30 de janeiro de 2020

Kiryienka forçado a antecipar final de carreira

© Filip Bossuyt/Wikimedia Commons
Camisola aberta, ritmo certo, uma locomotiva que arruinava tantos dos adversários dos seus líderes na então Sky. O trabalho de Vasil Kiryienka tornou-se uma referência na equipa que tem dominado a Volta a França, tendo sido muito importante nas vitórias de Chris Froome. Quando a montanha chegava, lá estava ele a colocar aquele ritmo infernal para tantos, que se tornou numa imagem de marca. Era difícil atacar quando o bielorrusso estava na frente do pelotão. Aos 38 anos já preparava a sua retirada, mas queria competir mais uma temporada. Porém, uma anomalia cardíaca antecipou o adeus ao ciclismo de um atleta que também teve os seus momentos de glória, como o título mundial de contra-relógio em 2015. Porém, é inevitável ser lembrado como um como um dos melhores gregários.

A época passada já tinha ficado marcada por algumas semanas de afastamento devido ao problema que agora força a sua reforma. Ainda assim, conquistou mais uma medalha no esforço individual. Ficou com o ouro nos Jogos Europeus que se realizaram no seu país, relegando o português Nelson Oliveira para a segunda posição. Já tinha ficado de fora dos dois últimos Tours, ganhos por Geraint Thomas e Egan Bernal, mas continuava a ser visto pela Ineos como um elemento importante.

"É uma desilusão para o Kiry e para nós como equipa. Ele é verdadeiramente um dos melhores ciclistas de equipa da sua geração. Quando um corredor numa fuga olhava para trás e via o Kiry de camisola aberta na frente do pelotão, a liderar a perseguição, sabia que o seu tempo tinha terminado", salientou Dave Brailsford. O director geral da Ineos acrescentou que, apesar de ser "uma decisão difícil, é obviamente a mais correcta".

Kiryienka reforçou isso mesmo: "É um dia muito triste para mim, mas é a decisão certa, baseada no conselho que me foi dado pela equipa médica. Tive uma carreira maravilhosa e desfrutei todos os minutos com esta equipa. Foi uma viagem incrível e estou tão agradecido por todo o apoio que recebi durante a minha carreira", afirmou o ciclista, em declarações publicadas no comunicado da Ineos.

Como acontece com os gregários, as suas carreiras não podem ser reduzidas apenas a números, pois se escassearam as vitórias, foram muitas e muito importantes aquelas que ajudou outros a alcançar. No entanto, tem algumas a destacar além das já referidas, como as três etapas no Giro (em 2008, 2011 e 2015) e uma na Vuelta (2013), mais uma na Volta ao País Basco, tendo sido campeão nacional de contra-relógio em cinco ocasiões. Ao todo foram 18 triunfos como profissional.

Participou em 20 grandes voltas (sete Giros e outros tantos Tours, mais seis Vueltas). Esteve em três das quatro vitórias de Chris Froome na Volta a França e foi ainda um dos gregários do britânico no Giro que este conquistou em 2018.

Mas a sua capacidade de trabalho despontou antes da sua ida para a Sky. Kiryienka chegou ao World Tour em 2007 pela mão da Tinkoff e dois anos depois mudou-se para a actual Movistar (então Caisse d'Epargne), onde esteve quatro anos. E logo nesse 2009 esteve ao lado de Alejandro Valverde quando o "Bala" venceu a Volta a Espanha.

"Ele tinha uma forma única de manter a parte superior do corpo sólida e gerar uma enorme potência, hora após hora. A única coisa que mudava durante o seu esforço metronómico era o rosto, quando ele procurava as profundezas da energia, dando tudo pela equipa, dia após dia", salientou Brailsford.

Kiryienka pretendia realizar uma última temporada e despedir-se no final de 2020. A saúde obrigou a uma mudança de planos e tornou-se no segundo veterano a ser forçado a terminar a carreira. Por razões bem diferentes, Bernhard Eisel colocou um ponto final ao não encontrar equipa aos 38 anos. A NTT (antiga Dimension Data) não renovou e apesar do desejo de competir mais uma época, Eisel disse adeus. Foi também um ciclista com algumas vitórias importantes, mas destacou-se principalmente no trabalho para os sprinters, tendo sido um fiel companheiro de Mark Cavendish.

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