29 de setembro de 2016

Um monumento para se batalhar pela vitória e pelos pontos da sobrevivência

É o último monumento. Mas Il Lombardia é este ano muito mais do que isso, muito mais do que uma corrida pela glória. É também uma corrida pela sobrevivência. Com as mudanças anunciadas pela UCI para 2017, nomeadamente quanto às licenças World Tour, nesta derradeira prova com pontos em jogo, Dimension Data, Giant-Alpecin, AG2R e mesmo a própria Lampre-Merida vão procurar somar os que lhe permitam ficar um pouco mais confortáveis no momento da atribuição das 17 licenças para os próximos dois anos, sabendo que são 18 equipas à procura do bilhete dourado. Mais do que uma vitória, neste sábado alguns ciclistas sabem que terão a responsabilidade de somar pontos e para tal terão de terminar nos dez primeiros.

Será portanto uma luta dentro da habitual luta pela conquista do quinto monumento do ano. Alberto Contador, Fabio Aru, Rigoberto Uran, Johan Esteban Chaves e Joaquim Rodríguez - que adiou a reforma para participar na corrida que conquistou em 2012 e 2013 - serão homens com ambição à vitória e perante o difícil percurso que terão pela frente, prevê-se espectáculo para os 241 quilómetros, entre Como e Bergamo (uma inversão relativamente à rota do ano passado).

Nairo Quintana e Chris Froome são as grandes ausências, já tendo ambos colocado um ponto final na temporada. Agradeceu Peter Sagan que assim tem garantido o primeiro lugar do ranking World Tour. Porém, a Lombardia atraiu grandes trepadores. Daniel Martin procura a sua segunda vitória e terá uma Etixx-QuickStep de luxo a acompanhá-lo e com mais cartas para jogar, como David de la Cruz - fez uma excelente Volta a Espanha, vencendo uma etapa - Gianluca Brambilla (ganhou etapas no Giro e Vuelta) e a estrela em ascensão Julian Alaphilippe.

Romain Bardet tem a responsabilidade de dar pontos que poderão ser importantes para a AG2R, sendo também um candidato à vitória, depois uma uma boa temporada que teve como prémio o segundo lugar no Tour. Outro francês, Warren Barguil está pressionado a terminar no top dez. O ciclista da Giant-Alpecin não teve a época desejada, mas parece estar em o boa forma nesta recta final, com um 25º lugar na Tre Valli Varesine e 10º na Milano-Torino, duas corridas vistas como preparação para a Lombardia.

Jarlinson Pantano (IAM) está em alta desde a Volta a França. Já tem um contrato garantido com a Trek-Segafredo, tem-se mostrado um lutador e será de esperar ver o colombiano ao ataque. Bauke Mollema (Trek-Segafredo), Robert Gesink (Lotto-Jumbo), Andrey Amador (Movistar) e John Darwin Atapuma (BMC) são outros nomes a ter em conta.

E depois temos a Sky. Mesmo sem Froome, Peter Kennaugh é hipótese, mas a equipa tem ainda Mikel Landa, Mikel Nieve, Leopold König e Nicolas Roche, todos ciclistas com características que podem assentar bem nesta corrida. E claro, Wout Poels, o gregário de luxo de Froome no Tour e que este ano deu o primeiro monumento à Sky na Liège-Bastogne-Liège. O holandês não se importaria nada de fazer uma dobradinha histórica para a equipa.

Quanto a antigos vencedores, além de Rodríguez e Daniel Martin, estarão presentes o suíço Oliver Zaugg (IAM) - ganhou em 2011 então pela Leopard Trek - Philippe Gilbert (BMC) - venceu em 2009 e 2010, na sua era de ouro na Lotto - e Damiano Cunego. O veterano ciclista italiano, 35 anos, soma três vitórias em 2004 (ano em que venceu também o Giro), 2007 e 2008, triunfos divididos entre a Saeco e a Lampre. Porém, há muito que Cunego está afastado do seu melhor, tendo reaparecido este ano na luta pela classificação da montanha na Volta a Itália. Agora na Nippo-Vini Fantini, nunca se sabe como esta corrida poderá mexer emocionalmente com Cunego e o italiano até poderá aparecer na luta. Vincenzo Nibali (Astana) não estará presente para tentar repetir o triunfo de 2016.

Ainda regressando à luta pelos pontos das equipas, enquanto umas batalham pela sobrevivência, a Tinkoff vai tentar fazer o pleno. Neste momento é a Movistar que lidera com 1431 pontos, mais 70 do que a formação russa. O primeiro lugar no ranking World Tour - e depois de garantido o individual por Sagan - seria uma despedida mais interessante, depois de ter falhado nas três grandes voltas, ainda que o eslovaco tenha dado a Oleg Tinkov um monumento: a Volta a Flandres.

Os portugueses

André Cardoso e Rui Costa estarão presentes

(Fotografia: Facebook Rui Costa)
Serão cinco, mas é em Rui Costa que se centram as atenções. O homem da Lampre-Merida entra no grupo daqueles com responsabilidade para somar pontos para a equipa e tendo em conta que já terminou em terceiro lugar, em 2014, Rui Costa é também ele candidato a um bom resultado. Sabe-se que tem um gosto especial pela Liège-Bastogne-Liège, mas a Lombardia é uma corrida que o pode favorecer.

Nelson Oliveira (Movistar), Tiago Machado (Katusha), Sérgio Paulinho (Tinkoff) e André Cardoso (Cannondale-Drapac) terão as habituais missões em apoiar os respectivos líderes.

O percurso

Este ano o pelotão começa com a belíssima vista do Lago Como e irá até Bergamo. Terá oito subidas pela frente, a maioria novas na competição. Uma inovação para refrescar uma prova que celebra a 110ª edição e talvez seja marcada por um pouco de chuva. Destaque para a ascensão a Valcava, com 11,6 quilómetros, com pendente média de 8%, mas com vários metros a mais de 10%. Algumas subidas serão curtas mas com pendentes complicadas. E atenção à curta subida já em Bergamo que será feita em pavé e que em 2015 foi onde Daniel Martin fugiu para conquistar a vitória à frente de Alejandro Valverde e Rui Costa.

A título de curiosidade, este ano não haverá a habitual "apresentação" do novo campeão do mundo, como aconteceu em edições anteriores. Devido à escolha de Doha como país anfitrião dos Mundiais, a prova foi adiada para Outubro, em vez de se realizar em Setembro, na tentativa dos ciclistas apanharem temperaturas mais amenas (na perspectiva do Qatar).

Il Lombardia poderá ser visto no Eurosport a partir das 14:45.


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