24 de setembro de 2016

Voeckler prepara abandono... e a Volta a França não será mais a mesma

(Fotografia: Facebook Direct Energie)
Lutador, um pouco irascível, um estilo inconfundível a pedalar e a língua de fora. Thomas Voeckler tornou-se uma das imagens da Volta a França. Foram 15 anos em que o francês tornou-se num daqueles ciclistas que se está sempre à espera de o ver fazer algo no Tour. A competição marcou a sua carreira e, por isso mesmo, o veterano ciclista decidiu que o momento certo para a sua retirada aproxima-se e será quando cortar a meta nos Campos Elísios em 2017.

Ainda nem houve tempo para nos habituarmos que no próximo ano Fabian Cancellara, Joaquim Rodríguez, Frank Schleck, Jean-Christophe Péraud ou Ryder Hesjedal já não estarão no pelotão e, no entanto, começaram a surgir os anúncios de abandono no próximo ano. Tom Boonen arruma a bicicleta depois do Paris-Roubaix, Voeckler considera que aos 38 anos é uma boa altura para deixar a competição. E ainda nem terminámos 2016...

"A Volta a França deu-me tudo, portanto vou terminar onde tudo começou", afirmou Thomas Voeckler numa entrevista ao jornal L'Equipe. "Foi uma decisão difícil de tomar. Estava a dormir mal por causa disto. E então, um dia, tornou-se tudo claro. Disse a mim mesmo: 'Fazes uma última Volta a França e depois acabas", acrescentou.

Assinou o primeiro contrato profissional em 2001, com a então Bonjour, e pode não ter sido um ciclistas de inúmeras vitórias, mas deixou a sua marca na maior competição de três semanas. E para um francês, Voeckler deixará o ciclismo sentido-se realizado, mesmo que nunca tenha vencido a geral e o pódio lhe ter escapado naquele memorável ano de 2011.

2011 marcou a carreira de Voeckler quando vestiu a camisola
amarela durante nove dias na Volta a França
Nenhuma das três etapas que conquistou no Tour foi vencida naquele ano. Porém, em 2011, Voeckler demonstrou uma resiliência que entrou para a história. Naquela edição repetiu-se a frase "hoje Voeckler deverá perder a camisola amarela" tantas vezes que a certa altura já se começava a acreditar numa surpresa. Tudo começou quando na nona etapa a fuga triunfou, com Voeckler a ser segundo, atrás de Luis Leon Sanchez, com quase quatro minutos de vantagem para o pelotão. Seguiram-se nove dias de camisola amarela, de esforço, de sacrifício, de uma luta intensa e de recuperações impressionantes quando parecia que o francês estava a ceder. Suportou todos os ataques, até que o Alpe d'Huez o vergou e nem no pódio o deixou ficar. Cadel Evans seria o vencedor em 2011, com os irmãos Schleck, Andy e Frank, a ficarem em segundo e terceiro, respectivamente. Voeckler foi quarto a 3:20 minutos de Evans e a um minuto de conseguir pelo menos o último lugar no pódio.

Em 2012 conseguiria estar no desejado pódio como vencedor da classificação da montanha, mas desde então Voeckler não tem assumido a liderança da equipa como noutros anos. O francês prefere um papel de atacante, procurando etapas, dando espectáculo com aquela inconfundível forma de pedalar e claro, a língua de fora. Quando o faz, temos a certeza que Voeckler está a dar tudo o que tem. Faz o que quer, quando quer.

Foi um ciclista que tanto conquistou fãs como cultivou alguns ódios de estimação, muito por culpa de ser uma daquelas pessoas que considera o politicamente correcto desnecessário. Se tem uma opinião, não tem problema em expressá-la.

A imagem de marca de Thomas Voeckler
Talvez por isso nunca tenha tido uma carreira ao mais alto nível. Só em 2014 esteve no World Tour, quando a Europcar por lá passou. Foi fiel à formação francesa, ali é senhor do seu destino e nunca abdicou dessa condição. Aliás, quando a equipa correu o risco de terminar por falta de patrocinador, Voeckler até sugeriu que o seu ordenado fosse reduzido para ajudar a continuidade da formação e a sua, mas lá apareceu a Direct Energie.

O futuro? Director desportivo parece não entusiasmar Thomas Voeckler, mas ser um dos treinadores da selecção francesa é algo que o ciclista se vê a fazer. Mas para já, o francês quer então preparar o final da sua carreira e depois descobrir o seu caminho.

Gostem ou odeiem, a verdade é que a Volta a França não será a mesma sem o ciclista da língua da fora que sempre teve dificuldade em perceber o significado de desistir. E quem ganhou com isso foi o espectáculo.

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