24 de outubro de 2017

UCI receia que rádios possam ajudar apostas ilegais. Novo presidente quer proibi-los em algumas corridas

(Fotografia: Federação Francesa de Ciclismo/Wikimedia Commons)
No que diz respeito a palavras, o novo presidente da UCI, David Lappartient não se está a poupar. Quer mudar regras e até quer que o chamado doping mecânico seja mesmo considerado um crime. Desde que foi eleito durante nos últimos Mundiais, em Setembro, Lappartient tem estado activo em revelar as suas intenções e agora relança um velho debate: o uso de rádios. De quando em vez lá regressa a discussão sobre a utilização desta tecnologia, mas desta agora vai muito mais além de uma disputa entre aqueles que defendem um ciclismo mais puro, digamos assim, e os que apoiam a evolução tecnológica que acompanha qualquer modalidade. O dirigente avisa que há o perigo da utilização dos rádios puderem facilitar apostas ilegais na internet.

"Pode-se comunicar directamente com o ciclista durante a corrida. Oficialmente a ligação parte do carro da equipa para o corredor, mas tecnologicamente não há nada que previna que eu ou você ouça quem veste a camisola amarela no Tour, certo?" A expressão levou a que fosse de imediato questionado se David Lappartient estava a sugerir que um ciclista como Chris Froome, por exemplo, poderia ir mais rápido ou devagar porque alguém teria feito uma aposta. Para o responsável não há dúvidas que a resposta é sim.

"As apostas desportivas são como um iceberg. 90% são ilegais e acontecem por baixo da linha de água. É assim no futebol, ténis ou andebol", referiu Lappartient em entrevista ao jornal belga Het Laatste Nieuws. Considerando que pode-se tornar um problema grave, o dirigente quer agir: "Não quero chegar ao dia em que o ciclismo, quando tiver saído do buraco do doping e de ter com sucesso combatido a fraude mecânica, estar dominado pela corrupção e escândalos de apostas. A UCI não tem um único artigo nos seus regulamentos."

Lappartient frisou que não quer que pensem que o organismo é débil no combate à fraude tecnológica, pelo que a utilização dos rádios entra desde já na sua agenda e nos próximos Mundiais, em Innsbruck, na Áustria, poderão ser proibidos. "Os ciclistas não precisam de tanta informação", defendeu, acrescentando que também irá aplicar a mesma medida noutras competições. Não há dúvidas, o debate está mesmo relançado e é de esperar reacções.

Mal foi eleito, o novo presidente disse logo em plenos Mundiais que queria acabar com o contra-relógio por equipas nesta competição, mas essa é apenas pequena decisão comparada com outras. Lappartient quer acabar com o uso de corticóides e do medicamento Tramadol (ajuda a aliviar as dores). O dirigente considera que é necessário "agir urgentemente contra o mau uso de cortisona", dizendo que a WADA (agência mundial anti-doping) não lhe consegue informar se os ciclistas que a usam estão a ter uma performance mais baixa. "Se estivessem, não a usariam", afirmou. Lappartient alerta que em causa está a saúde do ciclista, mas a UCI apenas poderá tentar convencer a WADA a integrar as substâncias em causa na lista de produtos proibidos, não podendo ela própria os banir.

Em mais uma luta, Lappartient quer ter a certeza que ninguém está a decorrer ao doping mecânico no pelotão. Com notícias recentes a darem conta que as actuais formas de detecção podem não ser eficazes, Lappartient não só quer garantir que quem tente enganar seja apanhado, como quer que seja julgado como um criminoso. "Está a fazer batota contra aqueles que jogam de forma limpa. O dinheiro que ganha assim é à custa dos ganhos dos outros. Isso é um roubo", defendeu.

O mandato ainda agora começou, depois de ter derrotado nas eleições o então presidente Brian Cookson, pelo que há que esperar para ver quando Lappartient passa das palavras aos actos.

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