15 de setembro de 2016

71ª Volta a Espanha: Grandioso espetáculo que nos deixou ansiosos pela próxima edição

por Nuno Sabido


Quintana e Froome numa das muitas lutas que proporcionaram durante a Vuelta
(Fotografia: Team Sky)
A 71.ª edição da Volta a Espanha perdurará na memória dos adeptos, tal fora a paixão, entrega e devoção do pelotão interveniente.

Foram muitos, os momentos épicos proporcionados pelos 198 atletas presentes na partida para a 1.ª etapa, em Ourense. 

Dos ciclistas presentes, destaque para os cinco portugueses, Sérgio Paulinho, Tiago Machado, José Mendes, José Gonçalves e Mário Costa.

A motivação e a determinação deste pelotão eram elevadíssimas, o que motivou logo no 1.º dia, num contrarrelógio por equipas, um duelo entre duas das formações mais fortes e candidatas individualmente ao lugar mais alto do pódio. Duelo esse que viria a dominar a corrida até ao seu final em Madrid, 21 dias depois, passados 3.315.4 kms.

No final da 1.ª jornada, a equipa Britânica Sky viria a superiorizar-se por 28 centésimas de segundo, à sua rival Movistar. Peter Kennaugh, pela 1.ª vez na sua carreira, envergava a camisola vermelha, símbolo de liderança na corrida espanhola. 

Iriam suceder-se etapas terrivelmente exigentes, numa corrida que ano após ano, se torna mais e mais espetacular. Para além do Contra Relógio por equipas, aguardavam o pelotão;
5 Etapas “tecnicamente” menos exigentes, as quais viriam a proporcionar fantásticos sprints. 14 Etapas de montanha, 10 das quais com a meta coincidente com o Prémio de Montanha, com exibições heróicas, de cortar a respiração e um Contra Relógio individual que prometia “incendiar” a corrida.

A 8.ª etapa com final em La Camperona registou as 1.ªs diferenças de tempo, num duelo de titãs, que prometia continuar inspirador. Nairo Quintana mais rápido 16’’ que Alberto Contador, com Christopher Froome a cortar a linha de meta, 23’’ depois do colombiano, mas a 8’’ do espanhol.

Lugones, local de partida para a 10.ª etapa, a qual terminaria num local mítico, Lagos de Covadonga. Nairo Quintana voltaria a impor-se, ultrapassando muito perto da meta Robert Gesink. O holandês estava de volta ao seu melhor, mas o colombiano seria implacável. Christopher Froome com uma exibição “robótica” ultrapassa a linha de meta 25’’ depois, surpreendendo inclusivamente os seus fãs e permitindo que os mesmos continuassem à espera do melhor. O que aconteceu logo no dia seguinte.

Christopher Froome vence a 11.ª etapa, percorrida entre Colunga (Museu Jurássico) e Peña Cabarga, numa demonstração sublime. Contudo, sublime estava também o seu maior rival Nairo Quintana, que ao chegar “colado” ao inglês, protegia eficientemente a sua liderança. 

Contrariando todas as expetativas a 15.ª etapa, com uma extensão de 118.5 kms, entre Sabiñanigo e Aramón Formigal, seria a mais determinante nesta edição da Volta a Espanha. O italiano Gianluca Brambilla da equipa Etixx-Quick Step desferiu o primeiro “ataque”, não imaginando que passados 118 kms, seria ele o vencedor da mesma, influenciando diretamente, o que no final viria a registar-se como uma jornada épica, reproduzindo um dos melhores episódios da história do ciclismo mundial.

Aproveitando a velocidade inicial, a sua elevada experiência, a passividade da maioria do pelotão e a sua enorme vontade de vencer, Alberto Contador contra ataca, dando consequência a um imediato fracionamento do mesmo. Nairo Quintana que tem como mentor, o colega de equipa Alejandro Valverde, sendo este o ciclista mais completo e experiente de todo o pelotão, não hesita e segue na frente da corrida. Para trás fica Christopher Froome com a sua equipa, numa atitude passiva, talvez não se querendo precipitar. 

Em poucos quilómetros a vantagem para o grupo da frente, onde seguem os líderes de todas as equipas, à exceção de Christopher Froome da Sky e Esteban Chaves da Orica-Bike Exchange faz soar o alarme, contudo, tarde de mais para o inglês nascido no Quénia.
Na meta, Froome perde mais 2’37’’, o que o coloca na classificação geral, a 3’37’’ do líder da corrida, Nairo Quintana. Esteban Chaves, resultado da sua forma física e do enorme trabalho que a sua equipa produziu, concluiu na 9.ª posição, perdendo apenas 1’53’’.

No final do dia a classificação geral individual era a seguinte;
1.º Nairo Quintana 
2.º Christopher Froome, a 3’37’’
3.º Esteban Chaves, a 3’57’’
4.º Alberto Contador, a 4’02’’

Para uns os danos foram irreparáveis ou talvez não.

19.ª Etapa, Xábia-Calp, Contra Relógio individual, 37 kms, num percurso pouco ondulado.
Antes do início da Volta a Espanha, o colombiano Nairo Quintana declara publicamente que para vencer a Volta a Espanha, teria que partir para o Contra Relógio individual, com uma vantagem de 3’. A vantagem é superior, 3’37’’.

Christopher Froome “cilindra” todos os seus adversários, com uma exibição monumental, vencendo o crono. Ainda assim, não suficiente para subir ao trono. Alberto Contador sobe ao 3.º lugar na classificação geral, resultado de ótimo Contra Relógio individual.

Última oportunidade.

Benidorm-Alto de Aitana (Escuadrón Ejército del Aire), 20.ª etapa 193.2 kms. Quatro contagens de 2.ª categoria, com final de etapa numa contagem de categoria especial, 21 kms a subir para a meta. Não era previsível outro duelo que não fosse para o 1.º lugar. Contudo para espanto de todos, Alberto Contador, numa manobra tática em tudo semelhante à por si provocada na 15.ª etapa, foi desta vez a “vítima”. Não respondendo a um ataque de Esteban Chaves, a 50 kms da meta final, o espanhol perdeu 1’24’’ para o colombiano, que assim sobe ao 3.º lugar da classificação geral individual, com uma vantagem de 13’’.   

O colombiano Nairo Quintana 100% determinado em vencer a 71.ª Edição da Volta a Espanha foi 100% eficaz na resposta aos inúmeros e sucessivos ataques do 2.º classificado Christopher Froome.

Froome utilizou todas as suas capacidades físicas e mentais, aliadas a uma estratégia de equipa, com as quais procurou anular a desvantagem de 1’23’’. Todos os seus ataques foram em vão.

Seriam Quintana e a sua equipa Movistar que finalmente iriam desfilar na última etapa, a da consagração. A capital espanhola Madrid, num cenário nobre, acolheu no final de 21 dias de competição intensa, este grandioso espetáculo e deixou-nos a todos ansiosos pela próxima edição.


Best of - La Vuelta a España 2016 - ES por la_vuelta

Nuno Sabido foi ciclista durante 16 anos, tendo conquistado cinco títulos nacionais, entre outros triunfos. Foi técnico nacional e formador na UVP/FPC. Desempenhou também a função de formador na Federação de Triatlo de Portugal. Orientou equipas de formação e foi ainda professor de Educação Física. Há 17 anos que dirige o Centro de Treino Odibas. É também comentador de ciclismo na TVI.

Sem comentários:

Enviar um comentário