18 de outubro de 2017

Fabio Aru na UAE Team Emirates. Que papel terá Rui Costa em 2018?

(Fotografia: Facebook UAE Team Emirates)
Fabio Aru é o mais recente reforço de luxo de uma equipa que começou o ano com um dos orçamentos mais baixos do World Tour, mas que com a entrada de novos patrocinadores assumiu um poderio económico que já lhe permitiu garantir Alexander Kristoff e Daniel Martin. Nenhum destes ciclistas é barato! Também já estão garantidos Sven Erik Bystrom e Rory Sutherland. Aru estaria a pedir mais de dois milhões de euros por temporada, o que fez a Trek-Segafredo recuar na intenção de o contratar. Dinheiro à parte, a formação que pegou na estrutura da Lampre-Merida quer colocar-se rapidamente entre as melhores do World Tour e não está com medo de abrir os cordões à bolsa. No plantel já lá estão bons ciclistas, como Diego Ulissi, Ben Swift (um pouco apagado este ano, mas ninguém coloca em causa a sua qualidade), John Darwin Atapuma, Valerio Conti e Jan Polanc, por exemplo. E claro, está lá o campeão do mundo de 2013 e líder da equipa nas últimas quatro temporadas: Rui Costa.

Em 2013, o ciclista português juntou o título mundial às duas etapas conquistas no Tour. Para Rui Costa era a oportunidade de ouro para se afirmar numa negociação de contrato. A Movistar não iria dar-lhe uma liderança num Tour quando tinha Nairo Quintana e Alejandro Valverde. A então Lampre era a equipa que precisava de um líder para as corridas de três semanas, principalmente para a Volta a França. Não era a equipa mais forte do pelotão e há muito que se vinha a apagar, mas sempre ia conseguindo vitórias aqui e ali relevantes. 

Compreendeu-se a escolha do ciclista, contudo, a formação italiana nunca cumpriu com a obrigação de rodear Rui Costa de corredores que o apoiassem. Nelson Oliveira foi um fiel escudeiro, mas em 2016 também ele procurou novas oportunidades na Movistar. Rui tentou sozinho aquilo que muitos normalmente fazem apoiados por colegas. Se por vezes falhou, não foi por falta de tentativa de lutar contra a corrente, sozinho, sem ajuda de companheiros.

Não tem sido fácil para Rui Costa. Acabou por nunca mais repetir as exibições na Volta a França, naquele que era o seu sonho de terminar no top 10. Quando tentou antes conquistar etapas, andou perto, mas também não conseguiu. A Lampre acabou e depois das peripécias de um projecto chinês que não avançou e dos Emirados Árabes Unidos acabarem por ser a salvação, Rui Costa apareceu em 2017 de ambição renovada. Esqueceu o Tour e virou-se para o Giro e Vuelta. Em Itália esteve muito bem no objectivo de ganhar etapas. Só não esteve excelente porque três segundos lugares deixaram alguma frustração. Merecia mais. Porém, foi a confirmação de um grande arranque de temporada, com destaque para a conquista da Volta a Abu Dhabi, algo ainda mais relevante tendo em que era a nova casa da equipa.

Na segunda metade da época não apareceu tão bem e a Vuelta acabou por ser uma pequena desilusão. A corrida foi dura e Rui Costa não resistiu às subidas curtas e intensas que marcam a Volta a Espanha. O melhor que conseguiu foi um quarto lugar, ainda que o tenhamos visto activo em algumas fugas. No Mundiais tentou aparecer, mas o que fazer quando há um Peter Sagan...

Terão acabado as oportunidades de ser líder para o português? Rui Costa tem estatuto para manter a sua liderança em determinadas corridas, mas a sua posição fica muito enfraquecida nas grandes voltas e mesmo em algumas clássicas. O Tour será para Aru e Martin, numa situação que será interessante perceber como irão os responsáveis da formação gerir. Rui Costa poderá ter o seu espaço novamente no Giro, se Aru optar por se concentrar na Volta a França. Nas clássicas das Ardenas, o poveiro terá Martin à sua frente na hierarquia.

Rui Costa poderá assim ter de abraçar novamente a função de homem de trabalho. O seu contrato termina no final de 2018 e será um ano de reflexão para o português. Para continuar no World Tour terá, se calhar, de abdicar não por completo, mas quase, do seu desejo de ser líder. Estão a verificar-se alguns casos de ciclistas que não se importam de descer de escalão para garantir o seu estatuto. Warren Barguil, por exemplo, ainda que seja uma situação um pouco diferente (rei da montanha no Tour, vai para uma equipa francesa e assim deverá garantir o convite para a corrida rainha em 2018).

Ainda é cedo para se falar do que será de Rui Costa depois de 2018, mas para o ano terá de dividir as atenções com dois grandes nomes do ciclismo mundial, sabendo que em muitas corridas ficará em segundo plano. Claro que a determinação que marca este ciclista também poderá vir ainda mais ao de cima. Será um desafio, mas Rui Costa não irá deixar-se ficar para trás, habituado que está a partilhar os holofotes com grandes nomes, como aconteceu na Movistar. Uma oportunidade e lá estará ele, certamente, a demonstrar que continua a ser uma boa aposta numa UAE Team Emirates que sonha alto e não se importa de pagar por isso.

Haverá muitos egos para gerir, mas não é nada de novo a este nível no ciclismo. Aos 31 anos, Rui Costa entrará numa nova fase de uma brilhante carreira. Se estiver ao lado de Aru e Martin, será um elemento de elevada importância por toda a experiência que já tem, especialmente para o italiano. A inteligência táctica de Rui Costa é uma das suas maiores virtudes e Aru pode aprender muito com o português. A UAE Team Emirates irá apostar forte no Tour e é possível que jogue todas as suas armas nesta corrida. No entanto, ainda se quer ver mais deste ciclista com liberdade para lutar por vitórias. Falta-lhe também pelo menos uma clássica nas Ardenas, nomeadamente a sua querida Liège-Bastogne-Liège. Ganhar um monumento seria excelente. O problema será que Daniel Martin também o irá querer vencer...


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