(© João Calado/Federação Portuguesa de Ciclismo) |
Não era a história que Ivo Oliveira gostaria de contar sobre o seu primeiro ano no World Tour. De dedicar-se à sua adaptação e afirmação ao mais alto nível, o ciclista português viveu uma incerteza que foi além de eventualmente a sua carreira terminar precocemente. Ivo contou como correu o risco de nem sequer voltar a andar depois da queda que sofreu durante um treino. Porém, das palavras dos médicos e feita que está a recuperação - até já se sagrou campeão nacional de omnium em Dezembro -, há que realçar esta afirmação: "Dizem-me que posso sonhar com anos melhores do que já tive."
Aos 22, já muito se escreveu sobre as conquistas de um corredor que, ao lado do irmão, cresceu na pista, algo que não era habitual no ciclismo em Portugal, sempre mais dedicado à vertente de estrada. Ivo conquistou várias medalhas, incluindo de ouro, em juniores e sub-23 e como elite foi vice-campeão mundial de perseguição individual, a sua especialidade, que faz dele um potencial contra-relogista de sucesso, quando se fala da vertente de estrada. Já tinha sofrido algumas quedas, mas nada comparado com a de Abril de 2019.
Na UAE Team Emirates, Ivo e o irmão gémeo Rui iniciaram a mais do que esperada carreira no World Tour. Enquanto Rui realizou uma boa temporada, mostrando evolução, a história de Ivo é outra. Na queda em Abril, perto de casa, fracturou o côndilo occipital esquerdo, um osso na base do crânio. "Nos primeiros dois meses não foi fácil mentalmente, pois faltava saber se seria operado. A fractura não estava a consolidar durante esse tempo. Sabia que, se fosse operado, tinha de deixar a profissão. Já não podia andar mais de bicicleta e havia a possibilidade de nunca mais andar. Em casa, foi duro: tive pessoas a dar-me banho, enfermeiros a cuidar de mim, a minha namorada também", contou o ciclista de Gaia ao jornal O Jogo.
Ivo Oliveira confessou que passou a dar mais valor às pequenas coisas da vida e o ciclismo também é agora visto de outra forma. Dois meses depois do acidente, Ivo revelou fotografias que mostravam que ainda usava um colar cervical. Na altura, nas redes sociais, explicou que tinha sofrido uma queda, mas não revelou muitos pormenores sobre a incerteza que vivia. Não surpreende que Ivo considere o dia em que recebeu a notícia que não seria operado e que não corria o risco de ficar numa cadeira de rodas, um dos melhores da sua vida. Tinham passado três meses e um mais tarde, o ciclista tirou o colar cervical e iniciou a fisioterapia, que poderá ter de fazer para o resto da sua vida.
Estes são daqueles momentos que muitas vezes demonstram o carácter de um atleta fora da competição. Ivo Oliveira dedicou-se à sua recuperação, que foi mais rápida do que a esperada. No início de Outubro, seis meses depois da queda, regressou às corridas. Não houve pressão de resultados, o objectivo foi iniciar o processo de retomar a sua carreira. Fez quatro clássicas, não terminou três e chegou fora do tempo limite em Gran Piemonte, mas completou as seis etapas da Volta a Guangxi, na China, derradeira corrida do calendário World Tour. As indicações começavam a ser boas. No Velódromo de Sangalhos, quase uma segunda casa para Ivo Oliveira, o corredor conquistou um título nacional que certamente lhe dará uma motivação extra para o que será um recomeço, um tentar continuar a sua evolução que foi interrompida em Abril.
Os responsáveis da UAE Team Emirates olham para os gémeos Oliveira como parte do futuro de uma equipa a reforçar-se cada vez mais com jovens talentos. Mas o regresso de Ivo à boa forma é também uma boa notícia para a Equipa Portugal, que continua dedicada em garantir uma qualificação inédita para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Nunca o país teve representado na pista e procura uma vaga nas disciplinas de omnium e madison.
Esta não era a história que Ivo quereria contar no seu primeiro ano de World Tour, mas o ciclista tornou-se em mais um exemplo de superação e agora só pensa em tornar realidade o que os médicos lhe disseram: viver os seus melhores anos no ciclismo.
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