(Fotografia: Jérémy-Günther-Heinz Jähnick/Wikimedia Commons) |
Estamos naquela altura do ano em que muitos ciclistas se despedem das equipas antes de se mudarem para outras, enquanto outros vão dizendo adeus ao ciclismo. É o ciclo normal. 2017 marcou a despedida de dois dos grandes nomes dos últimos anos: Alberto Contador, nas grandes voltas, e Tom Boonen, um senhor das clássicas. Junta-se a esta lista de despedida Andrew Talansky, Adriano Malori, Tylar Farrar, Haimar Zubeldia, Thomas Voeckler... Por cá dissemos adeus a Rui Sousa e tão estranho será ver o pelotão nacional sem aquele que foi uma das maiores referências e, sem dúvida, uma voz de liderança durante tanto tempo. As razões das retiradas são diferentes, mas dentro do que é expectável. Umas porque simplesmente chegou o momento de sair, outras porque infelizmente a saúde não deixa o ciclista continuar (caso de Malori, por exemplo). Mais cedo ou mais tarde toca a todos os profissionais. Porém, há um motivo que mete raiva. Mete raiva a quem gosta de ciclismo e ainda mais quando até se aprecia o corredor: abandonar devido a um positivo de doping.
Samuel Sánchez pode não ter sido um daqueles ciclistas de grandes vitórias, mas foi um dos rostos de uma Euskaltel Euskadi que tanto se destacava nas corridas em que participava. Atacava, mexia com a corrida, os seus ciclistas não tinham ordens para estar quietos. Sánchez era um irreverente por excelência. Preferia falhar a tentar, do que nem sequer tentar. Desde 2008 que ostentou uma marca dourada no seu equipamento e capacete, símbolo possível para distinguir um campeão olímpico. Mas no seu currículo tem ainda uma Volta ao País Basco, uma Volta a Burgos, um Grande Prémio Miguel Indurain, um segundo lugar no Tour em 2010 - depois das desclassificações de Contador e Denis Menchov - e cinco etapas na Volta a Espanha. São algumas das 29 vitórias de um ciclista que muito prometeu, contudo, com o passar dos anos, se foi tornando num eterno animador e não tanto num candidato, no que diz respeito às grandes voltas.
Já se fala no passado. Sánchez foi um ciclista que entusiasmava ver quando estava em forma. Este ano, aos 39, ponderava abandonar depois da Volta a Espanha. Provavelmente não teria a despedida emocional de Alberto Contador, mas certamente que os seus muitos adeptos no país lhe prestariam a homenagem merecida. Não. Sánchez sai pela porta pequena, rodeado de uma suspeita que manchará a sua reputação.
O ciclista de Oviedo acabou por nem anunciar se iria ou não terminar a carreira na Volta a Espanha. O caso de doping foi revelado pouco antes da corrida começar. Foi suspenso, mostrou-se surpreendido e chegou a dizer porque haveria de aos 39 anos recorrer a substâncias ilegais. A contra-análise confirmou o primeiro teste. A BMC despediu de imediato Sánchez. Fim de carreira? A este nível será certamente. Mas será provável que seja o fim a qualquer nível.
Sánchez foi apanhado com a mesma substância hormonal - GHRP-2 - que "tramou" Stefano Pirazzi e Nicola Ruffoni, ambos ciclistas da Bardiani-CSF, entretanto despedidos, que foram afastados do Giro, no dia antes da corrida começar. O primeiro já tem o seu caso concluído: quatro anos de suspensão. Não se espera que a mão seja muito mais leve para Sánchez.
Ao espanhol resta tentar limpar como puder o seu nome. Ainda antes de se conhecer o resultado da contra-análise, surgiu a notícia que um problema de saúde poderia ter provocado o positivo. É com uma razão como esta que Ruffoni tenta lutar pela sua carreira, o que é compreensível, já que só tem 26 anos. Para Sánchez resta pouco mais do que tentar que seja recordado pelo que fez na estrada e não pela forma como foi afastado dela. Será talvez a sua última luta como ciclista: defender a sua longa carreira, mesmo que ela tenha agora terminado... por doping. Que desilusão...
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