20 de janeiro de 2020

Os portugueses no World Tour

O contingente português no World Tour ficou mais curto, mas, ainda assim, é mais um exemplo do que está a acontecer no pelotão internacional: os mais jovens estão a conquistar o seu espaço. Dos seis lusos, quatro têm 25 anos ou menos. Já duas das principais figuras do ciclismo nacional na última década continuam a sua carreira ao mais alto nível, depois de terem renovado pelas respectivas equipas por mais duas temporadas. É o caso de Nelson Oliveira e Rui Costa.

Entre os mais novos, o destaque deste início de 2020 é a estreia de João Almeida. Tal como os restantes três jovens portugueses no World Tour, esteve dois anos na formação americana da Hagens Berman Axeon antes de dar o salto. E que salto! O campeão nacional de fundo e contra-relógio de sub-23 entrou para a equipa que mais ganha, é a dominadora das clássicas (principalmente do pavé) e que chega a qualquer outra corrida quase sempre a somar triunfos. E praticamente todos os seus ciclistas têm oportunidades para brilhar.

Recorde-se que José Gonçalves e Amaro Antunes despediram-se do World Tour no final de 2019, o primeiro depois de três anos na Katusha-Alpecin e o segundo apenas após uma época, a que a CCC subiu ao escalão mais alto. Gonçalves está na francesa Nippo Delko One Provence (ProTeam) - que já havia representado em 2013 e 2014 - e Amaro regressou à W52-FC Porto (Continental).

© Deceuninck-QuickStep
João Almeida (21 anos, Deceuninck-QuickStep, estreante no World Tour)
É o primeiro dos portugueses a entrar em acção em 2020. Ou melhor, já entrou, pois no domingo participou na clássica Schwalbe, corrida de apenas 50 quilómetros integrada no programa do Tour Down Under. Mas é esta prova australiana que abre oficialmente o calendário World Tour, na madrugada desta terça-feira. João Almeida vai ter tempo para se adaptar à competitiva realidade não só desta categoria, mas de uma equipa sempre sobre intenso escrutínio. No entanto, a Deceuninck-QuickStep é uma formação que dá tempo às suas jovens apostas para evoluírem, com pouca pressão, dando oportunidades para começarem a mostrar-se ao seu ritmo. O português é um ciclista que tem potencial para as provas por etapas, mas há clássicas que lhe assentam bem. No seu currículo está a vitória na Liège-Bastogne-Liège de sub-23 em 2018. Almeida surge na imprensa especializada como um dos os estreantes a seguir com atenção em 2020. 

© UAE Team Emirates
Ivo Oliveira (23 anos, UAE Team Emirates, segunda temporada no World Tour)
Não foi uma primeira época para recordar. A queda num treino em Abril foi de tal forma grave que o ciclista correu o risco de não voltar a andar. Conseguiu recuperar, acabou o ano a sagrar-se campeão nacional de omnium no Velódromo de Sangalhos e agora quer continuar em 2020 a afirmação interrompida. Vamos vê-lo na Volta ao Algarve e na UAE Team Emirates continua a ser considerado como um dos talentos jovens que a equipa quer desenvolver e inclui-lo no núcleo duro que, no futuro próximo, torne a equipa numa das mais fortes no World Tour. O contra-relógio poderá ser um dos seus pontos fortes quando chegar a altura de lutar por resultados pessoais, mas começará por ser um ciclista que trabalhará muito para a equipa. Consoante a sua evolução, poderá surgir alguma oportunidade para se destacar e Ivo não quer perder mais tempo em mostrar todo o talento mais do que reconhecido apesar de ter apenas 23 anos.

© UAE Team Emirates
Rui Oliveira (23 anos, UAE Team Emirates, segunda temporada no World Tour)
Ao contrário do irmão gémeo, Rui teve uma época de estreia muito positiva. Conseguiu afirmar-se como um elemento importante a trabalhar para os líderes, principalmente na preparação de sprints. Jasper Philipsen (que também esteve na Hagens Berman Axeon) foi um dos ciclistas que beneficiou do grande trabalho realizado por Rui em algumas corridas. Infelizmente para o jovem corredor de Gaia, a temporada começou com uma queda na pista. A clavícula partida é um revés para um ciclista que queria começar apostar na primeira metade da temporada, também a pensar na possibilidade de ser chamado para a Volta a Itália, pois está pré-convocado. Porém, apesar da lesão, Rui mantém-se optimista que poderá ter um bom 2020. O plano de continuar a evoluir e de conquistar o seu lugar na equipa continuará intacto, mesmo que corra o risco de ver adiado o objectivo de se estrear numa grande volta. Poderá ter de mudar o calendário (já não estará na Volta ao Algarve), mas não muda a sua atitude de lutador, de quem quer sempre estar ao seu melhor.

© EF Pro Cycling
Ruben Guerreiro (25 anos, EF Pro Cycling, quarta temporada no World Tour)
Guardou para o final 2019 o melhor e aquela Vuelta pode marcar a carreira de Ruben Guerreiro. Apesar de já ir para o seu quarto ano no principal escalão, os primeiros dois foram marcados por muitos altos e baixos. Tanto aparecia a confirmar expectativas, como uma queda ou um problema de saúde, atrasavam a sua afirmação. Na Katusha-Alpecine estabilizou um pouco e a exibição na Volta a Espanha despertou novamente o interesse das equipas. Regressa a uma formação americana (além da Hagens Berman Axeon, estreou-se no World Tour na Trek-Segafredo) que lhe dará liberdade para perseguir os seus resultados em várias corridas, mas não se livrará também de algum trabalho para companheiros. O campeão nacional de 2017 não esconde o desejo de apostar nas três semanas. Admitiu que não sabia o que poderia fazer em provas tão longas, mas a Vuelta não só lhe aguçou o gosto por estas corridas, como lhe deu confiança que pode alcançar bons resultados.

© Photo Gomez Sport/Movistar Team
Nelson Oliveira (30 anos, Movistar, 10ª temporada no World Tour)
É uma peça fundamental da Movistar, que representa desde 2016. Num ano atípico com muitas entradas e saídas de ciclistas na equipa espanhola, a importância do português foi mais uma vez notória com a renovação de contrato por mais duas temporadas. Apesar de ser um ciclista de trabalho, função que continuará a ser a sua principal na Movistar, tem voz para também conseguir ter um calendário que lhe agrade. Com os Jogos Olímpicos a poucos meses, Nelson Oliveira preferia deixar de parte a Volta a França, que termina apenas seis dias antes da corrida de fundo olímpica. Concretizou o desejo e vai ao Giro, com a Movistar a dar a oportunidade do português gerir a sua forma física para estar bem em Tóquio, a pensar mais no contra-relógio. Mas antes dos Jogos, a Movistar sabe que terá sempre o melhor e leal Nelson na ajuda aos seus líderes.

© UAE Team Emirates
Rui Costa (33 anos, UAE Team Emirates, 12ª temporada no World Tour)
Dos seis portugueses no World Tour, três estão na UAE Team Emirates. A equipa até pode estar a apostar cada vez mais em jovens talentos, mas não abdica em ter ciclistas experientes. Rui Costa renovou por mais dois anos e vai para o seu sétimo na estrutura, contando com o tempo em que era a Lampre-Merida. Já não é um dos líderes, mas não significa que ficará relegado apenas ao papel de apoio. Já na Volta ao Algarve terá a oportunidade de lutar pela vitória, situação que deverá acontecer noutras corridas, como a muito desejada Liège-Bastogne-Liège, uma das clássicas preferidas do campeão do mundo de 2013. Neste caso, provavelmente irá partilhar a liderança. Tal como Nelson Oliveira na Movistar, Rui Costa tem estatuto na equipa para conseguir "negociar" um calendário que lhe permita lutar por objectivos pessoais que incluem a selecção nacional. Também vai apostar forte nos Jogos Olímpicos, ficando Rui com a responsabilidade de ir atrás da medalha olímpica na corrida de fundo. Com a UAE Team Emirates a rechear-se de ciclistas fortes, Rui Costa pode ter um papel diferente de há uns anos, mas é ainda assim importante e jovens como os gémeos Oliveira só têm a beneficiar da experiência do poveiro.

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