3 de setembro de 2016

A etapa da estratégia, de Simon Yates e da vitória psicológica de Froome

Froome não deu um metro a Quintana (Fotografia: Team Sky)
Grandes nomes, grande espectáculo. O que tanto se esperou na Volta a França - e deixou uma enorme frustração - aconteceu na Volta a Espanha, no dia em que se andou por estradas francesas! Nairo Quintana e Chris Froome mediram forças, mas esta etapa foi muito mais do que um frente-a-frente entre os dois principais candidatos, foi uma verdadeira lição de estratégia, do melhor que há no ciclismo. E neste início de texto seria injusto não falar de Simon Yates e da Orica-BikeExchange. Foi uma preparação táctica fantástica da tirada, só superada pela exibição fenomenal do jovem britânico.

196 quilómetros, três subidas de primeira categoria e uma especial para terminar. A fuga não foi apenas mais uma. Juntou cerca de 40 ciclistas, incluindo três Movistar e um Sky. David Lopez limitou-se a ser o "informador" para a equipa, mas ver três homens importantes na protecção a Nairo Quintana na frente, baralhou e muito a corrida. Daniel Moreno, Rubén Fernández e José Joaquín Rojas obrigaram a Sky a ter de assumir as despesas da perseguição, algo pouco habitual nesta competição. Se na quinta-feira a Sky tentou desgastar a Movistar colocando homens na frente, este sábado foi o contrário, mas nada que pudesse ser considerado uma surpresa. Colocar homens na frente neste tipo de etapas é um modus operandi de Eusebio Unzué, director desportivo da Movistar. Já os que escolheu levantou questões sobre o que pretendia com a arriscada táctica, mas principalmente criou muita expectativa na corrida.

Se as duas primeiras subidas acabaram por ser cumpridas sem mexidas, já na penúltima começou o espectáculo da autoria de Simon Yates. O britânico de 24 anos ganhou a sua primeira etapa numa grande volta nesta Vuelta. Hoje não venceu, mas a sua exibição foi memorável. Arrancou e com 3:25 minutos na geral, ninguém se preocupou em persegui-lo. Os ciclistas que estavam na frente da Orica-BikeExchange ficaram para trás e um trio pedalou entre as subidas, até que Yates ficou sozinho, mas com um ritmo alucinante tendo em conta a dificuldade no Aubisque, que o levaria ao quarto lugar da geral (era sétimo) a 2:17 da liderança.

Mas o dia da Orica não se ficou por Yates. Johan Esteban Chaves atacou na última subida e beneficiando do mau dia de Alejandro Valverde, encurtou ligeiramente a diferença, mas o importante foi que chegou ao terceiro lugar, a 2:01.

Pode parecer estranho porque se fala primeiro de Yates e Chaves, quando na etapa rainha Quintana e Froome mediram forças, mas numa tirada marcada por estratégias a da Orica foi a que resultou com maiores proveitos.

Mas vamos então ao duo de favoritos. A Sky sobreviveu ao trabalho que se viu obrigada a fazer e Yates acabou por ajudar ao estragar um pouco a estratégia da Movistar, que se viu obrigada a vir para a frente numa altura em que Froome ainda tinha companheiros para o ajudar, mas que não estavam a impor um ritmo que salvasse o terceiro lugar de Valverde, que nesta altura ainda estava ao lado de Quintana.

A luta a dois ficou para o Aubisque. Quintana atacou uma meia dúzia de vezes. Froome respondeu sempre e só uma vez ameaçou um contra-ataque, mas que rapidamente abortou. Deixou-se ir com o colombiano. Com o contra-relógio na antepenúltima etapa, os 54 segundos acabam por ser bons para o britânico. Porque não atacou? Parecia estar bem, mas também poderá ter aproveitado para fazer um jogo psicológico muito forte com Quintana.

O discurso do colombiano é de que precisa de três minutos de vantagem para sobreviver ao contra-relógio. Não será preciso exagerar, mas serão necessários mais de 54 segundos. Froome parece estar à espera do momento certo para roubar a camisola vermelha ao rival e esta sábado limitou-se a seguir o rival... até se chegou a meter ao seu lado. O "mind games" do ciclismo. Porém, claramente Quintana está bem. Muito bem. E ainda há montanha para explorar até ao contra-relógio de sexta-feira.

E aviso de Quintana para Yates e Chaves: não haverá mais liberdade como a que hoje foi dada. Para o colombiano esta vai ser uma corrida a dois.

Uma palavra para Alberto Contador, voltou a tentar, mas claramente as pernas não seguem a vontade do espanhol. O compatriota Alejandro Valverde pagou a factura de estar a fazer as três voltas num ano e caiu de terceiro para 19º, a 10:14 de Quintana. Um outro espanhol, Samuel Sánchez mostrou que aos 38 anos ainda tem algo para dar no objectivo de tentar o pódio na Vuelta.

O vencedor do dia foi Robert Gesink. Depois de ser obrigado a falhar o Tour por problemas físicos, onde seria líder, o holandês apareceu na Vuelta para ajudar Steven Kruijswijk, mas com o colega fora da corrida depois de ter embatido num poste não sinalizado, a Lotto-Jumbo procurava esta vitória e chegou na etapa rainha. Mais importante ainda, foi a primeira de Gesink numa grande volta. Kenny Elissonde (FDJ) foi segundo e lidera agora a classificação da montanha.

Etapa 15: Sabiñanigo - Sallent de Gállego / Aramón Formigal (118,5 quilómetros)


Etapa curta com os ciclistas a andarem grande parte do dia acima dos mil metros de altitude. É uma daquelas tiradas perfeita para ataques, mas dependerá de como estarão os corredores depois da super etapa de sábado. Além das subidas, as descidas podem fazer a diferença. A derradeira dificuldade tem apenas 4,6% de pendente média (10% de máxima), mas tem cerca de 14 quilómetros e termina perto dos dois mil metros de altitude.


Resumen - Etapa 14 (Urdax-Dantxarinea... por la_vuelta

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