar ao seu líder, os ciclistas da Sky deixaram de trabalhar. Lopez fez o que pôde, mas não era o terreno dele e quando começaram as dificuldades, as forças também começaram a faltar. Froome tentou uma aliança com a Orica-BikeExchange que tinha o interesse em defender o terceiro e quarto lugar de Johan Esteban Chaves e Simon Yates. Mas até acabou por ser a Astana a melhor ajuda, na tentativa de defender o top dez de Michele Scarponi. Mas tudo foi insuficiente contra uma Tinkoff e uma Movistar unidas.


(Fotografia: Team Sky)
Como é um Chris Froome derrotado? É aquele que chegou à última subida do dia, uma primeira categoria, sem conseguir reagir. Não impôs o seu ritmo e até viu outros ciclistas afastarem-se, como Chaves, que lá salvou o terceiro lugar a muito custo. Talvez não tenham sido as pernas que falharam a Froome, o britânico estava psicologicamente derrotado (bem diferente do estado de espírito de sábado), provavelmente incrédulo com o que aconteceu. A sua equipa falhou - os ciclistas estavam mal colocados e claramente distraídos -, ele próprio falhou, pois aquando do ataque também não estava bem colocado. Um erro táctico imperdoável, pois não estavam concentrados e na posição obrigatória de controlo desde o primeiro quilómetro e a partir do oitavo viram a Vuelta desmoronar-se.

Nairo Quintana queria três minutos de vantagem no contra-relógio. Agora tem 3:37 e, por isso, não admira que tenha dito que foi "um dia grandioso". Alberto Contador queria salvar algo desta Vuelta e procura o pódio. Se não fosse mais uma vez ter claudicado na subida final talvez o tivesse conseguido, mas já é quarto e tem o terceiro lugar a cinco segundos de distância.

E agora Chris Froome?

Se há algo que se aprendeu com esta Volta a Espanha, é que nunca se pode dar algo por garantido. Nairo Quintana não pode descansar. Ainda há tempo e montanha para Froome ameaçar o colombiano. A missão tornou-se muito mais difícil, é certo. Porém, mais surpreendente do que a etapa de domingo, seria se o britânico não tentasse uma reacção. A etapa de quarta-feira acabou de ganhar uma importância inesperada. Vem a seguir ao dia de descanso e tem duas segundas categorias, uma terceira e acaba em alto numa primeira.

Será também um teste ao carácter desta Sky, nada habituada a estas situações, mas que está obrigada a fazer algo para salvar a honra destruída por Nairo Quintana e Alberto Contador.

Brambilla confirma ano fantástico da Ettix-QuickStep nas grandes voltas

O italiano venceu a etapa, tendo sido o único a acompanhar o ritmo de Quintana na última subida. Ao sprint era o mais forte na teoria e o colombiano nem tentou contrariar. Gianluca Brambilla venceu este ano a sua primeira etapa no Giro e até liderou e agora também se estreou a ganhar na Vuelta. Quarta vitória da equipa belga em Espanha, o mesmo número que alcançou em Itália. No Tour só ganhou uma vez. São nove vitórias em grandes voltas, que faz da equipa a mais ganhadora nas competições de três semanas.

Mais de 90 ciclistas chegaram fora do tempo limite... incluindo a Sky

E se esta segunda-feira só partissem 71 ciclistas? E se Froome ficasse sozinho até final da Vuelta? Se a regra do tempo limite fosse seguida à risca, mais 90 ciclistas seriam excluídos da Volta a Espanha depois de terem chegado 22 minutos fora do limite. Neste autêntico pelotão estavam, por exemplo, os colegas de Froome, toda a equipa da Direct Energie, o vencedor da etapa de sábado Robert Gesink (Lotto-Jumbo) e os portugueses Tiago Machado (Katusha), José Mendes (Bora-Argon 18), Mário Costa (Lampre-Merida), com Peter Kennaugh (Sky), o primeiro líder desta Vuelta, a ser o último.

A organização não gostou da atitude, mas lá teve de fechar os olhos e amanhã estarão todos à partida.

Etapa 16: Alcañíz-Peñíscola (158 quilómetros)
Após um fim-de-semana de emoções fortes, altura para aproveitar uma etapa que apenas tem uma terceira categoria e será propícia ou para fugas ou para os sprinters voltarem a tentar a sua sorte. No entanto, atenção ao vento que se poderá fazer sentir em certas zonas.


Resumen - Etapa 15 (Sabiñánigo / Sallent de... por la_vuelta

Veja o resultado da 15ª etapa entre Sabiñanigo e Sallent de Gállego / Aramón Formigal (118,5 quilómetros) e as classificações da Volta a Espanha.

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